Como tornar a sustentabilidade mais acessível? Tecnologias da Informação prometem responder
Decerto que já ouviu quem considere a preocupação com a sustentabilidade um problema de primeiro mundo ou uma utopia quando pensada em contexto global. A necessidade de a tornar acessível e tangível para todos os estratos sociais é um dos maiores desafios da sua ação. De par com isso, é importante relembrar que as PME são responsáveis por 90% das empresas do mundo e por mais de 50% do emprego a nível mundial.
Gosto de ser advogada do diabo no que toca à acessibilidade da sustentabilidade, nomeadamente porque não podemos ignorar as vantagens económicas de a implementar. Embora o investimento inicial possa ser significativo, os benefícios a longo prazo são indiscutíveis. A adoção de práticas sustentáveis leva à diminuição de custos operacionais, seja através da redução no consumo de recursos naturais, da otimização dos processos produtivos ou da minimização de riscos associados a questões ambientais e sociais. Além disso, as empresas sustentáveis tendem a atrair mais investidores e consumidores conscientes, fortalecendo a sua posição no mercado.
As empresas de Tecnologias de Informação (TI) acreditam assumir um papel fundamental, prometendo soluções inovadoras e, sobretudo, acessíveis, para impulsionar o progresso em direção a um futuro mais sustentável. Não tenho experiência para falar sobre grandes empresas de TI, mas posso dar o meu testemunho em relação à ação de startups, nomeadamente no reporting de ESG (Environment, Social and Governance). Estas têm como objetivo comum facilitar o processo de monitorização e divulgação dos impactos das empresas nos três critérios, ajudando a tornar a sua divulgação mais eficiente e transparente.
Um só software permite a automatização de processos e a recolha e análise de dados em larga escala. Assim, as empresas têm acesso a todas as suas informações de sustentabilidade num único local. As soluções TI prometem processos simples onde o utilizador não precisa de ser especialista na área ou em tecnologia. Basta criar a sua conta, colocar os dados da empresa em relação às diversas categorias da sustentabilidade (também estas explicadas detalhadamente numa linguagem simples), e descarregar o reporting atualizado. Além disso, através da tecnologia é possível identificar as áreas de melhoria, facilitando a rapidez na adoção de medidas corretivas. Os algoritmos avançados poderão mesmo prever riscos futuros e desenvolver estratégias preventivas.
Como nada é um mar de rosas, os desafios relacionados com as tecnologias para a sustentabilidade não podem ser ignorados. A infraestrutura tecnológica necessária para implementar estas soluções pode ser dispendiosa, principalmente em manutenção e atualizações regulares consoante novas legislações ou alterações nas existentes. O desafio de gestão adequada dos dados e a garantia da sua segurança e privacidade já não é uma novidade, continuando a ser determinante no uso adequado desta modalidade de tecnologia. Além disso, é essencial que exista uma regulamentação clara e consistente para evitar abusos e assegurar a fiabilidade dos dados facultados pelas empresas. Sobre este último, elaborei o argumento no artigo Desafios na sustentabilidade empresarial: a necessidade de melhorar e uniformizar os sistemas de classificação ESG.
Surge assim o dilema: sustentabilidade - estará a salvação nas pessoas ou nas tecnologias de informação? De um lado, as pessoas desempenham um papel fundamental na adoção de comportamentos sustentáveis, na educação e na pressão por mudanças nas práticas empresariais. Por outro lado, as novas tecnologias proporcionam as ferramentas necessárias para aprimorar a implementação e eficiência de ações sustentáveis.
A meu ver, a verdadeira resposta reside na combinação equilibrada entre a consciencialização e o envolvimento das pessoas, aliados ao uso inteligente das tecnologias. É essencial criar um ecossistema colaborativo, no qual as empresas de TI, juntamente com os indivíduos e outros setores da sociedade, trabalhem em conjunto para promover a sustentabilidade. Somente através dessa cooperação será possível enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgem neste novo contexto.
Reconheço que as tecnologias por si só não são a solução definitiva. A verdadeira transformação acontecerá quando houver um compromisso genuíno das pessoas e das organizações em adotar práticas sustentáveis em todos os níveis. Isso implica repensar modelos de negócios, adotar processos mais eficientes, educar os colaboradores e envolver a comunidade.
De momento, a expressão “cada um de nós tem o poder de fazer a diferença através de escolhas conscientes e responsáveis no dia a dia” está alinhada com o uso das tecnologias na sustentabilidade. Cabe às empresas agirem como agentes ativos de um mundo mais sustentável e cooperarem com estas soluções. Investir em inovação é investir em tornar a sustentabilidade mais acessível para as empresas? Gosto de acreditar que sim.
Joana Fernandes
Sustainability Manager
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico