
Oriente Green Campus, no Parque das Nações, em Lisboa
Mercado de escritórios em Lisboa regista 15 a 20% de espaços Grade A
Entre 15 a 20% do stock de escritórios na cidade cumpre os critérios de classificação Grade A, revelando um claro desfasamento face às exigências actuais dos ocupantes e às novas estratégias de investimento, revela estudo da Savills.
O relatório da consultora indica que Lisboa atravessa uma fase decisiva no setor de escritórios, impulsionada por uma procura crescente por espaços modernos, sustentáveis e tecnologicamente equipados. No entanto, a escassez de oferta abre caminho a oportunidades de reabilitação e valorização de activos existentes.
A procura está cada vez mais orientada para edifícios com forte desempenho energético, boa conectividade e foco no bem-estar dos utilizadores. Os edifícios Grade A estão a afirmar-se como o novo standard, não só pela sua qualidade de construção, mas também pelo seu desempenho energético e certificações de sustentabilidade como BREEAM ou LEED. Esta pressão sobre a oferta tem impulsionado as rendas e fomentado o reposicionamento de edifícios Grade B.
Neste contexto, dois factores ganham destaque no processo de decisão: a eficiência, cada vez mais crítica na gestão de recursos; e os smart buildings, que representam a nova etapa além da sustentabilidade. Se as certificações ESG são hoje um requisito básico, cresce agora a exigência por edifícios inteligentes, preparados para integrar tecnologia avançada e soluções de inteligência artificial.
Centro vs. periferia: assimetrias na distribuição e pressão sobre a oferta
A distribuição territorial destes activos revela uma desigualdade acentuada. Os dados da Savills mostram que 58% dos escritórios construídos nas últimas duas décadas estão localizados em zonas como o Parque das Nações ou o eixo empresarial Lisboa/Cascais. Em contrapartida, áreas centrais como a Avenida da Liberdade, Saldanha ou Amoreiras mantêm uma oferta mais limitada. Esta assimetria tem pressionado as rendas nas zonas centrais, onde os valores para espaços Grade A já atingem os 35 euros/m².
Lisboa continua também a destacar-se como destino atractivo para empresas internacionais, especialmente nos setores da tecnologia, finanças e life sciences. Atualmente, cerca de 60% da ocupação de espaços Grade A é feita por empresas estrangeiras, que procuram edifícios alinhados com padrões globais de design, sustentabilidade e desempenho. As TMTs & Utilities representaram, nos últimos cinco anos, 32% da absorção neste segmento, evidenciando o papel crescente da inovação na dinâmica de mercado.
"A crescente preferência por escritórios sustentáveis, tecnologicamente preparados e com elevados padrões de conforto demonstra uma mudança estrutural na forma como as empresas escolhem e utilizam os seus espaços de trabalho. Esta transformação é alimentada não só por exigências regulatórias e metas ESG, mas também por novas dinâmicas laborais centradas no bem-estar e na retenção de talento. No contexto lisboeta, onde apenas 15 a 20% do stock atual cumpre os critérios de classificação Grade A, a necessidade de reabilitar e modernizar ativos existentes tornou-se premente. Lisboa tem todas as condições para se afirmar enquanto mercado de referência internacional, mas isso exige um compromisso sério com a renovação qualitativa do seu parque imobiliário. A capacidade de resposta a esta procura crescente dependerá, em grande parte, da agilidade com que se implementarem estratégias de reposicionamento e investimento em edifícios mais eficientes, adaptáveis e preparados para o futuro", revela Alexandra Gomes, Head of Research da Savills Portugal.
Luísa Noronha, Offices Associate da Savills Portugal, comenta: “O mercado de escritórios de Lisboa está a passar por uma mudança estrutural. A procura por espaços Grade A está a acelerar, mas apenas com uma pequena parte do parque imobiliário da cidade a cumprir atualmente os padrões e com poucos novos projetos em fase de desenvolvimento, a oferta está aquém dessa expectativa crescente. Acreditamos que o futuro do setor dos escritórios de Lisboa passa pela sua capacidade de equilibrar a oferta limitada de novos imóveis com uma onda de reposicionamento e remodelação. Só desta forma o mercado poderá permanecer competitivo, resiliente e atraente para inquilinos nacionais e internacionais nos próximos anos.”
“A procura por parte dos inquilinos está cada vez mais focada em projetos que ofereçam alta qualidade, certificações de sustentabilidade e localizações prime. A continuidade desta tendência observada há vários trimestres, reflecte uma preferência crescente pelas melhores localizações e pelos mais elevados padrões ESG - uma dinâmica que não só persiste, como também molda cada vez mais as estratégias dos inquilinos e dos proprietários. Como resultado, investir em espaços de elevada qualidade e preparados para o futuro já não é opcional, mas sim um imperativo estratégico para a relevância e competitividade do mercado a longo prazo”, explica Jarosław Pilch, Head of Tenant Representation, Office Agency da Savills Polónia.
A nova norma europeia e o valor dos espaços de qualidade
A nível europeu, os escritórios Grade A consolidam-se como o novo normal. Embora se preveja um aumento da oferta em 2025 (4,3 milhões de m²), a quebra prevista para 2026 (3,1 milhões de m²) - o nível mais baixo desde 2017 - reforça a urgência de reabilitar ativos existentes e garantir a resiliência do mercado. Estes espaços tornaram-se estratégicos, não só pela sua atratividade para talento qualificado, mas também pela sua capacidade de responder às metas ESG e de valorizar os ativos a longo prazo.
A sustentabilidade e o bem-estar assumem um papel central nesta valorização. Edifícios certificados apresentam reduções significativas nas emissões e no consumo de recursos. Os espaços com certificação WELL, por exemplo, estão associados a aumentos de até 28% na satisfação dos colaboradores. Entre 2020 e 2024, as certificações WELL aumentaram 300%, sendo que as de nível platina - o mais elevado - cresceram 73%.