A IA ao serviço do imobiliário

Nos últimos tempos têm sido várias as tentativas de explicar de que forma é que a Inteligência Artificial (IA) pode ou não ser uma preciosa ajuda na atividade de consultadoria imobiliária. Confesso-vos que, não tenho, à partida ideias fechadas sobre o tema, mas, no final do dia, o que todos os que andamos por aqui queremos saber é algo tão simples como isto: Como a IA pode ajudar na compra e venda de ativos imobiliários?

Desde o Covid e o confinamento que o setor se viu forçado a readaptar-se. Numa atividade que é de pessoas para pessoas, onde o face to face vale ouro, a transformação digital do negócio poderia significar o fim deste, tal como o conhecemos. Mas será que é mesmo assim?

Depois da adaptação que todos acabaram por fazer nos últimos anos, surge agora o desafio da IA e podemos, sem grandes margens para dúvidas, afirmar que a mediação imobiliária está a passar por uma transformação radical graças aos avanços da IA.

Diz quem sabe que, à medida que esta se tem vindo a tornar uma parte integrante da indústria imobiliária, o trabalho do consultor acabou por sair mais valorizado e facilitado. Num setor onde o tempo literalmente vale dinheiro, ter um parceiro que nos ajuda a otimizar processos, melhorando a experiência do cliente e oferecendo novas maneiras de comprar e vender propriedades, parece ser bom demais para ser verdade. Mas parece que assim é.

Tomemos por exemplo, a IA na avaliação de propriedades, onde o uso destas ferramentas acaba por ter um impacto significativo. Tradicionalmente, essa avaliação era feita com base em dados históricos e comparativos, tantas vezes com margens de erro nem sempre facilmente explicáveis. Com a IA, o consultor consegue analisar uma ampla gama de dados em tempo real, incluindo fatores como localização, tamanho, condição e tendências de mercado. Conjugando todos estes fatores com a experiência no terreno e o próprio bom-senso do consultor, não tenho quaisquer dúvidas que o uso da IA neste campo pode resultar em avaliações mais precisas e confiáveis, ajudando os compradores e vendedores a definir preços mais justos. Mas as vantagens não ficam por aqui.

Todos nós já passámos horas intermináveis a tentar encontrar aquela propriedade específica para o nosso cliente especial. E todos nós, que fazemos ou fizemos o mercado residencial, bem sabemos as horas intermináveis neste processo e, quantas vezes, sem sucesso. A IA veio mudar esse paradigma, ao permitir que a procura possa ainda ser mais detalhada e personalizada. Como? Através do uso de algoritmos avançados para encontrar imóveis que correspondam perfeitamente às necessidades e desejos dos clientes, poupando-se tempo e esforço e potenciando-se o sucesso da venda uma vez que se apresentam os ativos que melhor correspondem às necessidades pedidas pelos clientes.

Por outro lado, a IA permite-nos gozar tempos genuínos de folga e dá-nos a capacidade de desligar, elementos essenciais para o nosso bem-estar e serenidade. Podemos dar à IA a responsabilidade de ser esta a responder ao cliente 24/7, através, por exemplo de chatbots, que vão evoluindo nas suas respostas em função do que lhes é solicitado ou permitindo que os clientes possam fazer, por este meio, agendamento de visitas ou até esclarecer algumas dúvidas burocráticas que podem sempre surgir. E, no limite, até realizarem visitas virtuais aos imóveis selecionados, poupando tempo a todas as partes.

Podemos igualmente dar por bem empregue o tempo que a IA pode dedicar, de forma direcionada, naturalmente, à análise de tendências de mercado. Pela sua capacidade de self learning, a IA tem a capacidade de analisar grandes conjuntos de dados para identificar tendências de mercado e prever mudanças nos preços das propriedades, algo que é uma enorme mais-valia para compradores e para vendedores, minimizando eventuais riscos financeiros.

Uma outra vantagem, que não é de somenos, é a capacidade de se usar a IA para segurança e verificação de antecedentes de compradores e vendedores, bem como identificar possíveis riscos legais ou financeiros inerentes na operação. Fazer esse background check, com o auxílio da IA, ajuda a proteger todas as partes envolvidas e a garantir transações mais seguras e transparentes.

Podemos, em conclusão, afirmar que a IA está a redefinir a mediação imobiliária, tornando esta atividade mais eficiente, segura e conveniente. Cabe a todos nós saber a melhor forma como a poderemos usar em nosso benefício, sendo certo que, o futuro da mediação imobiliária será, sem dúvida, alimentado pela inteligência artificial.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico