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Opinião
Avenida da Liberdade: desmazelada e porca!

 

Avenida da Liberdade: desmazelada e porca!

8 de agosto de 2025

São nove da manhã e Lisboa já pulsa com o rumor de um dia quente, luminoso e cheio de movimento. No coração da cidade, a sua sala de visitas – a Avenida da Liberdade – desperta entre turistas de mapa na mão, executivos apressados e comerciantes a montar bancas na esperança de que, desta vez, as contas dêm para o ganho. Muitos, porém, no fim do dia, regressarão a casa com a receita a zero, apesar das horas ao sol e das expectativas.



Estamos frente ao Tivoli Liberdade, um dos hotéis mais icónicos e caros do país, rodeado por lojas de luxo cujas rendas podem chegar aos 80 euros por metro quadrado, as mais altas de Portugal. Aqui, o metro quadrado de comércio vale mais do que em qualquer outra rua do país — mas o chão que o sustenta está coberto de folhas secas, pó e um ar de abandono que não se compra nem se vende.


«O cenário é desconcertante. Sob a sombra centenária do arvoredo, montes de folhas amontoam-se nos passeios e canteiros. É difícil imaginar a Unter den Linden, em Berlim, os Champs-Élysées, em Paris, o Paseo del Prado, em Madrid ou o Passeig de Gràcia, em Barcelona, a oferecer semelhante cartão de visita. Em Lisboa, este símbolo de prestígio internacional parece ter sido deixado à mercê do improviso...»

Às 09h30, surgem dois funcionários municipais munidos de sopradores de folhas secas. Àquela hora, quando o passeio já fervilha de gente, ligar o motor significaria levantar nuvens de pó sobre transeuntes e montras. Decidiram seguir avenida abaixo, talvez à procura de um ponto menos embaraçoso para trabalhar.

Entretanto, o contraste continua gritante: entre montras de joalharias onde um colar pode custar mais que um salário anual e jardins onde a limpeza parece ser feita a contra-relógio; entre hotéis que cobram centenas de euros por noite e canteiros que acumulam lixo. Em Lisboa, a limpeza noturna parece ser também um luxo dispensável — mesmo nas avenidas onde o metro quadrado custa mais do que em muitas capitais europeias —, sinal de que a urbanidade, por cá, se varre para debaixo do tapete.

Senhor Presidente da Câmara, Eng. Carlos Moedas: pedimos que, por um momento, interrompa a sua campanha eleitoral, e talvez valha a pena garantir que a Avenida da Liberdade — e com ela, a imagem de Lisboa — seja tratada com a dignidade que merece. Porque a capital não vive só de “branding” e eventos: vive também do que se vê a olho nu, e neste momento, o luxo está a perder para o lixo.

Crónica/Artigo de Opinião de António Baptista da Silva

Senior partner do Diário Imobiliário