Preços do mercado imobiliário devem manter-se em 2024
Francisco Bacelar, vice-presidente da ASMIP - Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal, acredita que apesar de um ano incerto o mercado imobiliário irá manter-se menos aquecido, mas a funcionar. Na sua opinião, há habitações em falta, portanto haverá sempre procura. Com o aumento da oferta e alguma redução nas taxas de juro exisrem condições para, no mínimo, manter os negócios como até aqui e a mediação imobiliária passará por um ajustamento, natural depois da expansão que se viveu nos últimos anos.
O que se pode esperar para o mercado imobiliário em 2024?
Com eleições à porta e uma enorme incerteza sobre o seu desfecho, fica mais complicado fazer previsões, contando apenas com o plano interno. No plano externo, são vários os factores que podem influenciar o comportamento do mercado em 2024, começando pelas taxas de juro, passando pelas guerras e seus efeitos no comércio mundial, terminando nas eleições americanas, com a disrupção que poderão criar no xadrez da política mundial, e nos consequentes efeitos económicos.
Não obstante, e por maiores que sejam as influências externas, caso se confirme que as taxas de juro já atingiram o máximo, e que a inflação tende a ser controlada, deveremos assistir à manutenção de preços do mercado imobiliário, apesar do aumento da oferta a que se começa a assistir, mas em números insuficientes para gerar efeito inverso ao que vinha acontecendo.
Será, pois, um ano incerto e difícil em que poderemos passar de um extremo ao outro, consoante a evolução destes factores, mas diria que no essencial se manterá menos aquecido, mas a funcionar, como sempre funcionou a venda de qualquer produto essencial. Há habitações em falta, portanto haverá sempre procura. Com o aumento da oferta e alguma redução nas taxas de juro teremos condições para, no mínimo, manter os negócios como até aqui.
Quais as tendências para este ano que podem dinamizar a construção e o imobiliário?
Embora ainda não possamos dizer que já é uma tendência, parece-me que o incremento das novas formas alternativas de construção, mais económicas, rápidas, e sobretudo sustentáveis, seria a melhor dinamização que poderíamos ter. Falo da construção em LSF, madeira, etc. Permitem redução significativa nos custos, melhoram substancialmente a qualidade térmica das nossas casas, e reduzem a pegada carbónica. Não menos importante e porque a maioria da concepção é feita em fábrica, permitem redução significativa nos prazos de construção o que permitiria resolver o nosso problema habitacional em muito menos tempo.
Dito isto, esbarramos no problema de sempre, desde logo a elevada carga de impostos, como por exemplo o IVA. Uma casa destas, com 180m2, que se pode construir por cerca de 1.000 euros/m2, quando taxada com 23% de IVA, passa dos 180.000 euros para os 221.400 euros. Estamos a falar de um bem essencial que a Constituição reconhece como direito. Se foi possível reduzir o IVA na reabilitação, penso que estaria na hora de olhar para a construção, pelo menos de habitação própria, e reduzir estes valores, eventualmente com destaque positivo para a construção alternativa que melhore a eficiência e a sustentabilidade.
E as maiores dificuldades que o mercado pode enfrentar?
A instabilidade externa, que proporcione novos fluxos inflacionários, mantendo a incerteza e influenciando a manutenção, ou até novas subidas das taxas de juro, será certamente o que mais deveremos temer. No entanto, por mais complexo que possa ser o actual quadro, interno e externo, não me parece que cheguemos a esse ponto, antes pelo contrário, teremos em breve o regresso a níveis aceitáveis de inflação, e consequente descida das taxas lá mais para o final do ano. O resto dependerá do que o futuro nos reserva, com todas as variáveis em jogo.
Quais as perspectivas da mediação imobiliária para 2024?
A mediação imobiliária passará por um ajustamento, natural depois da expansão que se viveu nos últimos anos. Nada que nos meus 40 anos na actividade não tenha vivido por diversas vezes.
Em tempos de pujança, o sector é mais procurado e cresce em números de negócios, mas também de empresas e profissionais, portanto com muito mais concorrência.
Com algum arrefecimento, haverá um ajustamento onde sobrevivem os mais resilientes, mais capacitados e profissionais, que beneficiarão de menor concorrência.
Ou seja, em ambas as situações existem dificuldades, que obrigam a actualização permanente, trabalho apurado para resistir num mercado muito influenciado por factores externos, e em que os negócios não acontecem todos os dias.
Um dos nossos desejos seria a revisão da legislação para a qual demos contributos em 2020, mas continuamos a aguardar altura própria, que vai sendo adiada, fruto das mudanças governativas. Com essa revisão, teríamos mais qualidade formativa, melhores profissionais e empresas, mas continuamos pendentes, à espera que o projecto saia da gaveta.