
Carlos Minieiro Alves - Foto cortesia Politécnico de Lisboa
Construção critica estratégia do Governo e alerta para falta de mão-de-obra e riscos nas grandes obras
O sector da construção está “surpreendido” com a estratégia do Governo de incentivar a entrada de empresas estrangeiras para executar o vasto pacote de investimentos públicos previsto para os próximos anos, estimado em cerca de 50 mil milhões de euros. A crítica é de Carlos Mineiro Aires, administrador executivo da Fundação da Construção, que defende que o Executivo deveria ter começado por ouvir as empresas nacionais.
Em declarações à Lusa, o antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros sublinha que as construtoras portuguesas “têm capacidade” e estão a ganhar dimensão para concorrer a projectos como o novo aeroporto de Lisboa, a alta velocidade ferroviária, a terceira travessia do Tejo, hospitais e habitação. Embora admita parcerias internacionais, defende que a liderança dos consórcios deve ser nacional.
Mineiro Aires alerta ainda para os riscos associados à entrada de grandes grupos estrangeiros, acusando-os de práticas de dumping, revisão posterior de preços e incumprimento de prazos, com impacto directo nos custos das obras públicas.
Falta de trabalhadores é o principal entrave
O maior problema do sector, segundo o responsável, é a escassez de mão-de-obra. Estima-se uma carência de cerca de 50 mil operários, além de engenheiros, encarregados e quadros intermédios, após a perda de cerca de 350 mil postos de trabalho na crise financeira.
A solução passa por atrair trabalhadores emigrados com salários mais competitivos e estruturar fluxos migratórios, sobretudo a partir dos países lusófonos. As recentes restrições à imigração são vistas com preocupação, por poderem comprometer o crescimento económico.
Habitação acessível com privados e PPP
A Fundação da Construção propôs ao Governo um modelo de habitação acessível baseado em parcerias público-privadas, no qual empresas privadas constroem, mantêm e conservam os imóveis, com rendas pré-fixadas e eventual reversão para o Estado. Mineiro Aires considera o modelo “virtuoso” para responder a uma crise habitacional que classifica como social.
Apesar de apoiar a redução do IVA na construção para habitação a preços moderados, alerta para dificuldades de fiscalização e para o impacto das comissões imobiliárias na inflação dos preços.
Código dos contratos públicos e qualidade dos projectos
O responsável defende uma revisão profunda do Código dos Contratos Públicos, que considera excessivamente penalizador, promovendo adjudicações pelo preço mais baixo em detrimento da qualidade, com reflexos negativos nos salários, nos projectos e nos prazos.
Infraestruturas: “já perdemos demasiado tempo”
Mineiro Aires insiste na urgência de avançar com o novo aeroporto de Lisboa e com a ferrovia, alertando para o risco de sucessivos adiamentos. Classifica o actual aeroporto como “terceiro-mundista” e defende que o Governo deve pressionar a concessionária ANA para acelerar decisões, lembrando que os fundos do PRR terminam em 2026.
Criada em Outubro por ordens profissionais e empresas do sector, a Fundação da Construção pretende lançar um Observatório da Construção e assumir um papel activo no apoio às decisões públicas, defendendo a engenharia nacional num mercado aberto e competitivo. Lusa/DI














