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Opinião

Francisco Mota Ferreira

I want you for the U.S. Army

8 de agosto de 2022

Em 1917, os EUA tomaram a decisão de entrar na I Guerra Mundial. E, num esforço para convencerem os norte-americanos a combater no teatro europeu num conflicto que muitos não viam como deles, surgiu um cartaz de propaganda (talvez, diria eu, um dos posters de guerra mais conhecidos dos EUA). Neste, o Tio Sam apontava o dedo para quem o via, apelando ao recrutamento de soldados norte-americanos para o conflicto mundial. “I want you for U.S Army” rezava o mote do poster, numa iniciativa que, como sabemos, teve um sucesso imediato e levou milhares e milhares de jovens a alistarem-se para a “guerra na Europa”.

Lembrei-me deste cartaz e da história do mesmo quando aqui há uns tempos li no Diário Imobiliário uma notícia que dava conta que o Imobiliário é um dos sectores que mais precisa de profissionais. De acordo com os registos do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), faltam candidatos para as ofertas de emprego, nomeadamente actividades imobiliárias e administrativas, alojamento e restauração e construção.

Se considerarmos, em termos globais, o que a notícia refere, qualquer um de nós estará, à partida, na posição confortável de dizer que, naturalmente, concorda. A falta de profissionais nas actividades imobiliárias é algo que é uma constante e propaga-se a praticamente todos os sectores de actividade que lidam com o imobiliário - consultores, agências, promotores, banca, investidores… - onde o amadorismo chega a ser, por vezes, confrangedor.

Já aqui escrevi e reafirmo: faltam verdadeiros profissionais, mas também falta ética e seriedade, num sector que adora viver na nebulosidade de regras difusas e de profusão de players. O imobiliário continua a ser bastante atractivo para diversos stakeholders. E, talvez por isso, seja tão fácil aqui chegar e começar a “trabalhar”, reforçando a má fama que, infelizmente, mancha todos por igual: os que querem fazer um trabalho sério, digno e honesto e, vamos por assim, os outros.

Mas, porque as coisas não são tão lineares como às vezes se quer fazer parecer, é talvez por isso curioso perceber que, afinal - e considerando o que é dito neste artigo que vos referi - há uma carência de bons profissionais que estejam ligados às actividades imobiliárias. Tendo em conta o que se vai lendo e sabendo sobre o sector, esta notícia, levada à letra, faz, infelizmente, todo o sentido.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).