Expectativas do sector imobiliário crescem com a chegada do Metrobus a Coimbra
O Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) só deverá arrancar no final de 2024, na vertente suburbana, mas, apesar de alguma desconfiança, o projecto já tem gerado algum impacto e expectativas no sector imobiliário da região.
Os 30 anos de um projecto que demora a chegar ao terreno pesam, mas, com o avançar da obra no terreno e a expectativa do arranque do troço suburbano no final de 2024, surge uma maior procura e interesse nas zonas futuramente servidas pelo SMM, uma rede de autocarros eléctricos em via dedicada, que vai servir Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra.
“Se mais apartamentos e casas houvesse, mais se vendia”, disse à agência Lusa Fernando Santos, presidente da Junta de Freguesia de Ceira, zona periurbana do concelho de Coimbra, que será servida pelo SMM.
A orografia complicada da freguesia não ajuda a gerar mais oferta de habitação, mas nota-se um aumento de procura por casas antigas e alguns investimentos em prédios, referiu.
Este responsável disse acreditar que, assim que o Metrobus estiver a funcionar, possam surgir mais investimentos, possivelmente acompanhados de alterações no Plano Director Municipal (PDM).
“Eu presumo que o metro irá acender algumas luzinhas para os investidores. É que Ceira está, em linha recta, a 1,5 quilómetros da Quinta da Portela [já na cidade de Coimbra] e há um diferencial de preço de cerca de 100 mil euros”, refere Fernando Santos.
Para a vereadora da Câmara de Coimbra com o pelouro do urbanismo, Ana Bastos, o Metrobus vai também contribuir “para uma maior densificação urbana no centro da cidade”, o que poderá motivar um regresso ao centro, nomeadamente à Baixa.
Para esta responsável, a revisão do PDM deverá ter esse princípio de concentrar e densificar, aproveitando também a rede de transportes públicos à disposição da cidade.
Ana Bastos referiu que, na frente ribeirinha, já há poucos terrenos expectantes, e disse esperar que a passagem do Metrobus naquela zona potencie sobretudo a requalificação na Baixa e uma ocupação diferente da avenida Fernão de Magalhães e zona envolvente.
"Assegurar a densificação do centro urbano..."
“Não podemos intervir muito na Fernão de Magalhães em concreto, mas, nas traseiras da avenida, haverá um novo arruamento que queremos que tenha uma ligação muito franca à frente ribeirinha”, aclarou.
Segundo Ana Bastos, têm também avançado “inúmeras reuniões de trabalho prévio com potenciais promotores” para assegurar a densificação do centro urbano, “particularmente nos espaços servidos pelo SMM”.
Para o gerente da agência imobiliária Arcada, Renato Branco, o impacto do Metrobus tem-se sentido nos últimos quatro a cinco anos, assim que as empreitadas começaram a avançar, especialmente em zonas periféricas, como Lousã e Miranda do Corvo, face à falta de construção nova e preços praticados em Coimbra.
Desde o arranque das obras, que as próprias agências imobiliárias têm usado a proximidade do Metrobus como bandeira, notou, salientando que, com o aproximar do fim das obras, há cada vez mais confiança em se usar o projecto como factor de atracção na hora da compra.
Sobre um aumento de investimento na Baixa de Coimbra, Renato Branco, disse acreditar que o Metrobus poderá ser uma oportunidade, mas a requalificação desses imóveis poderá demorar “cerca de dez a 15 anos até ser notório”.
Pronto... e a funcionar!
“Hoje, qualquer prédio com 300 metros quadrados de área bruta [na Baixa] nunca custará menos de 700 mil euros. Tem de haver algo que motive o investidor”, aclarou.
Também Marta Rio-Torto, directora-geral da Prabitar, considerou que se nota uma maior preocupação de quem compra em “fazer um investimento em zonas com um bom sistema de transportes e bons acessos”.
“O metro é uma mais-valia que é considerada e acho que temos ainda muita margem de crescimento nesse contexto”, disse.
Marta Rio-Torto explicou acreditar que, neste momento, já não há descrença face às obras que as pessoas veem e sentem todos os dias na cidade, “transformada num estaleiro”.
Já o director da Remax White Coimbra, Nuno Marques, mantém a descrença, depois das décadas da cidade a sofrer com o adiar do projecto.
“A não realização da obra arruinou muitas vidas e deu cabo de uma ligação histórica do ramal da Lousã”, criticou, escusando-se, por agora, a fazer referência ao Metrobus nos anúncios de imóveis.
“Só quando estiver pronto e a funcionar”, asseverou.
Lusa/DI