Então achaste que ia ser uma boa ideia investir no Imobiliário em Portugal?
Nos últimos tempos tenho sido contactado por algumas pessoas, na sua maioria estrangeiros, que me têm perguntado se faz sentido e/ou ainda compensa investir no imobiliário em Portugal. Quando acho que o interesse é sério e legítimo, tenho encaminhado para consultores amigos, que fazem o mercado residencial e podem ter algumas opções relevantes. Mas, no meio do meu “desespero inspiracional” para encontrar temas todas as semanas para escrever, lembrei-me que seria interessante ter a “ousadia” de tentar colocar por escrito os desafios, as dificuldades, e as oportunidades de quem quer e tem vontade de investir no nosso País.
Comecemos pelo óbvio: não é de hoje, e sabemos bem (até pelo boom no sector) que o mercado imobiliário em Portugal tem despertado muito interesse, tanto de investidores nacionais quanto internacionais. Para isso terá certamente contribuído não apenas a sua localização privilegiada na Europa, mas também o clima agradável e a qualidade de vida. No entanto, apesar de todo este potencial de rentabilidade, o sector também apresenta desafios e riscos que é necessário ponderar.
Uma das principais vantagens de investir no mercado imobiliário português é o seu crescimento constante e a valorização dos imóveis, especialmente em cidades como Lisboa e Porto. Estas áreas urbanas (e as suas zonas limítrofes) têm registado aumentos significativos no valor dos imóveis, impulsionados pelo turismo e pela procura elevada. Por outro lado, programas que tiveram muito sucesso no passado, como o do estatuto de Residente Não Habitual (RNH) e os Vistos Gold acabaram por atrair investidores estrangeiros ao país, proporcionando benefícios fiscais e vantagens de residência que tornaram o investimento mais apelativo. E uns acabaram por chamar outros.
Outro ponto forte a ter em linha de conta é a estabilidade do mercado imobiliário em Portugal, que, mesmo em períodos de incerteza económica, tem mostrado uma certa resiliência, sobretudo nas zonas metropolitanas e turísticas. A rentabilidade dos arrendamentos também é um fator importante, dado o aumento da procura por alojamento turístico e a escassez de oferta em grandes cidades, o que gera retornos elevados para investidores que apostam no arrendamento de curta duração.
Mas nem tudo são boas notícias. O mercado imobiliário apresenta igualmente alguns inconvenientes e desafios, com o principal problema à cabeça a residir nos preços inflacionados dos imóveis, dificultando a tarefa dos investidores que procuram boas oportunidades de negócio, especialmente em zonas urbanas.
O mercado imobiliário nas grandes cidades está excessivamente dependente do turismo, o que representa um risco. Hoje Portugal está na moda, mas e quando tudo isso passar? E não precisamos de recuar muito no tempo para imaginar o que é Portugal sem turismo. Basta que nos lembremos o que aconteceu com o Covid e a pandemia, com inúmeros projetos, ideias e intenções de investimento acabarem por ficar na gaveta porque, por todos os motivos e mais alguns, tais apostas não eram oportunas.
E, claro está, há também que considerar o elefante na sala que todos temem, mas que ninguém quer pronunciar e que se chama bolha imobiliária. Não sei se já estamos a viver na bolha, se esta vai rebentar e se tal acontecer, se vai ser o fim do mundo. Há teses e teorias para todos os gostos, com alguns especialistas a alertarem para o risco de uma sobrevalorização dos imóveis, que pode resultar numa queda abrupta dos preços no futuro.
Isto para não falar, claro está, que há sempre o risco de desvalorização, especialmente em imóveis localizados em áreas menos dinâmicas ou em segmentos de mercado mais suscetíveis a crises económicas.
Investir no mercado imobiliário em Portugal pode ser bastante lucrativo, mas exige uma análise cuidadosa dos desafios e riscos envolvidos. E, pelo que vou falando com vários players do sector, não sei se todos os investidores que o fazem em Portugal estão conscientes destas dinâmicas associadas a um investimento que, a grande maioria, considera uma aposta segura.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico