Qual o segredo para reduzir os preços das casas em Portugal?
Não há segredo, nem existem soluções mágicas, mas podemos e devemos ser pragmáticos. Para a maioria de nós já é evidente que este governo não será capaz de resolver o problema através de políticas eficazes que possam aumentar significativamente a oferta, nem através da redução da pesada carga fiscal que incide sobre o preço final de cada habitação, nem mesmo através da simplificação e celeridade dos licenciamentos. Prova disso é o mais recente impacto contraproducente que apenas o anúncio, sim, só o anúncio, do programa Mais Habitação teve no setor.
Se o governo não é capaz, podem as autarquias assumir parte desse papel, mesmo que com recursos limitados em comparação com o estado central? Eu acredito que sim, de várias formas, mas hoje interessa-me apenas lançar a discussão acerca de uma delas.
As casas provêm de uma indústria: a construção. E como em qualquer indústria, existe uma forma eficaz de reduzir o custo do produto: otimizar a produção. Por esse motivo, acredito que uma das soluções passa por desmistificar o preconceito da construção em altura nas cidades portuguesas.
Definir áreas estratégicas nas cidades, quer sejam centrais e pontuais, quer sejam periféricas ou mesmo zonas de colmatação de vazios urbanos, potenciando a conurbação urbana, onde será possível aumentar o número máximo de pisos permitidos por construção multifamiliar, pode ser a solução mais plausível neste momento.
Ora acompanhem-me neste raciocínio:
- Uma das vantagens da construção em altura passa pela otimização do solo, uma vez que é possível construir mais habitações por m2, baixando significativamente o custo do terreno/fração;
- Construir em altura permite maximizar o uso eficiente do solo disponível, promovendo uma otimização do espaço urbano das cidades;
- Este tipo de construção promove o uso mais eficiente das infraestruturas, quer em quantidade, quer em custo;
- É possível padronizar a arquitetura dos edifícios potenciando a economia de escala no custo dos materiais e da mão de obra;
- Conseguimos otimizar a rede de transportes e ter equipamentos públicos concentrados para um número de pessoas muito mais elevado.
- Promovemos a eficiência e sustentabilidade energética.
Naturalmente existirão muitas outras vantagens, contudo, é também fundamental reconhecer que essa abordagem apresentará desafios e preocupações, como as questões de densidade populacional, impactos na paisagem urbana e o equilíbrio entre crescimento e preservação do património histórico que obviamente deveriam ser salvaguardados.
No entanto, neste momento, o foco deve recair sobre a análise cuidadosa do custo/benefício e do impacto positivo imediato que essa opção poderia proporcionar. Perante a conjuntura atual, a construção em altura é uma das muitas soluções viáveis e estratégicas, que merece ser considerada com seriedade para lidar com a escassez e o custo das habitações em Portugal, promovendo, ao mesmo tempo, o aumento da oferta e um desenvolvimento urbano mais eficiente e sustentável.
Artigo de opinião presente na mais recente edição do Real Estate Market Insights, relatório do mercado imobiliário produzido pela dipe.
Diogo Baptista Antunes
CEO da dipe
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico