Há sinais de que a expansão do mercado imobiliário dos últimos anos poderá estar a chegar ao fim
O Banco Central Europeu (BCE) no Relatório de Estabilidade Financeira divulgou hoje que a autoridade monetária da zona euro reconhece que está a aumentar a probabilidade de uma recessão na zona euro.
Os sinais de viragem” no ciclo do mercado imobiliário referidos pelo BCE “podem somar-se às vulnerabilidades existentes nos rendimentos e nos balanços - activos vs passivos - das famílias da zona euro”.
De acordo com o BCE, “embora se tenham moderado um pouco, os mercados imobiliários da zona euro continuaram a subir a ritmos nominais de quase dois dígitos no segundo trimestre de 2022. Porém, as indicações dadas sobre as famílias acerca da sua intenção de comprar ou construir casa apontam para uma inversão do ciclo, atribuindo essa mudança ao 'aumento brusco' das taxas de juro em novos contratos de créditos feitos a partir do início deste ano".
Os financiadores de crédito imobiliário, para promoção ou compra, “mais cautelosos”, estão nos níveis mais elevados dos últimos cinco anos e as estimativas que se fazem sobre eventuais sobrevalorizações. O Banco Central Europeu acrescenta ainda que “uma fatia crescente dos investidores vêem o mercado a entrar na fase descendente do ciclo, a julgar por inquéritos recentes” – e caso exista uma “correção mais pronunciada isso poderá levar a perdas entre os investidores, maior risco de crédito para os bancos e um declínio dos valores das garantias colaterais -a financiamentos”.
Sobre o relatório divulgado, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, advertiu para o aumento da probabilidade de uma recessão técnica na zona euro, ou seja, dois trimestres consecutivos de contração económica.
Guindos alertou para o aumento dos riscos para a estabilidade financeira quando apresentou o relatório semestral da instituição sobre o assunto.
"As pessoas e as empresas já estão a sentir o impacto do aumento da inflação e do abrandamento da actividade económica", disse Guindos.
"A nossa análise é que os riscos para a estabilidade financeira aumentaram, enquanto uma recessão técnica na zona euro é mais provável", acrescentou o vice-presidente do BCE.
"Ao mesmo tempo, as condições financeiras tornaram-se mais rigorosas à medida que os bancos centrais atuam para controlar a inflação", de acordo com a instituição monetária europeia.
O BCE começou a aumentar as suas taxas de juro em Julho e estas estão actualmente em 2%, embora se espere que as aumente ainda mais.
As famílias, as empresas e os governos que têm dívidas mais elevadas são os que enfrentam mais problemas face à subida das taxas de juro, mas também os mercados financeiros, em particular alguns fundos de investimento.
Os problemas poderiam aparecer simultaneamente e reforçar-se mutuamente.
As empresas também enfrentam mais desafios "devido aos preços mais elevados da energia e a outros custos dos fatores de produção" e os seus lucros irão diminuir à medida que os custos de financiamento aumentarem.
"Se as perspetivas se deteriorarem ainda mais, não se pode excluir um aumento da frequência de incumprimentos por parte das empresas, especialmente no caso de empresas com utilização intensiva de energia", prevê o BCE.
LUSA/DI