"Problema em Portugal é falta de qualidade de vida" afirma Comissária Elisa Ferreira
A comissária europeia Elisa Ferreira considerou hoje difícil que sejam canalizados novos fundos no imediato para o problema da habitação, admitindo que, no futuro, possa haver fundos da coesão para esse objectivo se sujeitos a visão de longo prazo.
“A habitação é um poço sem fundo. Onde vamos parar se formos financiar a habitação? Não quer dizer que não o possamos fazer, temos de trabalhar muito bem para que, sem uma lógica de fundo de reequilíbrio, não se vá gastar verbas preciosas. (...) Convém não criar um instrumento que seja água no deserto”, disse durante uma entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e a Escola Superior de Comunicação Social, no âmbito dos 50 anos das comemorações do 25 de Abril e dos 40 anos do clube.
“No imediato vai ser difícil, mas quem sabe", acrescentou, pois a Comissão Europeia não decide sozinha e discute as áreas a intervir com o Parlamento Europeu e os governos.
Segundo a comissária, o objectivo da política da coesão é “ir a montante dos problemas e não correr atrás dos problemas” e quando os países e as regiões usam fundos europeus devem saber como se querem posicionar no futuro para que não venham a precisar de mais fundos de coesão, cujo o objectivo não é serem usados para financiar problemas imediatos sem visão de longo prazo.
Elisa Ferreira defendeu que Portugal precisa de fazer uma reflexão sobre os desequilíbrios existentes, desde logo na gestão do território, o que tem impacto na habitação.
No início de Setembro, o Governo português enviou uma carta à Comissão Europeia com as suas prioridades para 2024, na qual defendeu uma “Iniciativa europeia de habitação acessível”, dado o actual contexto económico marcado por elevada inflação, “em especial [sentido] por parte dos jovens”, segundo o programa de trabalho partilhado no ‘site’ do executivo.
“A falta de oferta imobiliária é um problema em muitas cidades e os encargos com habitação têm vindo a subir, ocupando já um espaço muito significativo no rendimento mensal das famílias europeias. Neste contexto, a Comissão Europeia deve estar atenta ao problema da escassez e aos altos custos da habitação, em consonância com objectivos de protecção do ambiente urbano e da coesão social, áreas em que, respeitando o princípio da subsidiariedade, compete à UE intervir”, argumentou o executivo de António Costa no documento.
Por este ser um “problema transversal a toda a União”, o Governo socialista pediu “instrumentos capazes de assegurar o acesso de todos a uma habitação condigna a custos acessíveis”, o que passa pela “necessidade de uma intervenção estadual” para o arrendamento acessível, lia-se ainda no programa de trabalho.
“A questão é saber se os salários permitem qualidade de vida. E percebemos que isso não acontece. Gerações qualificadas não conseguem encontrar empregos e esquemas de vida que garantam um mínimo de qualidade”
Falta de qualidade de vida em Portugal
A comissária europeia para a Política de Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, considerou hoje que o problema em Portugal é a falta de qualidade de vida, já que salários insuficientes levam muitas pessoas, sobretudo jovens, a emigrar.
Defendendo a necessidade de repensar a situação, Elisa Ferreira afirmou que a questão a discutir não deve ser o nível dos salários, mas sim a possibilidade de ter qualidade de vida.
“A questão é saber se os salários permitem qualidade de vida. E percebemos que isso não acontece. Gerações qualificadas não conseguem encontrar empregos e esquemas de vida que garantam um mínimo de qualidade”, disse durante uma entrevista com cinco jornalistas portugueses.
Para a comissária, a solução da questão passa por olhar para a sociedade como um todo e por abordar, de facto, a questão da organização das pessoas no território.
“A lógica muito típica que é dizer que ‘a culpa é do Governo’, mas há que olhar também para as empresas e a sociedade”, reflectiu Elisa Ferreira.
Além disso, adiantou, a qualidade de vida “tem a ver com o equilíbrio geográfico que, em Portugal, é [uma questão] muito difícil de abordar”.
Neste momento “os centros de aglomeração expandem-se e expandem-se” e, por isso, há um desequilíbrio que é preciso tratar, adiantou, acrescentando ser essencial estimular a atracção para outros polos” e regiões.
Nas cidades mais povoadas, “os custos de transporte e deslocações estão dominados pelo imobiliário e geram custos insuportáveis”, o que se reflecte “numa perda enorme de pessoas, que acabam por emigrar”, mas também por défice demográfico.
A União Europeia regista “uma perda de 35 milhões de pessoas em idade ativa e Portugal é um dos países em défice”, sublinhou a comissária europeia, reiterando a necessidade de “pensar o território de uma forma equilibrada”.
Lusa/DI