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Opinião

Aline Guerreiro, arquitecta e CEO e fundadora do Portal de Arquitetura e Construção Sustentável

No dia Mundial da Arquitectura pede-se transição para a sustentabilidade

7 de outubro de 2024

O Dia Mundial da Arquitectura, instituído pela União Internacional dos Arquitetos (UIA), celebra-se todos os anos na primeira segunda-feira de outubro e é, cada vez mais, dedicado ao tema das alterações climáticas e produção de emissões de CO2 que lhes está associada.

O Portal de Arquitetura e Construção Sustentável (PCS) trabalha há mais de uma década para informar e consciencializar todos os intervenientes no sector da construção para uma construção mais sustentável, pois este sector é responsável por cerca de 40% das emissões de dióxido de carbono, por consumir 50% dos recursos naturais e por gerar 40% de resíduos sólidos.

Das emissões poluentes, cerca de 15% são da responsabilidade dos materiais de construção empregues, com uma pegada ecológica grande. No entanto, a Comissão Europeia (CE) já está a elaborar um regulamento sobre os Passaportes Digitais de Produtos (DPP), para que partilhem informações ao longo do ciclo de vida do produto, segundo indicadores de sustentabilidade. A sua aprovação final está prevista ainda para este ano e a sua implementação a partir de 2026/7. Em breve, será mesmo necessário optar por materiais de construção mais ecológicos, pois apenas um em cada cinco intervenientes nesta indústria, calcula sistematicamente a pegada de carbono de um projecto ou tem em atenção a escolha de materiais mais amigos do ambiente, o que é fundamental num edifício sustentável.

Por outro lado, o Governo tem vindo a promover, sob o chapéu do Fundo Ambiental, programas de apoio, para tornar os "Edifícios Mais Sustentáveis", que incidem mais fortemente na eficiência energética de um edifício. Mas a "Construção Sustentável" é muito mais do que isso. A sustentabilidade na construção, começa no estudo prévio e materiais prescritos na sua construção, só assim é possível combater a pegada de carbono implícita num edifício e reduzir, efectivamente, as emissões poluentes. O PCS apresenta de forma sucinta a comparação de alguns materiais comummente utilizados no sector, segundo indicadores de sustentabilidade, que também se explicam de seguida:

Durabilidade: Os materiais mais duráveis e que mantém as suas características inalteráveis ao longo dos anos, são, sem qualquer dúvida, muito mais sustentáveis, pois não implicam mais consumo de recursos para os manter. Portanto, quanto mais durável (dependendo do fim a que se destina), mais sustentável.

Reciclabilidade: Quase tudo é reciclável. Pelo que, afirmar que ser reciclável é ser sustentável é uma falácia, pois grande parte do mercado não absorve a reciclagem em downcycling (para um produto pior do que o original), e o produto final acaba por ter de ser descartado. O PCS defende que apenas a reciclagem para o mesmo fim, é realmente sustentável. Salvo exceções em que a incorporação do material reciclado, seja completamente absorvida pelo mercado.

Pegada de Carbono: Representa o volume total de gases com efeito estufa (GEE) gerado pela atividade de extração, produção e manutenção. Esta, pode ser positiva (poluente); neutra (não poluente) e negativa (não poluente e benéfica para o Ambiente). Significa, respetivamente que, o material tem emissões poluentes, as emissões poluentes são totalmente compensadas pela absorção das mesmas, o material absorve mais emissões poluentes do que aquelas que emite.

Capacidade de se renovar: um material que nos é dado pela natureza de forma completamente renovável, quer dizer que é possível extraí-lo sem prejudicar o ambiente, uma vez que se renova de forma natural. É o exemplo da cortiça, pois o sobreiro regenera-se de nove em nove anos, e a madeira, quando proveniente de florestas sustentáveis (todas as árvores que são extraídas, são novamente plantadas).

Contém petróleo: A produção de plástico tem de ser reduzida ao máximo. Segundo um estudo divulgado em Davos pelo The World Economic Forum, em 2050 haverá mais plástico no mar, do que peixes. Entre outros impactes ambientais negativos que tão bem conhecemos, como ser derivado de um combustível fóssil (com todos os impactes associados à sua produção) e o facto de poder levar até 400 anos para se decompor. No ambiente, este material pode prejudicar a decomposição de outros resíduos, reforçando a superlotação de aterros sanitários e até propiciando o aparecimento de aterros ilegais.

Não é difícil, portanto, compreender a importância do Dia Mundial da Arquitetura. Lembrar aos arquitetos que a transição para a sustentabilidade depende muito deste setor, pois o conceito de construção sustentável apesar de amplamente conhecido, ainda há uma falta de conhecimento generalizada sobre tudo o que ele implica.

Aline Guerreiro

Arquitecta e CEO e fundadora do Portal de Arquitetura e Construção Sustentável