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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Será que compensa comprar apenas uma parte de um imóvel?

9 de setembro de 2024

Não é uma opção que se veja com muita frequência, mas, de quando em vez, fala-se da possibilidade de compra parcial de um imóvel como algo que pode se feito para quem quer investir e não tem muito dinheiro disponível.

Confesso que não tenho quaisquer dados disponíveis e, como tal, não sei sequer se isto é uma tendência em Portugal, uma moda ou algo que é visto apenas como um perfeito disparate. O meu propósito, nas próximas linhas, é tentar explicar porque é que esta opção pode ser, ao mesmo tempo, um risco e uma oportunidade.

À primeira vista, comprar parte de um imóvel, pode ser uma boa ideia. No final de contas, procurar uma casa em Portugal tornou-se um verdadeiro desafio, principalmente nas maiores cidades, onde os preços subiram de forma vertiginosa e não se vislumbra qualquer tendência para descer. E é aí que a compra parcial de um imóvel pode ser uma possibilidade a considerar. A começar porque estaremos sempre a falar de valores mais acessíveis.

Comprar apenas uma fração de um imóvel pode ser consideravelmente mais barato do que adquirir uma casa completa e pode ser visto como uma excelente opção para quem tem um orçamento mais limitado. Agora, claro está, tudo depende do nosso propósito na aquisição. Se a intenção for o investimento, adquirir uma parte de um imóvel, mesmo que este esteja em más condições ou em disputa, tal pode, eventualmente, resultar num ganho significativo a médio ou mesmo longo prazo, principalmente se estivermos a falar em zonas de alta procura.

Por outro lado, e tendo o investidor tempo e capacidade financeira do seu lado, poderá, aos poucos, consolidar a sua posição no investimento inicial, negociando com os outros coproprietários a possibilidade de adquirir mais frações ou até mesmo a totalidade do imóvel. E o que começou por ser apenas um pequeno investimento, pode transformar-se numa aposta séria que, a longo prazo, poderá ser bem interessante.

No limite, esta estratégia de compras parciais pode ser diversificada. Aposta-se pouco de cada vez, diversifica-se o portfólio e gere-se esta carteira de ativos como se uma carteira de ações se tratasse, vigiando a sua valorização e estando atento a eventuais quebras.

Mas, porque não convém só escrever sobre a parte boa, quem avançar por estes caminhos tem de ter a noção que esta é uma estratégia que envolve riscos. A começar pelo facto de muitos destes imóveis disponíveis para serem comprados às postas apenas o estão nesta condição porque há problemas de heranças ou de partilhas. Quem vende quer apenas libertar-se de uma enorme dor de cabeça. E quem compra sabe que terá uma dor de cabeça para resolver, mas acredita que poderá saber lidar com esta. Mesmo com riscos de litígios legais a serem uma séria possibilidade.

Acresce ainda que, e, muitos casos, estas compras são “cegas”, ou seja, o comprador não tem a possibilidade de visitar o imóvel antes da compra. Ou seja, poderá ser adquirido algo sem que se tenha o conhecimento do seu estado real, o que pode ser, a todos os níveis, um problema.

E há ainda outra coisa: não é porque temos 20% de um imóvel que vamos ter o direito de o habitar, especialmente se houver outros coproprietários com a mesma vontade. No limite, se todos os coproprietários quiserem usar este imóvel para habitação, isto pode traduzir-se numa situação impossível de gestão de sensibilidades e tornar a utilização do imóvel impossível.

E depois, claro está, há que contar com a dificuldade em revender, porque nem todos podem estar de acordo no timing do negócio, e também com os custos inerentes de ter um imóvel (manutenção e impostos) que, embora sendo partilhados por todos, não deixam, no entanto, de existir.

Tudo somado, eu diria que há mais riscos do que vantagens em avançar para este tipo de investimento. Mas quem o fizer e tiver a resiliência para fazê-lo poderá, não obstante, vir a multiplicar o seu investimento. Será tudo uma questão de se fazerem as contas.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico