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Opinião

Francisco Mota Ferreira

E se o Papa fosse consultor imobiliário?

7 de agosto de 2023

Portugal esteve por estes dias a viver num estado de graça com a visita do Papa Francisco ao nosso País, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude. Foram muitos os momentos especiais, os conteúdos nas redes sociais e a vontade de muitas e muitas pessoas partilharem o que foi dito e feito pelo Santo Padre ao longo do tempo em que esteve por aqui.

Sendo o Papa Francisco uma figura ímpar, para Católicos e não só, dei por mim a imaginar o que seria se o representante de São Pedro na terra fosse um consultor imobiliário ao invés de chefe da Igreja Católica?

E o meu primeiro pensamento não foi bom. Tendencialmente, Francisco seria daqueles profissionais que não teria muito sucesso na profissão (ou, inversamente, seria um dos seus melhores representantes, mas já lá vamos).

O Francisco consultor imobiliário se pensasse e agisse como Papa não poderia, de ânimo leve, dizer: “eu tenho cliente para o seu imóvel”, uma frase que, como sabemos, é usada tantas e tantas vezes pelo consultor para angariar um cliente que, mesmo quando por milagre é verdade, já ninguém acredita.

Também não poderia avaliar por baixo um imóvel que tinha angariado na esperança de o vender mais rápido e obter mais facilmente a comissão, algo que, como sabemos, é raro no dia-a-dia de um consultor (ironia).

De igual forma, teria sempre o coração aberto para as partilhas com qualquer colega do sector, sem medos que este fosse por trás e tentasse roubar o imóvel e/ou o cliente.

Qualquer pessoa que lida com o imobiliário tem a noção que bastariam estes três exemplos acima referidos para condenar o Papa Francisco ao insucesso na carreira de consultor.

Mas, como tão bem sabemos, o Imobiliário tendencialmente não é assim e não tem que ser assim. Há excelentes profissionais, dedicados, sérios e honestos que dão tudo: por si, pela profissão e pelos clientes. E sabem que o podem fazer porque criaram relações sólidas com parceiros e com muitas cautelas pelo caminho, muitas vezes conquistadas à conta de erros, confianças e ingenuidades a mais. Esses são, felizmente a maioria (acho e espero) cujo profissionalismo é posto em causa por uma minoria (acho e espero).

Acredito, também por isso, que, ao invés do que escrevi acima, o Papa Francisco teria sucesso como consultor imobiliário. Porque seria justo, honesto e sério nesta profissão, como é naquela que Deus lhe confiou para fazer (como acreditam todos aqueles a quem foi dado o dom da Fé).

Não querendo abusar da vossa paciência e tolerância à beatice, deixo-vos com uma frase, das muitas que nos foram dadas a conhecer por estes dias. Esta é uma citação do discurso do Papa Francisco, este sábado no Parque Tejo que, acredito, serve para tantas profissões e, como tão bem sentimos, será igualmente válida para quem lida com o sector imobiliário: “o segredo está no caminho, está em manter um percurso dia após dia, passo após passo, pelas pegadas já assinaladas por outros, em conjunto”. Eu diria que, no essencial, é isto. Na vida e no resto.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)