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Opinião

 

As escalas

8 de março de 2021

Quem me acompanha por aqui, vai certamente apercebendo-se que eu sou mais ligado às pessoas do que às empresas ou às marcas. Acredito que, num negócio que foi pensado para ser de pessoas para pessoas, o importante é a relação que criamos entre nós e os nossos clientes ou entre nós e os nossos parceiros. E, obviamente, todas as oportunidades que temos – ou que nos são dadas para aprofundar esta relação – devem ser consideradas como tempo bem gasto e um investimento para nós e o nosso sucesso.

Dito isto, sempre me fez uma enorme confusão que as agências de imobiliário usem estas premissas e estes argumentos que vos referi no parágrafo anterior – com mais ou menos floreados - para explorar o desgraçado do consultor recém-chegado à agência e obrigá-lo a fazer escalas.

As escalas, para quem não conhece a gíria, são algumas horas que a agência impõe que o consultor faça no escritório. E digo impõe porque conheço muito poucas marcas onde a questão das escalas não surge no pacote de obrigações que o consultor deve ter para com a empresa. Para estas, o argumento principal que defendem junto dos colaboradores é o de que os potenciais leads que este recebe neste período são-lhe entregues. Leads que, como sabemos, também potencialmente, poderão gerar negócio. Isto é a teoria.

Na prática, o que acontece é um claro abuso da agência para o seu colaborador que, recordo, não é funcionário da empresa, mas sim um trabalhador independente que presta um serviço. Um abuso porque, a coberto da escala, a agência não precisa de ter alguém a fazer de telefonista/recepcionista (que seria, naturalmente, paga) e tem o desgraçado que está por lá aquelas horas à espera que apareça a mosca branca.

Convém talvez aqui realçar que, apesar do que disse em cima, não me considero um fundamentalista das escalas. Acho que podem ser importantes para quem, por exemplo, é burocraticamente desorganizado e pode potenciar essas horas na semana para inserir imóveis no CRM, tratar do seu CDI, estar atento ao que se passa na empresa ou outro qualquer motivo que possa justificar (mais) este trabalho pro bono.

No meu caso, confesso-vos que as poucas escalas que fiz foram sempre um enorme bocejo e um gigantesco disparate. Porque, por norma, tinha sempre o meu trabalho organizado e não precisava daquelas horas para estar dedicado ao CRM. Porque achava uma tontice fazer cerca de 200 quilómetros para ter um lead em potência quando, pelo mesmo número de horas ao telefone, conseguia arranjar mais. E porque são mais os casos que conheço de pessoas que acham as escalas uma perda de tempo do que os que as defendem.

Claro está que esta é apenas a minha opinião sobre algo que considero uma exploração e uma imposição feita aos consultores.  Felizmente, o sector é abrangente o suficiente para que eu possa ser contrariado por quem adora fazer escalas. Porque precisa deste tempo para se organizar ou apenas porque conseguiu um lead, que lhe deu um negócio de 5 mil contos. Em 1987, obviamente.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário