CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Opinião

Francisco Mota Ferreira

Os mercados emergentes e a sua importância para o sector imobiliário

4 de novembro de 2024

Uma história que costumo contar diversas vezes prende-se com a nossa capacidade de adaptação face aos desafios que enfrentamos ou às novas realidades às quais somos confrontados. E exemplifico muitas vezes com o meu passado familiar: o meu avô teve sempre a mesma profissão e trabalhou a vida toda, até se reformar, na mesma empresa e no mesmo local. O meu pai teve sempre a mesma profissão, mas já trabalhou em diferentes entidades e locais até se reformar. Eu já tive várias profissões e, de igual forma, já trabalhei em várias empresas e diferentes locais. E, por este andar, não sei que reforma terei. Os meus filhos terão, certamente, ainda mais desafios a superar.

Lido com o imobiliário, direta ou indiretamente, há já vários anos, e confesso-vos que não conheço outro sector de atividade onde é exigido, a quem aqui está, uma permanente capacidade de resiliência e adaptação a novas realidades. Quem acompanha esta área sabe que o Imobiliário tem assistido a uma evolução significativa nos últimos anos, com novas áreas de negócio a ganhar relevância e ao surgimento de novos mercados emergentes dentro do sector. A título de exemplo, podemos considerar como mercado emergentes o crescimento de segmentos como o imobiliário sustentável, o turismo residencial ou o sector de arrendamento de curta e longa duração (Alojamento Local - AL). Todos estes representam áreas de negócio que há duas décadas atrás não tinham relevância ou escala como negócio ou até impacto real na economia. E todos estes, sem exceção, refletem mudanças nas preferências e necessidades do mercado, trazendo novas dinâmicas ao imobiliário nacional.

Todos nós conhecemos o exemplo de sucesso de, pelo menos, uma marca, nacional, que tem feito o seu caminho e alcançou sucesso na construção e comercialização de propriedades sustentáveis e energeticamente eficientes. Esta é uma das áreas emergentes que tem despertado interesse tanto de investidores como de consumidores e, em Portugal, os resultados desta aposta naquilo que, apesar de tudo, ainda é um nicho de mercado, tem-se revelado um êxito, ou não estivesse este segmento alinhado com as metas europeias de sustentabilidade, o que, por si, atrai um perfil de investidor consciente, que procura alternativas de baixo impacto ambiental. Mas não só.

Multiplicam-se em Portugal as empresas cujo foco são as construções que utilizam materiais recicláveis, eficientes em termos energéticos e com uma pegada de carbono reduzida, contribuindo para um sector imobiliário mais sustentável, ajudando a Portugal a cumprir os compromissos ambientais e promovendo uma economia mais verde.

Aliado ao que acima referi, temos também a aposta, em paralelo, noutro segmento em crescimento, que é o turismo residencial, que combina duas grandes áreas de negócio e investimento em Portugal: o Turismo e o Imobiliário. Embora focado ainda em áreas geográficas específicas – nomeadamente nas zonas onde os residentes estrangeiros se encontram mais concentrados, como o Algarve, Lisboa ou o Porto - este mercado proporciona uma alternativa para estrangeiros que pretendem usufruir de uma residência em Portugal ou passar aqui largos períodos. Além de atrair capital externo, este tipo de turismo contribui para o fortalecimento do mercado de luxo e estimula o consumo local, desde serviços de manutenção até restaurantes e outras atividades de lazer, fazendo com que o turismo residencial não apenas dinamize o sector imobiliário, mas também impulsione a economia local e a criação de emprego.

A proliferação e dinamização do mercado de arrendamento para períodos curtos e médios é outro sector que, apesar de algumas limitações agora regulamentadas– como a proibição de emissão de novas licenças para Alojamento Local - tem registado uma crescente procura, especialmente entre os nómadas digitais e os trabalhadores remotos. Portugal, pela sua posição privilegiada e qualidade de vida, continua a ser um foco de atração para profissionais que, cada vez mais, optam por residir temporariamente no País. Este aumento na procura tem impacto positivamente no mercado de arrendamento e cria oportunidades de negócio associadas, como espaços de coliving e coworking, transformando Portugal numa opção de residência flexível e apelativa.

Por último, os mercados emergentes não só diversificam o sector imobiliário, como também se interligam com outras áreas de negócio essenciais à economia. A construção civil, por exemplo, beneficia do aumento na procura por projetos residenciais e comerciais, fomentando o emprego e o desenvolvimento de infraestruturas. Da igual forma, no sector dos serviços, arquitetos e decoradores acabam por beneficiar desta procura crescente, especialmente em projetos de renovação e decoração de espaços. Já para não falar, também, do sector financeiro que igualmente participa no crescimento do Imobiliário, com a atribuição de créditos e financiamento a particulares e empresas.

A confluência entre o imobiliário e o turismo, a tecnologia, a construção e os serviços tornou-se, assim, um motor fundamental para a economia nacional. Todos estes sectores, interligados, fortalecem o mercado de trabalho, estimulam o consumo e atraem investimento estrangeiro, que, por sua vez, geram novas oportunidades de negócio e fortalecem a economia portuguesa, consolidando o papel de Portugal como um destino de investimento atrativo e sustentável.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico