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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Nós somos os nossos próprios coveiros

30 de setembro de 2024

Este é um daqueles artigos que sei que vai provocar imensa comichão a muita gente e vão muito depressa aparecer os indignados da praxe. Mas, hoje, que me desculpem as alminhas mais sensíveis, quero falar-vos da pequenez, da inveja e da maledicência que grassa neste sector.

Nós somos os nossos próprios coveiros, ao anunciarmos mundos e fundos de sucesso, ao proclamarmos que somos o melhor da nossa rua, com um prémio de pechisbeque à altura, ao mesmo tempo que enganamos, mentimos aldrabamos e tentarmos criar a nossa própria verdade.

Também sei que, felizmente, a árvore não é a floresta, e há imensa gente boa no sector, em quem podemos confiar e com quem é um gosto trabalhar. E imaginem: até ficarmos amigos. Mas também há aldrabões, escroques, gente sem nível e sem princípios que adora enganar o próximo, desvalorizar o sucesso alheio e tentar denegrir o alvo maior da inveja que sentem.

E, até posso não fazer mercado residencial há anos, mas caramba, dêem-me o benefício da dúvida de saber alguma coisa do que aqui escrevo. Não apenas porque me chegam histórias que fariam corar a Cicciolina de vergonha (um dia partilho-as), como também recebo a minha quota parte de insultos por defender muitas vezes algo que não é do agrado de alguns.

Não deixa de ser curioso que estes indignados são os mesmos que aparecem quando venho falar de falta de ética ou seriedade. Já para não falar que, por aqui, nas tertúlias onde vou ou nas conversas com outros profissionais, apenas estou a formular a minha opinião sobre um sector que, desculpem-me a imodéstia, já acompanho a alguns anos. O que, acho, me permite ter uma opinião fundada e fundamentada sobre alguns dos temas que, recorrentemente, afligem este mundo imobiliário.

Será que os meus maiores críticos serão aqueles que, como se diz, em bom português, enfiam a carapuça em relação aos reparos que formulo? Fica aqui a dúvida...

Há uma coisa que vem dos livros e, se repararem bem, se aplica não apenas no imobiliário, mas em tantas e tantas vertentes da nossa vida. Quem não sabe não estraga e é por isso que tenho imensa admiração por inúmeros consultores de sucesso que muita gente nem sequer sabe quem são. Discretos, fazem a sua vida, realizam os seus negócios e não andam nas redes a anunciar os prémios estrela, constelação ou galáxia que recebem.

Curiosamente, muitos destes casos são de consultores que fazem, por norma, plenos. Não precisam de partilhar com ninguém, angariam o ativo sem enganar e procuram fazer o seu trabalho de forma a que todas as partes saiam felizes. São os que recebem por mail os elogios dos clientes satisfeitos, são os que não entram nas tangas de dizer mal de toda a gente só porque sim e são também os que não vão às galas das marcas para receber umas cenas de plástico e uns A3 em cartolina ou papel couché. E são os que qualquer marca ou agência gostaria de ter do seu lado.

O segredo é a alma do negócio. O ditado é antigo e devia estar escrito em cada uma das paredes das agências. E, já agora, nas paredes dos quartos de cada um dos consultores. Para que, quando estes se levantam para ir trabalhar, tenham noção que o importante é fazer e não fingir que se faz. E, obviamente, não perder tempo a criticar quem tem mais sucesso que eles. Mas, se calhar, isso também acontece por algum motivo.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico