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NOTÍCIA
Opinião

Francisco Mota Ferreira

Crowdfunding imobiliário

4 de dezembro de 2023

O sol quando nasce é para todos. Ou, pelo menos, para aqueles que têm a possibilidade de ele usufruir. Nos últimos tempos têm-se multiplicado as notícias a dar conta da existência de plataformas que permitem a que pequenos investidores possam, na medida das suas possibilidades, investir no imobiliário. O crowdfundingimobiliário parece que chegou para ficar, mas, para lá da espuma dos dias, convém, realmente, perceber o que está em causa, para que não tomemos a floresta pela árvore e nos arrisquemos a perder o investimento feito. É algo que tentarei, ainda que de forma modesta, explicar nas próximas linhas.

Embora possa parecer algo simples, o crowdfunding imobiliário não é tão acessível como muitos querem fazer parecer. Há, felizmente, regras e mecanismos que permitem proteger os pequenos investidores e garantir que quem quer seguir esse caminho não compra gato por lebre.

A primeira cautela que os pequenos investidores devem ter (e a primeira informação que devem saber) é a de que podem existir uma panóplia de formas para os atrair, mas estes, por segurança, apenas devem aplicar as suas poupanças nas plataformas que sejam registadas na Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM). E, nesta qualidade, embora existam inúmeras plataformas de crowdfundingimobiliário a atuar em Portugal, o facto é que apenas duas estão registadas no mercado regulador português: a Housers e a Querido Investi. Quer isto dizer que as outras que existem não são de confiança? Não necessariamente. Mas, para quem está a começar e não percebe muito deste mundo, o melhor que podem fazer é confiar e investir em quem oferece condições mínimas para o fazer.

O crowdfunding imobiliário acaba por permitir o acesso a alguns investimentos, com retornos financeiros seguramente mais simpáticos do que as opções mais “normais” do pequeno investidor, como por exemplo, os depósitos bancários ou os certificados de aforro, tornado acessível algo que anteriormente estava apenas ao alcance dos grandes players do sector ou às empresas.

Claro está que este tipo de investimento, que pode ser realizado com valores que podem começar em dezenas de euros até aos milhares, não é isento de risco, por muito que a propaganda para aliciar os investidores possa até (quase) dizer o contrário. Importante, também por isso, é perceber o rácio que é dado entre a taxa de retorno e o risco associado. É dos livros perceber que uma maior taxa de retorno terá, à partida, um maior risco e, nessa exata medida, será ajuizado compreender na sua plenitude o investimento que está a ser realizado, como será feito, com que meios e por quem. E, já agora, se a legislação do País se adequa a este tipo de investimentos.

A partilha de investimentos, no que ao imobiliário diz respeito, não é propriamente uma novidade. As cooperativas para a construção de habitação própria sempre existiram (e agora, em face das dificuldades cada vez mais crescentes no que na Habitação diz respeito, ganharam um novo alento), os timesharingforam moda em Portugal, nomeadamente nos anos 80, em que o sonho de qualquer família da classe média era possuir um apartamento no Algarve e, no presente, já há igualmente algumas opções bem interessantes a ser exploradas como o de Senior Coliving ou o de Senior Cohousing, em que vários idosos, que idealmente até podem ser amigos há décadas, abedicam dos modelos de residência sénior tradicioanis e juntam-se para, na mesma moradia (que pode ou não ser de um deles), ter um espaço individual e diversos espaços comunitários. É, por isso, natural que, num momento em que o Imobiliário está na moda (e a Habitação em crise) que as soluções de investimento como o crowdfundingimobiliário possam constituir-se como uma aposta atrativa para quem possa e tenha forma de investir. Mesmo que seja com meia dúzia de trocos e (supostamente) pouco a perder.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)