Estratégias de compras para o setor da construção
É inegável que, por definição, os departamentos de compras têm a obrigação de promover abordagens sistematizadas, com a implementação de linhas orientadoras e de processos conducentes à melhoria das margens das contratações, que permitam negociações em escala das necessidades recorrentes, como resultado da consolidação dos planos de compras das diversas obras.
Com efeito, a decisão estratégica de um departamento com estas valências, designadamente na perspetiva de uma construtora, em minha opinião, não poderá ser reduzida à gestão de expedientes, à compra de materiais e à contratação de serviços, ou até a atos isolados de negociação. Antes deverá ser parte integrante, estrutural e funcional das empresas, servindo de suporte aos departamentos de produção, como seus clientes internos preferenciais.
Ora, durante o período conturbado sentido nos últimos anos na área da construção, motivado diretamente pela crise pandémica e, nos anos subsequentes, pela guerra da Ucrânia, cuja instabilidade provocou, aliás, uma volatilidade incessante dos preços das matérias primas e, por consequência, dos custos de produção, que nunca recuperaram para os níveis que antecederam esses eventos, os desafios aumentaram de forma generalizada e, em particular, os departamentos de compra foram postos à prova, pela necessidade de “saírem da caixa”, ajustarem procedimentos e readaptarem conceitos.
A este propósito, julgo que, apesar de as oscilações estarem mais contidas, pois, reguladas pela lei da oferta e da procura, estabilizaram em alta, havendo uma perceção geral, e que já não nos é alheia, de que o grande desafio para o futuro é a estratégia definida para superar a demanda atual, que é fulcral para as empresas de construção civil, e que esperamos que se mantenha, quer por via do investimento privado quer pelo público. É de sublinhar que essa demanda é condicionada pela carência de mão de obra qualificada nas mais diversas especialidades, sendo imperativa a busca contínua de recursos e, acima de tudo, a implementação de soluções inovadoras, que permitam dar resposta a todas as necessidades e, desse modo, fazer face ao défice de recursos existente.
Na verdade, sou apologista de que os departamentos de compras têm que ter uma visão transversal relativamente às necessidades das diversas unidades de produção. Contudo, as Compras, já que englobam fornecimentos, subempreitadas e serviços, não agem isoladamente, mas, pelo contrário, interagem com todos, congratulando-me que na nossa empresa esta postura, intrínseca e cultural, tem servido como alicerce estratégico ao crescimento da empresa, e à transmissão ao mercado de sinais de maturidade.
É por demais evidente que temos a obrigação de, proactivamente, mitigar riscos, pela análise cuidada do mercado de fornecedores, bem como pela análise das flutuações de preços como resultado das incertezas. Igualmente devemos monitorizar o cumprimento dos procedimentos e especificações internas, como barómetro das exigências das contratações, promovendo, com os demais departamentos, a partilha mútua de contactos, a participação conjunta nas negociações, a análise comparativa de propostas, a compilação do histórico de boas e más experiências incorridas com os diversos parceiros nas distintas obras, suportada por uma exigente avaliação de fornecedores, que permita tomar decisões conscientes no momento das futuras contratações, obrigando, muitas vezes, a sair da zona de conforto. Além disso, importa destacar a necessidade de implementar soluções inovadoras, sustentáveis e que atestem responsabilidades ecológicas, economicamente viáveis e que valorizem o produto final. Daí, creio eu, resulta a almejada satisfação por parte dos nossos Clientes, e o consequente regozijo para todos os envolvidos.
Gostaria, ainda, de pôr em evidência que, para a consecução dos objetivos dos departamentos de Compras, o planeamento e a preparação dos projetos são indispensáveis, quando aliados à definição adequada dos indicadores de desempenho que permitam mensurar objetivamente situações do ponto de vista qualitativo e quantitativo. Como nota particular, não posso deixar de realçar que a monitorização permanente destes indicadores, rastreando todo o processo, acautela eventuais desvios em relação ao projetado, não só de natureza económica, como também funcional. Deste modo, será possível corrigir esses desvios atempadamente, pelo que é fundamental recorrer às melhores tecnologias disponíveis e aos softwares de gestão adequados para o efeito, o que a avaliar pelos firmes passos que a nossa empresa tem dando no reforço dessa competência, é um bom augúrio.
Em jeito de conclusão, eu diria que é fundamental que os departamentos de compra estejam capacitados e despendam os seus recursos na eficiência dos processos, que acrescentem valor pelo conhecimento exaustivo do mercado para as diversas especialidades, e fomentem relações estáveis, duradouras e de confiança com os parceiros, rigorosamente selecionados, em função de critérios de exigência, alicerçados na pré-qualificação e avaliação contínua dos mesmos, aportando, a longo prazo, vantagens competitivas a toda a estrutura, sendo o meu permanente propósito, como responsável do departamento de Compras de uma grande empresa de construção, respeitar estes princípios.
Nuno Botelho
Diretor de compras da MAP Engenharia
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico