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Deus não dorme

13 de dezembro de 2021

Recordar-se-ão certamente de vos ter contado aqui há uns meses atrás a história de ter lidado com uma ovelha negra do imobiliário, mais um consultor dos poucos que, felizmente, tenho numa lista à parte e cujos números estão gravados como “não atender”.

Recordo-vos aqui, em traços gerais o que aconteceu. Este “consultor” (entre aspas, porque o título também se merece e a profissão precisa de ser dignificada) apareceu através de uma pessoa da minha confiança à procura de um prédio para um investidor. Na altura, pedi ajuda a um parceiro meu com quem trabalho com regularidade e encontrámos uma solução que seria um fit para o que era pretendido. Porém, havia um problema adicional: ainda não havia CMI assinado. Mas como havia uma suposta urgência do nosso “colega” e do investidor que este representava (e porque nos tinha chegado através de alguém que me merece credibilidade) cometemos o erro de ir tratar do CMI já depois das visitas feitas.

Moral da história, fomos atrás do prejuízo porque esta ovelha negra foi directamente ao proprietário e fez o CMI que nós deveríamos ter feito, passado por cima de nós, não honrando a palavra dada e, pensávamos nós, que tinha vendido a sua honra e dignidade por meia dúzia de tostões.

Confesso-vos que, na altura, fiquei aborrecido. Não porque não saiba que isto, infelizmente, acontece. Mas por precisamente saber que isto acontece, tenho, ao longo da minha vida imobiliária, tomado as necessárias precauções para que tal não aconteça, rodeando-me de pessoas da minha confiança e, muito raramente, sair deste círculo que foi criado entre todos nós.

Foi, por isso, com uma enorme satisfação que recentemente recebi um telefonema do meu parceiro neste negócio a dar-me conta que o imóvel que a ovelha negra nos tinha roubado estava novamente no mercado. Ingenuamente, ainda perguntei se o suposto investidor tinha comprado para revender no imediato, ganhando com isso alguns cobres. Seria poucochinho, é verdade, mas se calhar, este investidor podia seguir a mesma bitola de quem por ele era representado e contentar-se, por isso, com pouco. 

Mas, afinal não. O investidor foi ao Banco para pedir um empréstimo(?) para comprar o imóvel em questão e o empréstimo foi recusado. Moral da história, o proprietário que já se tinha queimado connosco à conta de um negócio que estava certo, aborreceu-se com isto, denunciou o contrato com a ovelha negra e este imóvel está novamente no mercado, e a um preço mais baixo do que estava quando o negócio podia ter acontecido há uns meses atrás. Deus, de facto, não dorme.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).