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Opinião
Paulo Brehm, consultor de sustentabilidade

Paulo Brehm, consultor de sustentabilidade

E se reinventássemos a cidade?

3 de junho de 2025

Se houver boa vontade de todos os intervenientes — desde o anónimo residente até quem decide nos Paços do Concelho (ou nos Governos, quando for caso disso) — a cidade pode mesmo transformar-se. Não de um dia para o outro, mas passo a passo, ideia a ideia, rua a rua. E sem politiquices — o bem-estar não é exclusivo de nenhum quadrante político.

Imagine então uma cidade onde o ar é mais limpo, os sons mais suaves, o verde mais presente. Uma cidade onde o espaço público é, de facto, pensado para as pessoas. Onde há zonas pedonais de verdade, transportes públicos que funcionam e ciclovias que não acabam no meio do nada, sem explicação nem continuação.

E onde o lixo não se acumula nas ruas, nas praias ou nos jardins. Porque sim, ele aparece — fruto da distração, do descuido generalizado, da falta de civismo — tanto de muitos dos que cá vivem, como dos que nos visitam. Mas cabe à cidade antecipar, prevenir e agir. Não basta limpar depois. É preciso evitar antes, sensibilizar, educar — jovens e menos jovens — e ter também uma força de segurança que intervenha, sempre com simpatia e um sorriso — mas também com firmeza — nesse trabalho.

Depois há o som. O das buzinas, dos motores, dos tuk tuks que entopem já algumas ruas e zonas que são de todos. Ninguém propõe proibir — longe disso. O turismo precisa de respirar. Mas um pouco de ordenamento e bom senso não fazem mal a ninguém. Há ruas que já estão a pedir, com toda a elegância, que só lá passem pés, bicicletas e transportes públicos.

Sim, eu sei que as pessoas têm de chegar ao trabalho, levar os miúdos à escola. Mas é precisamente por isso que importa investir — e muito — nos transportes públicos (incluindo os escolares) e noutros serviços essenciais, incluindo os de natureza turística e, claro, garantindo soluções para quem tem mobilidade reduzida. Modernos, frequentes, acessíveis. E deixar espaço para quem não abdica de se deslocar numa bicicleta, ou a pé. Porque uma cidade eficiente é aquela que oferece escolhas reais — e não um labirinto onde todos têm de andar de carro porque não têm alternativa.

Falar de bicicletas é falar de ciclovias. As boas, não aquelas que acabam subitamente num muro ou num carro mal-estacionado. Uma cidade ciclável é mais saudável. E menos dependente da insustentável rotina de pegar no carro para ir comprar pão a 500 metros de casa.

Espaços verdes? Sempre. Mas com rega gota a gota, espécies autóctones e bancos à sombra onde não se derreta o cidadão em agosto. E que tal jardins verticais em prédios públicos? Mais fresco, mais bonito, menos betão.

E já agora, menos plástico. Aqueles copos descartáveis dos bares e dos festivais (que flop...) que acabam a boiar no rio ou a voar para dentro do carrinho do bebé… dispensam-se. O mesmo para as palhinhas, palhetas plásticas para mexer café e embalagens que duram mais do que muitos casamentos.

Há também algo de surreal nos cartazes luminosos e montras que ficam acesas toda a noite, mesmo quando a cidade dorme. Para quem iluminam? Para os morcegos? Para a nostalgia dos tempos em que a eletricidade era barata?

Uma cidade sustentável exige também higiene urbana a sério — e não um jogo do «onde deixo o saco do lixo?» porque o contentor já está a abarrotar. Precisa de contentores decentes, recolhas eficazes, ruas lavadas. Uma cidade suja não é uma cidade pobre. É uma cidade mal gerida.

E claro, carros elétricos. Sim, precisamos de mais postos de carregamento. Muitos. Em todo o lado. Para que quem quer mudar não tenha de desistir por falta de acesso fácil e visível.

A sustentabilidade urbana não é só plantar árvores ou mudar lâmpadas. É planear com cabeça, ouvir quem vive, trabalha e visita a cidade. É pensar no ambiente, na economia e na qualidade de vida ao mesmo tempo. É pensar Sustentabilidade com S maiúsculo — e dar-lhe, de uma vez por todas, o lugar que merece nas prioridades da governação. Um pelouro próprio, com meios, com visão e com voz. Mas sem extremismos, e com muito bom senso.

No fundo, é simples: queremos cidades onde se possa viver. Respirar. Circular. Sentar. Sorrir. E até dormir sem que um néon nos grite «liquidação total» às 3 da manhã.

Numa cidade assim, melhora-se a vida de quem nela está e encanta-se a quem a ela chega. Que mais poderíamos desejar?

Paulo Brehm

Consultor de sustentabilidade

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico

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