Reabilitação do Chalet Ficalho em Cascais vence Prémio Vilalva da Fundação Gulbenkian
O projecto de reabilitação do Chalet Ficalho, em Cascais, foi distinguido, por unanimidade, com o Prémio Maria Tereza e Vasco Vilalva para o património, no valor de 50 mil euros, anunciou hoje a Fundação Calouste Gulbenkian.
De acordo com a Gulbenkian, o prémio, em 15.ª edição - que distingue projectos de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português, imóvel e móvel - recebeu este ano mais de duas dezenas de candidaturas.
A atribuição do galardão à reabilitação do Challet Ficalho - exemplo representativo da arquitectura de luxo de veraneio que se instalou em Cascais a partir do último quarto do século XIX - deveu-se, entre outras razões, ao facto de o projecto ter conseguido "obedecer a um profundo respeito pela traça original do edifício", segundo o júri.
No âmbito do Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva foram ainda atribuídas duas menções honrosas: uma ao Edifício das Águas Livres e outra às Casas Nobres de João Pereira e Sousa, ambos em Lisboa.
O júri, composto pelo antigo presidente do Centro Cultural de Belém e do ex-Instituto Português do Património Cultural, António Lamas, que o presidiu, pelo arquitecto Gonçalo Byrne e os investigadores Raquel Henriques da Silva, Rui Vieira Nery e Santiago Macias, escolheu o projecto de reabilitação proposto a concurso pelo arquitecto Raúl Vieira, responsável técnico da intervenção, e Maria de Jesus da Câmara Chaves, dona da obra.
As outras razões que pesaram na escolha foram, uma delas, o facto de o projecto "ter incidido sobre um edifício que, apesar de classificado, se encontrar em acentuado grau de degradação e visava, por outro lado, a reconversão do imóvel num equipamento hoteleiro, o que implicava igualmente a incorporação de infraestruturas modernas de apoio a essa redefinição funcional".
O "recurso exemplar a técnicas e saberes artesanais tradicionais no trabalho das madeiras e da pedra, bem como no restauro de telas e sedas de revestimento", com a selecção de "soluções discretas e eficazes, com um mínimo de perturbação do equilíbrio arquitectónico", também pesaram na opção do júri, indica o comunicado da Gulbenkian sobre o prémio.
Da mesma forma, foi elogiada a recuperação do jardim, feita em colaboração com o Jardim Botânico de Lisboa, realizada "com grande preocupação de fidelidade ao projecto paisagístico inicial, sendo a principal alteração ao mesmo, decorrente da instalação de uma piscina, efectuada de modo a minimizar o seu impacto no ângulo de visão a partir da casa".
A importância patrimonial do edifício, "enquanto expoente de um estilo arquitectónico em grande parte já hoje destruído na maioria das zonas balneares do País, pelo carácter modelar do respeito pelas técnicas e materiais originais no projecto de recuperação, e pelo equilíbrio exemplar entre a preservação do conjunto e a sua adequação à sua nova função", foram igualmente tidas em conta pelo júri.
Menções honrosas
Nas menções honrosas, o projecto de reabilitação e revisão dos espaços comuns e áreas de uso colectivo do Edifício das Águas Livres, em Lisboa - proposta pelo Condomínio das Águas Livres e pelo Arquitecto Rui Mendes, que trabalhou de perto com o arquiteto coautor Bartolomeu Costa Cabral -, foi escolhido por ter conseguido “propor, em diferente contexto tecnológico, ambiental e regulamentar, o prolongamento do ciclo de vida do edifício, revertendo a natural erosão de elementos e materiais construtivos".
Quanto às Casas Nobres de João Pereira e Sousa, também em Lisboa - uma candidatura conjunta de arquitectura e azulejaria, proposta pelos ateliers Appleton e Domingos, Arquitectos, e Can Ran Arquitectura - a distinção deveu-se ao “restauro do mobiliário de uma antiga mercearia”.
Foram tidos em conta particularmente “o restauro e valorização dos tectos de masseira ainda existentes, das portadas dos vãos e dos tabuões de alguns dos soalhos que assumem a passagem da história sobre eles, a eficácia das opções de 'construção nova'” e “as soluções encontradas para valorizar os elementos azulejares existentes, incluindo a criação de painéis novos”.
O Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva, instituído em 2007, foi criado em homenagem a Vasco Vilalva, com o objectivo de assinalar intervenções exemplares em bens móveis e imóveis de valor cultural que estimulem a preservação e a recuperação do património.
Após a morte da Condessa de Vilalva, em 2017, o Prémio recebeu o nome de Maria Tereza e Vasco Vilalva.
O galardão será entregue na quarta-feira, às 17:00, no Chalet Ficalho, em Cascais.
Lusa/DI