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Opinião

Francisco Mota Ferreira

Comprar para habitar ou para revender?

25 de novembro de 2024

Correndo o risco de parecer insensível, mas uma das opções mais acessíveis a quem tem algum dinheiro e vontade de o investir passa pela compra de imóveis. Consoante o capital disponível, há os mais felizardos, que conseguem comprar casas em localizações prime, o que acaba sempre por ser um investimento seguro; há os outros, que têm de descer a fasquia, mas, mesmo assim até conseguem investir em condições. E depois, sem desprimor, há todos os outros, que, não tendo muito dinheiro, mas querendo à mesma investir, apostam no que conseguem. Há os que fazem sociedade com outras pessoas e compram apenas parte do imóvel (um tema que já abordei aqui há algumas semanas atrás) e depois há os que compram casas para reabilitar e depois revender com o necessário lucro. É sobre estes últimos casos que irei falar-vos nas próximas linhas, tentando perceber convosco se é uma boa aposta apenas para investimento ou se, também, a médio ou longo prazo, pode ser uma estratégia vencedora para uso particular.

Comecemos pelo óbvio: comprar um imóvel para recuperar é sempre uma opção atrativa, tanto para investidores como para particulares, mas a decisão entre vender ou utilizar como habitação própria depende de diversos fatores, como localização, custos e objetivos pessoais.

Recuperar um imóvel para depois o revender, prática conhecida como flipping imobiliário, pode gerar lucros interessantes, especialmente em cidades como Lisboa e Porto, onde, apesar dos preços, há uma procura elevada e mesmo um imóvel reabilitado pode ser vendido muito rapidamente, gerando lucro para quem fez esta aposta. A valorização do imóvel, aliada à preferência dos compradores por casas prontas a habitar, são as grandes vantagens desta abordagem. Para além disso, em algumas áreas de reabilitação urbana, é possível beneficiar de incentivos fiscais que ajudam a reduzir os custos.

Mas, como em tudo, é preciso existir uma análise rigorosa dos custos das obras e dos prazos de execução das mesmas, o que, como sabemos, causa sempre algum fator adicional de stress, porque os custos e os prazos são, por norma, sempre algo que resvala quando estamos a falar da construção civil. E depois, em face de tudo disto, há que considerar se este atraso acabou por influir positiva ou negativamente no lucro esperado.

Por sua vez, recuperar um imóvel para habitação própria pode ser uma solução financeiramente vantajosa e emocionalmente compensadora. Ao adquirir uma casa em estado degradado, o custo inicial é, por norma, inferior ao de uma habitação já renovada, permitindo ao proprietário investir na criação de um espaço único e adaptado às suas necessidades. Este investimento pode ainda valorizar o imóvel ao longo do tempo, funcionando como uma reserva de valor para o futuro. Mas, mais uma vez, mesmo nestes casos, temos sempre de ter em linha de conta o custo final da obra e os prazos de execução, que podem colocar em causa (ou adiar) este projeto pessoal, principalmente quando estamos a reabilitar imóveis antigos que, como todos sabem, podem ser verdadeiras caixinhas de surpresas.

E, depois, temos sempre a questão da localização a considerar. Se temos dinheiro suficiente para isso, Lisboa e Porto são sempre opções mais simpáticas, tonando a opção de flipping uma alternativa mais eficaz, mesmo que tenhamos que considerar custos mais elevados. Em zonas menos urbanas, como o interior ou áreas costeiras fora dos grandes centros, os imóveis degradados são mais acessíveis. Nesses casos, recuperar para habitação própria pode ser a opção mais segura, mesmo que a ideia até possa passar por fazer algo com um potencial específico, como turismo rural ou alojamento local, combinando habitação própria com valorização de investimento.

Sejam quais forem as opções a considerar, há sempre algo que nunca nos podemos esquecer: comprar para recuperar ou comprar para revender só compensa se houver um planeamento cuidadoso. E, apesar de tudo, também alguma sorte.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico