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Opinião

 

Evitar males maiores

16 de abril de 2020

As medidas de combate à pandemia estão a afetar a vida das pessoas e das empresas, nas dimensões económica e financeira, de forma verdadeiramente dramática.

Ainda não vamos a meio e as consequências ao nível dos rendimentos e do emprego já estão a assumir proporções assustadoras. Centenas de milhares de empresas estão paradas ou foram seriamente afetadas e a paralisia de muitas atividades e mesmo de setores inteiros, como o do turismo e das viagens, vai precipitar, a curto prazo, uma onda de falências e de desemprego do qual será muito difícil recuperar.

Que o Estado devia ter ido mais longe para assegurar a sobrevivência destas empresas e dos empregos, devia. Se podia, não sabemos. Mas a fatura a pagar no futuro vai ser muito maior.

A construção foi, até agora, um dos setores menos afetado. Os estaleiros não foram obrigados a encerrar, nem tão pouco a indústria e a cadeia de distribuição que assegura, a montante, o fornecimento dos materiais e produtos necessários. Há constrangimentos, cuidados redobrados, algumas falhas nas equipas ou pequenos atrasos na logística, mas, no essencial, subsiste alguma normalidade.

Dentro da fileira, o maior impacto e imediato, sentiu-se na atividade imobiliária. Seja pela impossibilidade de os mediadores realizarem o seu trabalho, seja porque alguns segmentos, como o do alojamento local ou a hotelaria, viram reduzida a quase zero o respetivo mercado (e não se sabe por quanto tempo), seja porque, pelo menos momentaneamente, a atividade de investimento foi suspensa.

A questão é quão grave se pode tornar esta paragem para o futuro do setor imobiliário e da construção, que, juntamente com o turismo, foram os motores da recuperação económica e do crescimento no período pós-regate.

Neste momento ainda não é possível antecipar qual vai ser o cenário do investimento imobiliário no período pós pandemia. Continuará a ser tanto ou mais atrativo? Mas uma coisa é certa, se a normalização económica demorar mais de seis meses a um ano, muitas intenções de investimento serão adiadas e alguns que estão em curso poderão vir a ser suspensos, pelo clima de incerteza que poderá afetar o financiamento ou as hipóteses e preços de colocação do produto final no mercado. Já temos notícias de casos em que o dono de obra mandou parar…

Entre nós, a perda de rendimentos das famílias afetará as atividades de manutenção e reabilitação dos imóveis e, sobretudo, a capacidade de endividamento para aquisição de casa. Uma retração da procura final neste setor é expectável e poderia ser contrariada com estímulos e apoios reforçados à eficiência energética e por maior estímulo ao investimento no mercado de arrendamento.

Independentemente do grau de redução, terminada a crise sanitária nunca estaremos de volta ao ponto em que o sector se encontrava antes dela começar. O ponto de partida não será o zero, mas as condições serão muito diferentes e será absolutamente indispensável montar uma nova estratégia, a qual terá que passar pelo reforço das ações e medidas de atração do investimento externo, fundamental para continuar a trazer para Portugal os capitais que não temos.

José de Matos

Secretário-geral da APCMC – Associação dos Materiais de Construção

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico