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Covid-19, um mal que vem por bem?

12 de maio de 2020

Muito se tem especulado nas últimas semanas quanto ao flagelo que a pandemia de covid-19 irá provocar na economia a nível global e nacional, augurando-se uma recessão económica com consequências negativas para diversos setores. Mas será assim tão mau no imobiliário em Portugal, para miúdos e graúdos?

Não devemos ser nem otimistas nem pessimistas por natureza, mas sim realistas por necessidade. Como tal, nem tudo é mau por várias razões de ideias.

Para começar, a crise económica vivida deriva de uma externalidade sanitária que os avançados meios da ciência se apressarão a debelar para posteriormente passarmos para uma situação de retoma muito mais rápida que na crise de 2008.

Por outro lado, a verdade é que os preços de mercado vinham sendo inflacionados nos últimos anos de tal forma que muitos portugueses, e sobretudo estudantes e jovens tinham dificuldade em fazer face aos preços praticados na compra e venda de casas, bem como no âmbito do arrendamento. Ora, não é por uma pandemia, que nos limitará no curto prazo, que este mercado vai colapsar até porque existem fatores que o impulsionam ainda mais como é o caso do teletrabalho e da desvalorização dos preços vivida atualmente, o que dará azo a boas oportunidades de negócio do lado dos compradores, evitando uma estagnação de income para os vendedores.

Por outro lado, esta é uma ótima a altura para proceder a manutenção e reparação dos imóveis destinados a arrendamento, comércio ou habitação pois a desvalorização dos preços não se verifica apenas no imobiliário, mas também nas atividades subjacentes onde se encontra o mercado dos empreiteiros.

Ainda assim, é necessário fazer uma ressalva para a retoma do mercado em condições melhores do que as atuais para não serem repetidos os erros do passado. A banca terá de ser mais minuciosa na recuperação da economia no que à concessão de créditos e empréstimos diz respeito, fazendo um juízo de prognose póstuma sobre a capacidade financeira das famílias. Um ótimo dado para fazer esta análise é olhar para os beneficiários das atuais moratórias de crédito e perceber se conseguirão satisfazer os juros posteriormente pedidos pelas instituições financeiras, pois apesar de as previsões económicas para Portugal serem mais favoráveis do que outros países europeus como Espanha e Itália, o desemprego deverá aumentar.

Numa nota rápida, é ainda de fazer uma referência ao setor do turismo cuja principal arma para a retoma deverá ser a implementação de um regime fiscal mais facilitado para voltar à ação depois de uma paragem quase total de atividade, e numa situação muito mais complicada que o mercado imobiliário.

Posto isto, a atual situação sanitária tem repercussões menos positivas ainda que nem tudo sejam más notícias desde que o mercado, os reguladores e os legisladores se saibam comportar de forma solidária para proceder a uma recuperação o mais rapidamente possível, adotando, se necessário, uma postura de “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”.

Vasco Garcia

Estudante da Faculdade de Direito de Lisboa

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico