Figueiró dos Vinhos: Empresa de óleos essenciais ajuda a limpar a floresta
Das folhas de eucalipto que povoam terrenos de Figueiró dos Vinhos e de concelhos limítrofes, no distrito de Leiria, saem óleos essenciais para incorporar em produtos farmacêuticos, alimentares, cosmética ou detergentes, num trabalho que ajuda a manter limpa a floresta.
“Eu diria que não fomos nós que escolhemos, mas foi mais Figueiró dos Vinhos que nos escolheu”, diz a responsável técnica e de produção da empresa Scents from Nature.
Maria Emília Marques recuou a 2017, ano dos incêndios de Pedrógão Grande, que atingiram também, entre outros concelhos, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, os três municípios onde decorrem as comemorações do Dia de Portugal, para explicar o caminho que a empresa fez.
“Depois de 2017, com os incêndios, verificou-se que talvez pudéssemos ser úteis aqui para limpar um pouco dos restos que ficam nas matas aquando do corte dos eucaliptos”, adiantou Maria Emília Marques, referindo que, dos três municípios que receberam o projecto, a Câmara de Figueiró dos Vinhos, no norte do distrito de Leiria, “respondeu com uma rapidez incrível”. A um domingo.
“Não deixar nada ao abandono...”
A região escolhida pela Scents from Nature era esta, “porque era uma zona em que o eucalipto é rei”, pelo que havia facilidade a aceder à matéria-prima.
“Por outro lado, queríamos ajudar, de certa forma, na manutenção da floresta, não deixando nada ao abandono e recolhendo tudo o que era sobrantes que, normalmente, ficam e depois são uma fonte de incêndio”, adiantou.
E é na floresta que tudo começa, quando os madeireiros cortam os eucaliptos: a madeira vai para as celuloses; os ramos (pontas) que ficam no chão para a empresa.
“Aqui, trituramos a folha agarrada ao pequeno ramo. Tudo o resto, a madeira e a folha que depois fica desidratada, vai para parceiros que utilizam para biomassa, pellets ou para produção de energia”, esclareceu Maria Emília Marques. Ou, por outras palavras, a aplicação da Lei de Lavoisier: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
No processo de extracção/destilação, o óleo é extraído da folha através da passagem de vapor de água e separado no decantador.
“O óleo tem uma composição química predefinida e, se o quisermos enriquecer, levamos a uma torre de destilação em que se pode destilar” de acordo com a especificação pedida pelo cliente.
A empresa começou a laborar em Outubro de 2022, num investimento inicial de 3,7 milhões de euros, e vai avançar com a ampliação.
Em 2023, o ano zero da empresa, foram trabalhadas entre 600 e 700 toneladas de sobrantes de eucalipto, tendo resultado três mil quilogramas de óleo.
“Dessas 600 toneladas, cerca de 40%, 30% é que é folha”, declarou, antecipando que este ano a empresa vai “mais do que duplicar a produção” de óleos essenciais.
Falta de mão-de-obra...
Com 17 trabalhadores, sete dos quais estrangeiros (os nacionais são todos da região), a Scents from Nature reconheceu dificuldade em contratar mão-de-obra, qualificada ou não, o que é um constrangimento para aumentar a produção.
Produzindo essencialmente para exportação, Maria Emília Marques destacou as vantagens de a empresa estar em Figueiró dos Vinhos, onde “a matéria-prima está à mão”. Mas há coisas que limitam a actividade da empresa, instalada numa zona industrial pequena com casas próximas e com rede de Internet “muito má”.
A empresa, que ajuda a floresta a manter-se limpa, notou que na região “são terrenos muito inclinados e pequeninos”.
“E os custos dos nossos fornecedores de matéria-prima, para tirar de sítios difíceis é grande e lá ninguém vai ver, portanto, ficam lá em baixo. Quando é visível e quando o dono do terreno diz ‘não, ele tem de ser limpo, tem de tirar tudo’, para nós é uma vantagem, porque apesar de pagarmos, é uma forma de eles tirarem. Muitas vezes é fácil deixar lá, não se vê e o custo de tirar dessas zonas cá para cima é grande”, alertou esta responsável.
Nestas contas, há aspectos a considerar: “o gasóleo é caro, as máquinas também, a mão de obra não existe”, adiantou a engenheira.
Reconhecendo que a empresa é “uma mais-valia” na região, pois “tem tirado, de facto, muitas toneladas de rama” de terrenos, Maria Emília Marques notou, contudo, que fica “lá muito ainda”.
As comemorações do Dia de Portugal centram-se este ano em Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, concelhos fustigados pelos incêndios de junho de 2017, de que resultaram 66 mortos e 253 feridos, além da destruição de casas, empresas e floresta. Recorde-se também que se assinala amanhã, dia 05 de Junho, o Dia Mundial do Ambiente.
Lusa/DI