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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Então achaste que ia ser uma boa ideia investir no Imobiliário em Portugal?

7 de outubro de 2024

Nos últimos tempos tenho sido contactado por algumas pessoas, na sua maioria estrangeiros, que me têm perguntado se faz sentido e/ou ainda compensa investir no imobiliário em Portugal. Quando acho que o interesse é sério e legítimo, tenho encaminhado para consultores amigos, que fazem o mercado residencial e podem ter algumas opções relevantes. Mas, no meio do meu “desespero inspiracional” para encontrar temas todas as semanas para escrever, lembrei-me que seria interessante ter a “ousadia” de tentar colocar por escrito os desafios, as dificuldades, e as oportunidades de quem quer e tem vontade de investir no nosso País.

Comecemos pelo óbvio: não é de hoje, e sabemos bem (até pelo boom no sector) que o mercado imobiliário em Portugal tem despertado muito interesse, tanto de investidores nacionais quanto internacionais. Para isso terá certamente contribuído não apenas a sua localização privilegiada na Europa, mas também o clima agradável e a qualidade de vida. No entanto, apesar de todo este potencial de rentabilidade, o sector também apresenta desafios e riscos que é necessário ponderar.

Uma das principais vantagens de investir no mercado imobiliário português é o seu crescimento constante e a valorização dos imóveis, especialmente em cidades como Lisboa e Porto. Estas áreas urbanas (e as suas zonas limítrofes) têm registado aumentos significativos no valor dos imóveis, impulsionados pelo turismo e pela procura elevada. Por outro lado, programas que tiveram muito sucesso no passado, como o do estatuto de Residente Não Habitual (RNH) e os Vistos Gold acabaram por atrair investidores estrangeiros ao país, proporcionando benefícios fiscais e vantagens de residência que tornaram o investimento mais apelativo. E uns acabaram por chamar outros.

Outro ponto forte a ter em linha de conta é a estabilidade do mercado imobiliário em Portugal, que, mesmo em períodos de incerteza económica, tem mostrado uma certa resiliência, sobretudo nas zonas metropolitanas e turísticas. A rentabilidade dos arrendamentos também é um fator importante, dado o aumento da procura por alojamento turístico e a escassez de oferta em grandes cidades, o que gera retornos elevados para investidores que apostam no arrendamento de curta duração.

Mas nem tudo são boas notícias. O mercado imobiliário apresenta igualmente alguns inconvenientes e desafios, com o principal problema à cabeça a residir nos preços inflacionados dos imóveis, dificultando a tarefa dos investidores que procuram boas oportunidades de negócio, especialmente em zonas urbanas.

O mercado imobiliário nas grandes cidades está excessivamente dependente do turismo, o que representa um risco. Hoje Portugal está na moda, mas e quando tudo isso passar? E não precisamos de recuar muito no tempo para imaginar o que é Portugal sem turismo. Basta que nos lembremos o que aconteceu com o Covid e a pandemia, com inúmeros projetos, ideias e intenções de investimento acabarem por ficar na gaveta porque, por todos os motivos e mais alguns, tais apostas não eram oportunas.

E, claro está, há também que considerar o elefante na sala que todos temem, mas que ninguém quer pronunciar e que se chama bolha imobiliária. Não sei se já estamos a viver na bolha, se esta vai rebentar e se tal acontecer, se vai ser o fim do mundo. Há teses e teorias para todos os gostos, com alguns especialistas a alertarem para o risco de uma sobrevalorização dos imóveis, que pode resultar numa queda abrupta dos preços no futuro.

Isto para não falar, claro está, que há sempre o risco de desvalorização, especialmente em imóveis localizados em áreas menos dinâmicas ou em segmentos de mercado mais suscetíveis a crises económicas.

Investir no mercado imobiliário em Portugal pode ser bastante lucrativo, mas exige uma análise cuidadosa dos desafios e riscos envolvidos. E, pelo que vou falando com vários players do sector, não sei se todos os investidores que o fazem em Portugal estão conscientes destas dinâmicas associadas a um investimento que, a grande maioria, considera uma aposta segura.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico