Pretendemos carregar o carro eléctrico como se carrega um smartphone
Há quatro anos, a Powerdot foi pioneira na criação do conceito destination charging: carregar um elétrico não é algo que tem de fazer, mas um local aonde pretende ir. Por isso, os seus carregadores estão presentes em espaços onde as pessoas passam naturalmente o seu tempo; ou seja, em parques de estacionamento de acesso público de: shoppings, ginásios, escritórios, supermercados, hospitais, clínicas, hotéis (parceria recente com Grupo Accor: Ibis, Novotel, Mercure...), entre outros.
Esta nova forma de carregar (não se "atesta", mas carrega-se o possível) implica uma mudança de comportamento e de mentalidade por parte dos condutores, mas também uma nova forma de encarar o mobiliário e o desenho e a geografia de uma cidade (o carregamento deixa de ser um desvio e passa a estar integrado na rotina do condutor).
A Powerdot também foi inovadora no que diz respeito ao modelo de negócio, assegurando desde o início — de forma 100% gratuita — a instalação, a gestão e a manutenção dos carregadores, partilhando sempre com os proprietários desses mesmos espaços parte das receitas obtidas.
Actualmente, a empresa marca presença em seis países — Portugal, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Polónia — e tem como principais investidores o Grupo Arié e o fundo francês Antin, o qual em Maio de 2022 injetou na empresa 150 milhões de euros, constituindo, assim, a 2.ª maior ronda de investimento em startups que decorreu nesse ano no país.
José Maria Sacadura, fundador e general manager da Powerdot, em entrevista ao Diário Imobiliário, revela que a implementação dos carregadores na rede pública tem entraves burocráticos, nomeadamente no que diz respeito a licenciamentos municipais, ligações eléctricas ao operador de rede, inspecções, etc. mas a empresa quer chegar ao final de 2025 com 19 000 pontos de carregamento instalados na Europa. Isso significará um investimento total de mais de 300 milhões de euros.
Como é que os carros eléctricos podem alterar e influenciar a construção e os projectos imobiliários?
A presença de carregadores de carros eléctricos é cada vez mais uma expectativa do consumidcor. Mas, além disso, existem incentivos concretos para que isso aconteça. Especificamente, o artigo 14 do Decreto-Lei n.º 101-D/2020, o qual estabelece a criação de pelo menos dois pontos de carregamento para veículos eléctricos em todos os edifícios de comércio e serviços com mais de 20 lugares a partir de 31 de Dezembro de 2024. Para nós este é um forte indicador de que o futuro da mobilidade em Portugal irá ser eléctrico e de que a infraestrutura que suporta esta transição será uma necessidade real para quem está a pensar em investir em projectos imobiliários nos próximos anos.
Portugal está preparado para dar resposta ao aumento de carros eléctricos e ao seu respectivo carregamento?
A densidade de pontos de carregamento em Portugal é das melhores da Europa, todavia há muito trabalho a fazer. Primeiro, ao analisarmos onde estes pontos se encontram. Acreditamos no conceito de destination charging, ou seja, de que o destino do utilizador é também o local de carregamento. Sem desvios, tempos mortos ou a necessidade de planear o próximo carregamento. É importante olhar ainda para a distribuição destes pontos a nível nacional e considerar não só os grandes centros urbanos, mas também implementar soluções de carregamento em todo o país. Só assim o carro eléctrico se torna numa opção viável para todos. Por fim, é fundamental desenhar soluções de carregamento que complementem os comportamentos dos utilizadores. Ou seja, não só estar onde estes já passam naturalmente o seu tempo — centros comerciais, supermercados, restaurantes, hotéis, etc. —, mas também criar a solução adequada para cada um destes tipos de espaços.
Como é que a Powerdot está a preparar o futuro para quando o parque automóvel passar a ser todo eléctrico?
Existem duas linhas de acção que correm em paralelo. A primeira, focada no crescimento da operação. Começámos 2023 com cerca de 900 pontos de carregamento instalados e queremos chegar ao fim do ano com 1500 pontos em funcionamento em Portugal. Isso leva-nos à segunda questão. O conhecimento necessário para implementação e operação destes pontos. A instalação é um processo que tem bastantes dependências e a nossa escala permite-nos navegar nestes mesmos processos de forma ágil. É o nosso foco e sabemos como fazê-lo. Por outro lado, a operação de pontos de carregamento é complexa e traz desafios interessantes, como o apoio a utilizadores, a manutenção dos carregadores e até a implementação de novas tecnologias. Mais uma vez, o facto de termos presença em seis países na Europa permite-nos uma grande eficiência de escala, além de que conseguimos testar, aprender e implementar soluções muito rapidamente.
Que inovações traz ao mercado?
A nossa proposta de valor começa com o foco nas parcerias e no tipo de parceiros que procuramos. Desenhamos soluções de carregamento que dão resposta às necessidades dos clientes de espaços comerciais como: supermercados, centros comerciais, hotéis, restaurantes ou lojas de especialidade. As nossas soluções são chave na mão. Ou seja, investimos 100% dos custos de instalação, operação e manutenção e ainda tratamos de todos os passos, desde a assinatura do contrato até ao dia a dia da operação. Partilhamos lucros com o parceiro e temos soluções digitais de monitorização da operação disponíveis para que haja total transparência. Por fim, estamos constantemente a olhar para o futuro: quer sejam novas tecnologias de carregamento, integrações com aplicações, ou simplesmente processos. A Powerdot quer ser a referência de qualidade no carregamento de carros eléctricos.
Quais os principais obstáculos que encontram na aplicação e no aumento da rede?
Por vezes, a implementação dos carregadores na rede pública tem entraves burocráticos, nomeadamente no que diz respeito a licenciamentos municipais, ligações eléctricas ao operador de rede, inspecções, etc. Para quem está de fora dá a entender que instalar um carregar parece um processo simples, mas por detrás há burocracias que não ajudam à proliferação da rede. A Powerdot tem sido um agente dinamizador do mercado junto das várias entidades, tentando optimizar todos os processos e melhorar os timingsde instalação de carregadores.
Como é que encaram a rede de carregamento pública em Portugal, considerada a 4.ª melhor da Europa? Pode o país liderar esta transição na mobilidade?
Desde que a Powerdot surgiu em 2018, percebemos que em Portugal há uma curiosidade natural sobre a mobilidade eléctrica. É difícil de precisar de onde é que esta curiosidade vem, mas assistimos a outros sinais semelhantes quando o nosso país aposta nas fontes energéticas sustentáveis ou até na adopção rápida da micromobilidade nas cidades. Em termos de densidade de pontos de carregamento, Portugal está no grupo da frente; contudo, há ainda trabalho a fazer no que toca à distribuição destes pontos pelo território. A maior parte dos pontos está junto dos grandes centros urbanos, e queremos ter um papel significativo em tornar o carro eléctrico numa opção viável para todos. Porém, com a abertura que sentimos por parte dos nossos parceiros, aliada à curiosidade e à vontade de mudança que verificamos no comportamento dos condutores portugueses, acreditamos que Portugal poderá continuar a ser encarado como um exemplo a seguir.
Perspectivas para o futuro?
Estamos numa fase de crescimento muito significativa e temos objectivos ambiciosos. Queremos chegar ao final de 2025 com 19 000 pontos de carregamento instalados na Europa. Isso significará um investimento total de mais de 300 milhões de euros e um foco tremendo da equipa Powerdot. Mas, acreditamos que este ‘esforço’ não só será possível, como também será necessário para que se consiga cumprir a nossa meta: que carregar o carro eléctrico se torne tão conveniente como carregar um smartphone.