Construir cidades do futuro mais inteligentes e sustentáveis
O Dia Mundial das Cidades, celebrado a 31 de outubro, é o pretexto para uma reflexão sobre o impacto e os desafios do desenvolvimento acelerado dos tecidos urbanos. Com mais de metade da população mundial a viver atualmente em áreas urbanas, as previsões indicam que, até 2050, dois terços da população global residirão em cidades. É um rápido crescimento que coloca pressão sobre os recursos, infraestruturas e serviços públicos, exigindo soluções disruptivas e humanas, para garantir um desenvolvimento urbano sustentável.
O aumento da população urbana vem acompanhado de uma sobrecarga na prestação de serviços e na pressão sob os recursos, nomeadamente, um maior consumo energético, derivando num impacto ambiental significativo. Efetivamente, as cidades são responsáveis pelo consumo de mais de dois terços da energia mundial e são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de dióxido de carbono. São números alarmantes que ilustram a urgência em repensar a forma como projetamos, construímos e queremos gerir as cidades do futuro.
É aqui que a tecnologia, os dados e a boa gestão da informação, especialmente no contexto das cidades inteligentes, pode destacar-se como parte fundamental desta equação, proporcionando as ferramentas certas para gerir melhor a pressão urbana e responder às suas necessidades crescentes. O aumento dos tecidos urbanos deve ser encarado não apenas como um desafio, mas também como uma oportunidade para repensar a forma como vivemos o ecossistema urbano e as dinâmicas dos territórios.
Tecnologia como veículo para melhorar a qualidade de vida nas cidades
Tal como referido por Boyd Cohen, no inicio conceptual das Smart Cities, através das várias dimensões de uma cidade representadas na Smart City Wheel, a tecnologia desempenha um papel importante na transformação das cidades e desafios urbanos. Falamos, por exemplo, de plataformas que permitem a recolha, integração e análise de dados em tempo real, potenciando a tomada de decisões informadas por parte dos autarcas e técnicos municipais, ou recursos para tecnologia de análise preditiva para cidades, com capacidade de antecipar problemas, como congestionamentos de trânsito, falhas em sistemas de energia ou emergências de saúde pública, agindo de forma antecipada e proativa.
No entanto, a utilização da tecnologia não tem de estar limitada à gestão de crises ou à eficiência dos serviços. A mobilidade urbana é uma área onde o impacto tecnológico é particularmente visível. Cidades com sistemas de gestão e bilhética de transporte integrados, incentivam a utilização da rede de transportes públicos e a mobilidade suave, demonstrando ser mais eficazes na redução das emissões de carbono, no combate ao congestionamento no centro das cidades e melhorando a qualidade do espaço público. A aposta na implementação de infraestruturas adequadas para veículos elétricos, ciclovias e serviços de transporte partilhado, são parte fundamental desta transformação para uma mobilidade mais amiga do ambiente.
Ao fornecer as ferramentas para que os habitantes possam adotar soluções sustentáveis, as cidades podem reduzir significativamente a sua pegada ecológica, melhorando a qualidade de vida da sua comunidade. .
O papel da juventude e a liderança no clima
O tema do Dia Mundial das Cidades em 2024, “Liderança dos Jovens no Clima e na Ação Local para as Cidades”, evidencia o papel das novas gerações na promoção de medidas ousadas para enfrentar a crise climática nas áreas urbanas. Os mais jovens têm sido verdadeiros agentes de mudança, defendendo políticas ambientais mais ambiciosas e alertando para a necessidade de repensar a forma como construímos e gerimos as nossas cidades. Compreendem a urgência da crise climática, mas também trazem consigo ideias inovadoras, dinâmicas culturais diferentes e valores pós-materialistas, que podem transformar a forma como vivemos.
Para captar essa energia e motivação, as cidades deverão criar mecanismos onde os mais novos possam contribuir ativamente no processo de tomada de decisão. A participação cívica, a democracia ativa e o envolvimento dos jovens na definição de políticas locais, são fundamentais para garantir que as soluções urbanas de hoje sejam sustentáveis e alinhadas com os desafios e as suas expetativas do futuro.
A evolução de cidades e mega-cidades é um fenómeno inevitável e com isso surgem novos desafios, maioritariamente complexos e várias interdependências. Mas são desafios que nos oferecem uma oportunidade única para repensarmos como desenhamos e pensamos as cidades, como centros de inovação, inclusão e sustentabilidade. Neste contexto, a tecnologia será um bom aliado nesta transformação, mas é essencial que as soluções tecnológicas estejam alinhadas com uma visão a longo prazo, focada na eficiência de recursos, na produção de informação e conhecimento e na participação ativa dos cidadãos.
À medida que nos aproximamos de um futuro em que dois terços da população mundial viverá em áreas urbanas, as decisões que tomarmos hoje, vão definir, sem qualquer dúvida, a qualidade de vida nas cidades de amanhã. Cidades inteligentes, verdes e inclusivas não são apenas um desejo; mas sim uma necessidade urgente. Se todos fizermos a nossa parte, podemos ajudar a assegurar um futuro urbano que seja sustentável e justo para as gerações futuras.
Rui Castilho Dias
Manager de Administração Pública, Cidades e Territórios na Minsait em Portugal (Indra Group)
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico