Espera-se um investimento em imobiliário superior a 2.100 milhões de euros em 2024
Investimento imobiliário comercial em Portugal atingiu 1.01 milhões de euros até Setembro, com destaque para os sectores de retalho, hotelaria e living, indica a CBRE, que prevê um investimento total superior a 2.100 milhões de euros até ao final do ano.
Segundo a consultora, o sector imobiliário comercial (não resodencial) em Portugal continua a dar sinais de recuperação, com o terceiro trimestre de 2024 a revelar um dinamismo crescente, especialmente nos segmentos de retalho e hotelaria. Durante este período foi captado um investimento de 342 milhões de euros, num total acumulado, até 30 de Setembro, de 1.014 milhões de euros, resultados que estão em linha com o mesmo período do ano passado.
O cenário até ao final do ano, é particularmente positivo destacando-se que o último trimestre do ano começou de forma promissora, com um volume de negócios transaccionado superior ao trimestre anterior apenas nos primeiros 10 dias de outubro. A causa destes valores é o fecho de duas grandes transacções de retalho, cada qual na ordem de grandeza das centenas de milhões de euros. Assim, a expectativa é que, em 2024, o desempenho do sector imobiliário comercial termine entre os 2.100 milhões de euros a 2.300 milhões de euros, o que representa um crescimento expressivo face ao ano de 2023, no qual o valor foi de cerca de 1.600 milhões de euros.
A CBRE destaca também o segmento de living, que abrange outras alternativas habitacionais como, por exemplo, residências seniores e universitárias, que continua a ganhar destaque no mercado, o que só vem comprovar a necessidade crescente de soluções habitacionais diversificadas.
"Os sectores de retalho e hotelaria têm-se destacado no panorama imobiliário, beneficiando diretamente do boom turístico que Portugal tem vivido. O ano passado quebrámos recordes de visitas e dormidas, impulsionando o crescimento destes segmentos. A hotelaria continua a atrair um investimento significativo, e o retalho tem acompanhado esta tendência, com expectativas de que seja o sector com maior volume transacionado até ao final deste ano. Estes setores demonstram uma forte resiliência e capacidade de adaptação, confirmando o seu papel central no dinamismo do mercado imobiliário em 2024", afirma Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE em Portugal.
As transacções mais significativas até ao momento incluem a aquisição de uma participação do Norte Shopping; o Alegro Montijo pela empresa sul-africana Lighthouse Properties no setor do retalho; a aquisição de uma rede de 12 supermercados Continente com dispersão nacional pela Slate à LCN Capital Partners; a K-Tower pelo fundo alemão Krest Real Estate Investments no segmento de escritórios; e dos hotéis Sofital Lisbon Liberdade pelo fundo francês Extendam e o The Oitavos pelo BTG banco de investimento brasileiro BTG Pactual, ambos no segmento de hotelaria. Destaca-se também a transação do Home & Go Lisbon PBSA, projeto de residências de estudantes que era detido pela TPG/Round Hill Capital e passou para as mãos da Xior, reforçando a crescente atractividade do sector de living.
"No segmento dos escritórios, Lisboa e Porto mantêm-se como áreas de elevada procura, especialmente em zonas prime como a zona ribeirinha e as áreas de CBD1 e CBD2. No entanto, a escassez de projetos de qualidade (flight to quality) tem vindo a limitar o mercado”, acrescenta Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE em Portugal. Até Agosto de 2024, o take-up em Lisboa alcançou 154 mil m² de ocupação, superando os 62,2 mil m² registados no mesmo período de 2023, enquanto no Porto aumentou de 39 mil m² para 48 mil m². A oferta de escritórios de qualidade continua insuficiente, sendo rapidamente absorvida mesmo em áreas menos centrais.
Preços das casas duplicou na última década
No que diz respeito ao mercado residencial, observa-se uma tendência de crescimento, com um total de 37 mil transações realizadas no primeiro semestre de 2024, superando as 33 mil do mesmo período em 2023. O valor total das transações acumuladas atingiu 14.600 milhões de euros, em comparação com os 13.700 milhões de euros do ano passado. Este aumento nas transações reflete uma elevada dinâmica do mercado, onde, apesar do aumento das taxas de juro, nomeadamente a EURIBOR, o preço médio por fogo continua a subir. Por exemplo, se um imóvel em 2013 valia em média 102.000 euros, em 2023 o mesmo ativo está avaliado em 212.000 euros, o que representa um aumento no preço de 106%.
“Em 2022, cerca de 90% dos empréstimos imobiliários activos tinham taxas de juro variáveis, tornando os proprietários particularmente vulneráveis à subida dos juros. Como consequência, o valor das transações de imóveis residenciais desceu de um máximo histórico de 31.000 milhões de euros em 2022 para 28.000 milhões de euros em 2023. No entanto, apesar desta retração no volume de transacções, os preços das habitações mantiveram uma trajetória ascendente vincada pela falta de oferta, uma tendência que se mantém desde 2013, quando se verificou uma diminuição generalizada na construção de novos imóveis. Esta escassez de oferta continua a sustentar o aumento dos preços, mesmo num cenário de maior incerteza económica”, explica Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE.
Adicionalmente, o mercado de arrendamento está também em ascensão, com o valor médio em Portugal fixado em cerca de 8 euros por m². Comparando com o ano anterior, Lisboa viu os preços aumentarem de 14,54 euros para 16 euros por m², enquanto o Porto teve uma subida de 11,95 euros para 12,85 euros por m². No entanto, esta tendência crescente não se restringe às grandes capitais, e tem sido transversal um pouco por todo o país.
Apesar das expectativas, Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE em Portugal, expressou um optimismo cauteloso quanto ao desempenho do sector imobiliário, especialmente após as novas medidas governamentais que visam facilitar a compra de habitação. "Acredito que estamos a entrar numa fase de recuperação, mas é fundamental que a oferta de novas habitações acompanhe a crescente procura. A pressão sobre os preços pode agravar-se se não houver um aumento significativo na construção. Os jovens estão a ter mais oportunidades de adquirir a sua casa, mas enfrentamos um problema estrutural relacionado com a escassez de oferta. Sem um reforço da construção nova, corremos o risco de ver os preços a subir ainda mais. Para além disso, é também importante que o sector imobiliário não abrande face aos resultados do ano anterior, embora não estejamos ainda no patamar de recordes de investimento que o mercado atraiu de 2019 a 2022".