Não há nada como a nossa casinha
Contava-me o Padre Ricardo, um bom amigo infelizmente já falecido, que certo dia foi chamado a uma residência para ministrar a Extrema Unção a uma senhora de idade. A senhora em causa era uma devota católica fervorosa, pelo que, em jeito de desafio, me perguntava o Padre Ricardo o que se podia dizer nestas circunstâncias a alguém que, embora estivesse às portas da morte, estava igualmente prestes a ter a recompensa pela sua Fé.
O Padre Ricardo lá se deslocou à residência da senhora, D. Maria de seu nome, pediu inspiração ao Espírito Santo e confortou-a o melhor que sabia e que podia. No final, quando se estavam a despedir, diz-lhe qualquer coisa deste género: “Em breve vai ver o Criador e estar bem perto de Deus. E isso é bom, não é?”. A D. Maria, muito séria, virou-se para ele e respondeu-lhe assertivamente: “Oh senhor Padre, isso é tudo muito válido, mas não há nada como a nossa casinha”.
Serve este pequeno episódio para mostrar que, se há algo que este vírus e esta quarentena expuseram foi que é fundamental estarmos bem no sítio onde vivemos. No final de contas, mesmo agora, em que parece que o pior disto tudo está, até ver, no passado, continuamos a passar muitas horas entre quatro paredes.
Para lá do humor criado à volta do dever de recolhimento obrigatório com a nossa família, do suposto aumento de divórcios ou das juras e promessas de amor eterno, há já um dado indesmentível e que, quero acreditar, irá tornar-se tendência: um aumento do interesse por moradias em detrimento de apartamentos e, nos apartamentos, a subida na busca por outras tipologias, mais desafogadas e que permitam às pessoas ter espaço. E terraços, quintais, varandas e jardins. Vale tudo para que as pessoas fujam da sensação claustrofóbica de estar presas em casa.
Por outro lado, não nos podemos esquecer que o fenómeno do teletrabalho veio para ficar, o que irá, não apenas reforçar o que foi dito nos parágrafos anteriores, como levará as empresas aos poucos, a equacionar redimensionar o espaço que ocupam, alugando ou comprando imóveis mais pequenos.
Seja como for, em qualquer um dos cenários que acima descrevi, há um sector que irá aproveitar em pleno estes novos tempos. O imobiliário vai, por isso, continuar a crescer, a adaptar-se e a ser uma actividade essencial para as pessoas, as famílias e as empresas. Saibamos pois, estar a altura destes desafios, os mesmos de sempre, com roupagens diferentes: arranjar as melhores soluções para que, quem nos procura, saiba encontrar com a nossa ajuda, a felicidade aqui na Terra. Porque está visto que, nestas coisas, como noutras, não há nada como a nossa casinha.
Francisco Mota Ferreira
Consultor Parcial Finance