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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Os consultores Imobiliários e seu o impacto na economia real

28 de outubro de 2024

Há uns tempos atrás pedi aos meus amigos consultores que me seguem nas redes sugestões de temas para escrever. Para além do contributo inestimável dos seus muitos inputs, acho sempre que saio mais rico destas interações, uma vez que são estes mesmos consultores, que estão no terreno no dia-a-dia, que podem, muito melhor do que eu, viver e transmitir as agruras, mas também as alegrias que esta profissão comporta.

E uma das coisas onde acho que a realidade não sai muito deste nosso mundo imobiliário – e que a meu ver, deveria ultrapassar esta fronteira – prende-se com o verdadeiro impacto que esta profissão tem para a economia real. Há relatórios e estudos que demonstram que esta atividade contribui de forma relevante para o PIB (Produto Interno Bruto), mas penso que falta perceber-se quais as vantagens (e eventuais inconvenientes) que a profissão trás para a economia real de Portugal. E que vai muito para além das comissões e ganhos diretos obtidos na intermediação de um negócio.

Comecemos pelo ponto mais óbvio, que se prende com a dinamização do mercado Imobiliário porque, ao facilitarem as transações, os consultores contribuem diretamente para o aumento da liquidez no mercado. A capacidade de unir compradores e vendedores de forma eficiente promove a circulação de capital, impulsionando investimentos em diversos setores, como a construção, a reabilitação urbana e até mesmo serviços de decoração e design de interiores. Estes investimentos, por sua vez, criam empregos e estimulam o crescimento económico. Se acham que estou a exagerar, veja-se, por exemplo, o que implica para a economia real a abertura de um Alojamento Local (AL), com o dinheiro a circular, as empresas criadas à volta deste negócio e os postos de trabalho que são desenvolvidos por causa deste AL.

Há também a destacar a importância que este sector tem no desenvolvimento urbano de determinadas zonas da cidade. No passado, em Lisboa, vimos isso, por exemplo, com a Expo 98, e estamos agora a assistir, nos últimos anos, à reabilitação da zona do Beato e Santa Apolónia. Os consultores imobiliários têm e tiveram um papel importante na expansão e revitalização de áreas urbanas: promovem o investimento em regiões emergentes ou em fase de regeneração urbana, encorajando projetos de desenvolvimento, que podem transformar bairros inteiros. Isto gera uma melhoria local na zona, aumenta a oferta de serviços e valoriza a área, beneficiando a economia como um todo.

Outra intervenção do sector imobiliário na economia prende-se com a aquisição dos imóveis por parte dos clientes qualificados. Muitas transações imobiliárias que são intermediadas por consultores envolvem, na sua maioria, instituições financeiras, que fornecem crédito e hipotecas. Este tipo de operação aumenta o volume de empréstimos concedidos, alimentando o sector bancário e financeiro. E, mais uma vez, coloca o dinheiro a circular.

Claro está que nem tudo são boas notícias, porque quando o mercado está em alta, estão igualmente em alta os preços e a especulação, porque, de repente, um interesse adicional numa determinada zona levou a que os preços dos imóveis disparassem. E quando tudo corre bem, todos estão contentes. O problema acontece quando, de repente, estamos a viver numa bolha imobiliária, que pode rebentar em qualquer momento, trazendo impactos negativos para a economia real.

Acresce ainda a tudo isto a volatilidade criada no mercado, à volta de uma expectativa de valorização constante dos imóveis que, juntamente com a sua capacidade de influenciar preços, pode levar a ciclos de crescimento e queda abruptos. Esta instabilidade pode ter impactos significativos não apenas no setor imobiliário, mas também outros sectores que se interligam, como o da construção e o financeiro.

Pelo que acima escrevi conclui-se que o trabalho de um consultor imobiliário pode criar impacto, positivo ou negativo, na economia do País. Cabe, a cada um de nós que trabalha neste sector, nas suas variadas vertentes, ter a capacidade de contribuir, positivamente, para o funcionamento da economia nacional e fazer a diferença.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico