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Francisco Mota Ferreira
Por um punhado de dólares
Pedi emprestado o título deste meu artigo a um filme fantástico italo-americano dos anos 60 do século passado, que foi peregrino para a Sétima Arte em duas circunstâncias temporais felizes: foi o primeiro filme onde Clint Eastwood se estreou num papel principal e foi também a estreia do género Western Spaghetti. As sequências que se lhe seguiram não fizeram justiça ao género, mas o facto de Eastwood ter participado nesta trilogia permitiu-lhe ser conhecido do grande público e ascender ao estrelato dos deuses de Hollywood, algo que era um pouco mais difícil se pensarmos no que acontece nos dias de hoje.
E porque já estarão certamente a perguntar o que é isto tem a ver com o sector imobiliário, peço-lhes mais um pouco de paciência para lerem as próximas linhas sobre o enredo do filme, que nos conta a história de um pistoleiro sem nome que chega a San Miguel, uma cidade mexicana próxima à fronteira com os Estados Unidos. Esta cidade é dominada por dois gangues rivais – os “Rojos”, que contrabandeiam bebidas, e os “Baxters”, que fazem o mesmo com armas. O pistoleiro cedo percebe as dinâmicas da cidade e aproveita-se da rivalidade entre os dois grupos, trabalhando para ambos.
No imobiliário, como tão bem sabemos, embora às vezes tudo pareça um bocadinho faroeste, cedo percebemos que há quem queira colaborar com todos, na ânsia de maximização do lucro, procurando plenos, trabalhando ao mesmo tempo vendedores e compradores e tentando ser uma espécie de catch all de todas as oportunidades possíveis.
É, digamos, uma opção legítima, até porque, consoante as oportunidades, às vezes o consultor está a trabalhar do lado do comprador e outras do lado do vendedor. E porque a profissão lhe ensina a ter a capacidade de se adaptar às circunstâncias, não me parece um crime de lesa Pátria que se possa ter sucesso com esta elasticidade, desde que se esteja preparado para trabalhar com vários “chapéus”. Diz quem sabe que o problema nesta diversidade acaba por ser a falta de especialização, algo que, quem está de fora, acusa o sector de forma useira e vezeira (e, convenhamos, nem sempre justa).
O Senhor meu Pai sempre me disse que, quando tentamos ser especialistas de tudo, acabamos por ficar peritos em nada, com todas as consequências que daí possam advir. Eu acrescentaria que essa generalidade se reflecte também na forma como dizemos (ou fazemos) tudo e o seu contrário, consoante estamos a defender um ou outro tipo de cliente.
Como no surf, haverá certamente quem possa picar várias praias e passar toda uma vida a apanhar ondas pequenas (e ficar feliz, porque acha que, dessa forma, conquista as miúdas mais giras das várias praias). Mas, quem gosta de desafios e de ondas gigantes, sabe bem que precisa de ter a coragem de rumar à Nazaré, ao Hawai ou a Bali para apanhar aquela que sabe que será a onda da sua vida.
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).