É preciso reinventar a profissão de consultor imobiliário
Sei que o título é provocatório e foi deliberadamente escolhido para fazer pensar todos os que me seguem por aqui. Não é segredo para ninguém que, nos últimos anos, fruto das circunstâncias e das evoluções tecnológicas, a mediação imobiliária tem passado por uma mudança significativa. E nem todos têm sido capazes de acompanhar esta transformação. Ou porque a negam, ou porque a ignoram ou porque, pura e simplesmente, acreditam que a forma como lidam com esta profissão, os seus desafios e o seu dia-a-dia continua a ser compaginável com o que sempre fizeram até aqui. Nas próximas linhas, gostava de partilhar e explorar convosco os desafios, as alternativas e as possibilidades que os profissionais da mediação imobiliária enfrentam, destacando estratégias para a reinvenção da profissão e a consequente melhoria da perceção por parte de todos os stakeholders.
Sejamos claros: se o Covid foi um alerta, a Inteligência Artificial é uma certeza. A digitalização e a transformação digital que temos assistido têm revolucionado o mercado e a forma como lidamos com clientes e o negócio. E basta apenas pensarmos nisto: a ascensão de plataformas online e ferramentas digitais redefine a forma como os ativos são apresentados e negociados, pelo que o desafio reside na adaptação rápida a essas mudanças, garantindo que os consultores imobiliários estejam sintonizados com as últimas tecnologias.
Num mercado concorrencial e competitivo como é este do imobiliário, os consultores enfrentam diariamente o desafio de se destacar. Há os que se destacam pela negativa, numa premissa de “falem bem ou mal, desde que falem está tudo bem”, com estratégias de publicidade e marketing que envergonham qualquer pessoa. E depois, felizmente, há os que apostam na diferenciação, não apenas através da especialização – vender uma herdade ou trabalhar com um Fundo de Investimento Privado não é um mesmo que procurar um T1 na Amadora – mas também pela criação de serviços mais personalizados e uma abordagem única e diferenciada.
Já aqui escrevi anteriormente a importância da Inteligência Artificial para o futuro da profissão. Cada vez mais acho que esta pode ser um aliado fundamental na otimização de processos, automatizando tarefas repetitivas e permitindo que os consultores se foquem em aspetos mais estratégicos e relacionais, criando uma maior relação com o cliente, com os parceiros ou outros players. Mas não só. Depois do sucesso da aposta em boas fotografias e das filmagens com drones, acredito que o próximo passo passará pela Realidade Virtual, proporcionando ao cliente experiências imersivas que facilitam a visualização dos ativos à distância e agilizam o processo de seleção.
Quem anda por este sector há alguns anos, já percebeu que nada vale tentar apanhar todos os nichos de mercado. Nenhum consultor fará um trabalho diferenciado junto dos seus clientes se tentar ser uma espécie de catch all. Ou seja, tão depressa trabalha grandes investidores, como pequenos, ou procura casa para clientes compradores ou aposta em clientes vendedores. Não quero com isto dizer que não haverá, certamente, alguns casos e de entre estes, até alguns de sucesso. Mas, pelo que me vou apercebendo, o truque passa, cada vez mais, pela procura de conhecimento e a consequente especialização, numa estratégia de sucesso que pode ampliar o leque de oportunidades e atrair um público mais diversificado.
E, por fim, haverá sempre algo que deveria ser considerado como inato e que ajuda nesta profissão: ter e defender comportamentos éticos e transparentes permite melhorar a perceção profissional e construir uma reputação sólida, tornando os consultores conselheiros confiáveis, capazes de fornecer informações claras e orientações éticas aos clientes, criando uma imagem positiva do sector e, naturalmente, de nós próprios.
Acredito, por isso que o futuro da mediação imobiliária e dos consultores está intrinsecamente ligado à capacidade de adaptação, inovação dos seus profissionais. A chave para este sucesso está, cada vez mais, na reinvenção da profissão, tornando-a mais eficiente e, acima de tudo, centrada nas necessidades e expectativas de todos os seus diferentes stakeholders.
Francisco Mota Ferreira
francisco.mota.ferreira@gmail.com
Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico