Teixeira Duarte e Broadway Malyan requalificam Bairro de Benfica em Lisboa
O promotor e construtor Teixeira Duarte e o atelier de arquitectura Broadway Malyan estão activamente envolvidos no processo de requalificação urbana de Benfica, um dos mais tradicionais bairros de Lisboa e um importante território de expansão da cidade no último século.
A Broadway Malyan - fundada em 1955 no Reino Unido e com escritório em Lisboa desde 1995 - foi seleccionada pela Teixeira Duarte para dar corpo a um processo de regeneração no Bairro de Benfica, o “Renovar o Bairro. Recontar a História”, o qual intervém sobre cerca de 7,5% da área edificada desta freguesia, no equivalente a mais de 100.000 m2. Iniciado em 2019 através do projecto Fábrica 1921, com a reconversão para habitação da histórica fábrica têxtil “Simões & Companhia Lda”, dá agora um novo passo com o Garridas 1867, inspirado nos antigos palacetes de Benfica.
Mais do que reforçar a vocação residencial de Benfica, com a criação de cerca de 400 alojamentos com capacidade para acolher pelo menos 1.000 residentes, os dois projectos da Teixeira Duarte, dos quais a Broadway Malyan assina a arquitectura e a arquitetura paisagista, foram pensados para criar um impacto positivo no bairro, requalificando o tecido urbano e, sobretudo, trazendo novos espaços públicos para uso da comunidade, dinamizando a vida do bairro.
Empenhada em criar “mais e melhor cidade” do ponto de vista do desenvolvimento urbano, mais do que criar espaços privados, a Broadway Malyan quis devolver ao bairro dois dos seus espaços históricos, promovendo a conexão de ambos os projectos à sua envolvente, quer em termos funcionais e de vivência, quer em termos estéticos. Esta ligação entre o espaço privado e o espaço público é conseguida por um design inovador, que através da arquitectura e do tratamento dos espaços exteriores integra no seio da Fábrica 1921 e do Garridas 1867 novas áreas de recreio e fruição abertas a toda a população de Benfica, sem com isso descurar a privacidade dos residentes.
Pela localização, dimensão e legado que tem na freguesia, o Fábrica 1921 é paradigmático desta forma de fazer cidade. O empreendimento foi desenhado numa perspectiva de continuidade, trazendo ao bairro uma nova praça pública, onde vão estar disponíveis para toda a população novas opções de comércio e restauração, com esplanadas e zonas de circulação pedonal, uma área de parque infantil e um novo equipamento cultural, a biblioteca municipal “António Lobo Antunes”. Este último espaço ocupará dois pisos de um dos edifícios do projecto, estendendo-se por 1.850 m2 através de áreas dedicadas à família, adultos, jovens e crianças.
Intervir numa escala a que não se está habituado em Lisboa...
O design do Garridas 1867 partilha a mesma abordagem, interligando os espaços de uso privado com uma componente pública, aberta à vida do bairro. Este projecto vai também criar uma praça pública de fruição, rodeada por novos espaços de comércio e restauração, bem como áreas de lazer e percursos de circulação pedonal.
Margarida Caldeira, Head of Lisbon Studio da Broadway Malyan, activamente envolvida no conceito e desenho arquitectónico dos projectos, considera que “é um privilégio termos a possibilidade de intervir no espaço urbano de Benfica numa escala que é rara acontecer em Lisboa e em projectos que se pretendem com forte impacto positivo no bairro. Do ponto de vista do desenvolvimento urbano, actualmente não podemos olhar para os projectos de forma isolada e temos, sim, de os pensar numa lógica de pertença ao local onde se inserem, não apenas no que respeita à arquitectura e estética, mas, sobretudo, em termos funcionais. Enquanto arquitectos, cabe-nos criar espaços que preservam a privacidade de quem lá vive, mas que também se tornam parte da vivência daquela comunidade; contribuindo activamente para melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos locais onde se inserem”.
Segundo aquela arquitecta, esta vasta intervenção comprova “que os benefícios da reabilitação são muito mais vastos do que a requalificação do património físico”, já que são intervenções com impacto efectivo na vida quotidiana das pessoas. Além dos habitantes e de uma linha do horizonte renovada, o Fábrica 1921 e o Garridas 1867 trazem novas praças, novas lojas, novos parques infantis, novas áreas de passeio e um novo equipamento cultural para Benfica. É beneficiar a vida do bairro em todas as suas vertentes, numa visão que partilhamos com a Teixeira Duarte Real Estate”, nota a arquiteta.
Fábrica 1921
O Fábrica 1921 assinala o primeiro momento da intervenção urbana em Benfica, requalificando a antiga fábrica têxtil “Simões & Companhia Lda”, um dos mais importantes patrimónios da freguesia. A inauguração das novas instalações da fábrica têxtil no ano de 1921, com um sistema industrial pioneiro para a época, permitiu alcançar, no seu auge, uma dimensão com cerca de 1.500 operários, e um grande impacto no tecido social e empresarial de Benfica, um legado que o novo projecto quis honrar. Iniciado em 2019 e com a segunda fase actualmente em construção, este projecto de matriz residencial soma 244 apartamentos e regenera um quarteirão completo entre a Estrada de Benfica e a Avenida Gomes Pereira, possuindo mais de 4.000 m2 com valências sociais, de lazer e bem-estar para uso dos residentes. Complementarmente, a zona térrea do empreendimento acolhe espaços de comércio, o 1921 Street Market, e a nova biblioteca municipal António Lobo Antunes, permitindo, assim, a toda a comunidade usufruir de um património que há mais de 100 anos marca a vida desta freguesia. O legado arquitectónico da fábrica foi minuciosamente preservado, com a recuperação e integração das fachadas originais, incluindo a reabilitação minuciosa das antigas cantarias e serralharias que compunham esta fachada. Foram integrados novos corpos edificados, os quais convivem harmoniosamente com o património preservado, num projecto que já mereceu o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2023 para a melhor intervenção de Lisboa. Outro dos traços marcantes do projecto é a forte presença de elementos naturais e da vegetação, tanto no logradouro de ligação entre as pré-existências como nos novos edifícios.
Garridas 1867
Esta mesma lógica de trazer a natureza para os projectos - a Biophilia, como a designa... - está presente no novo capítulo deste programa de requalificação da urbanidade de Benfica, o Garridas 1867. Situado a apenas 5 minutos a pé do Fábrica 1921, este novo empreendimento residencial honra a memória do já inexistente Palacete da Quinta das Garridas, e vai evocar o legado cultural das quintas apalaçadas, que nos finais do século XIX marcavam a vida de Benfica. Inspirando-se na história, arquitectura e requinte dos antigos palácios da freguesia, o Garridas 1867 propõe a edificação de cerca de 180 apartamentos, apoiados por várias comodidades de uso social e de bem-estar para os seus residentes, além de toda uma zona de comércio aberta ao bairro, o 1867 Street Market. O Garridas procura prolongar toda a referência de arborização que existe no bairro de Santa Cruz, na zona poente, bebendo daí inspiração e tentando dar-lhe continuidade a essa linguagem. E essa é a lógica também para a integração histórica. Para que a identidade e pertença histórica do Garridas seja entendida, quer do ponto de vista formal quer do ponto de vista material, o projecto apostou em elementos marcantes como a criação de um pórtico de entrada semelhante ao que existia nos palácios, entre outros exemplos. Prevê-se que no início do ano de 2024 seja realizado o lançamento comercial do projecto e que se dê início à sua construção.