Impacto do aumento da Inflação e dos juros no mercado imobiliário
Os últimos três semestres foram muito positivos, talvez os mais dinâmicos da última década. Em 2021 tivémos um acentuado crescimento de 76% face ao ano anterior, e este ano o crescimento mantém-se forte. Estes dados mostram-nos que com a guerra, pandemia e pós-pandemia, o imobiliário é o investimento mais seguro e rentável. Nunca tivémos os portugueses tão activos no mercado, tanto para habitação própria como especialmente para investimento.
Mostra-nos também que Portugal é um país muito atractivo para quem procura segurança e qualidade de vida. Muitas nacionalidades nos procuram. Para além dos que mais nos têm procurado nos últimos anos, como brasileiros e franceses, destacamos os norte-americanos, e assistimos à integração de famílias completas, bem como de reformados, e mais recentemente clientes com um perfil de nómadas digitais.
Mas porquê esta dinâmica e apetite tão grande dos portugueses e estrangeiros para a aplicação das suas poupanças no mercado imobiliário português?
Para quem tem hoje poupanças disponíveis não há melhor solução do que retirar o dinheiro do banco e investir em imobiliário. Imaginemos um investidor ou família com um milhão de euros disponíveis, com uma inflação de 7%, vai perder €5.000,00 por mês se não aplicar este montante num ativo rentável. O mesmo acontece com os estrageiros que têm o mesmo problema de inflação, e que encontram em Portugal um mercado imobiliário maduro a um preço muito inferior aos seus países de origem. Estes são os agentes que fazem aumentar a procura.
Mas temos o efeito oposto que pode levar à retracção do mercado.
A grande maioria das famílias não tem poupanças. Infelizmente, vivem com um orçamento mensal sem folgas. Uma inflação de 7%, representa menos €70 por mês por cada €1000 de rendimento. Se somarmos a isso o aumento das taxas de juro que não só se refletem na prestação da casa mas também na do carro, chegamos à conclusão que uma família com um rendimento disponível médio de €2500,00/mês e um empréstimo à habitação, de repente, nos dois últimos meses, ficou com menos €400 a €500 por mês. E estes são os agentes que não vão procurar casa tão cedo.
Este efeito de redução do lado da procura, não é imediatamente visível. Mas em breve terá o seu impacto no mercado.
Qual destas duas forças contrárias vai ter mais impacto no mercado?
Os agentes que têm disponibilidade para investir, o fazem-no, em princípio, no mercado médio alto e alto. É por isso de esperar que estes não sejam afectados e continuem com a dinâmica dos últimos anos, muito impulsionados também pelos estrangeiros que continuam a procurar o nosso país para viver e investir.
Os mercados médio e médio baixo é possível que venham a ressentir-se, especialmente se a inflação se mantiver alta por muito tempo, e se os rendimentos das famílias não acompanharem a perda de rendimento, o que é o mais provável.
No entanto, é curioso verificar que muitos dos portugueses com poupanças investem em imóveis do mercado médio para arrendamento, pelo que de alguma forma poderão compensar a falta de procura que este mercado irá registar.
Rafael Ascenso
Director Geral da Porta da Frente Christie’s
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico