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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Recordações da primeira casa

3 de março de 2025

Todos nós, em maior ou menor medida nos lembramos daquela que foi a nossa primeira casa. Não estou aqui a falar do imóvel onde crescemos com os nossos pais, mas a primeira habitação para onde fomos viver, conquistada que foi a nossa independência.

Bem sei que, com a crise que temos na Habitação e na compra ou arrendamento de um imóvel, os tempos que hoje vivemos são radicalmente diferentes e tenho a certeza que as recordações de hoje em dia dos jovens que dão o seu grito de Ipiranga, estão associadas muitas vezes a dor, esforço e lágrimas.

Seja de uma forma mais triste ou mais alegre, seja uma boa recordação ou uma memória que muitos até desejariam apagar, o facto é que a primeira casa é a primeira grande conquista material da vida de muitos de nós. E há algo de especial nesse momento, algo que nunca se esquece, porque o irmos viver para a nossa casa (sozinhos ou acompanhados) é mais do que uma transação: é um marco, um ritual de passagem, um sonho que se concretiza. Podemos lembrar-nos do cheiro a tinta fresca, das caixas espalhadas pelo chão, da primeira noite em que, deitados num colchão improvisado, sentimos que aquele espaço agora nos pertencia.

Mas, como disse anteriormente, a ida para a nossa primeira casa pode ser também um misto de emoções contraditórias. Há a euforia de encontrar o sítio perfeito, o receio do compromisso financeiro, as dúvidas sobre se estamos a tomar a decisão certa. Pode correr tudo bem, e encontrarmos um imóvel que nos faz sentir em casa desde o primeiro dia. Mas também pode correr mal: uma casa que parece ideal, mas que revela problemas estruturais, um negócio que parecia seguro, mas que esconde cláusulas inesperadas, um crédito mal negociado que se torna um peso inesperado.

E aqui entra a questão: será que precisamos de um consultor imobiliário para a nossa primeira compra? Ou podemos navegar este processo sozinhos? A verdade é que, sem experiência, é fácil sermos levados pela emoção e ignorarmos detalhes cruciais.

Somos, naturalmente, suspeitos no argumento, mas qualquer um de nós que está no ramo acredita que um bom consultor pode ajudar a evitar armadilhas, a negociar condições mais favoráveis, a escolher com a razão e não apenas com o coração. Mas, infelizmente, também há quem se aproveite da inexperiência dos compradores, tornando a experiência mais complicada do que deveria ser. É por isso que escolher bem quem nos acompanha nesta jornada faz toda a diferença.

E depois, há aquela sensação que muitos partilham: as saudades da primeira casa. Porque, mesmo que a tenhamos deixado para trás, mesmo que tenhamos mudado para algo maior, mais confortável ou melhor localizado, aquela primeira casa será sempre especial. Talvez porque foi onde começámos uma nova fase da vida. Talvez porque foi onde sentimos, pela primeira vez, o peso e a alegria de ter um lugar que é verdadeiramente nosso. Talvez porque, ali, aprendemos o que significa ser dono do nosso espaço – e da nossa história.

Com boas ou menos boas recordações, a nossa primeira casa é como o nosso primeiro amor. Nunca se esquece.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022), “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) e “Conversas sobre o Imobiliário” (2024) | Editora Caleidoscópio.

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico