Castelo de Santa Maria da Feira vai para obras
O Castelo de Santa Maria da Feira vai ser sujeito a obras orçadas em cerca de 700.000 euros a partir de Setembro, para consolidação estrutural e reabilitação da respectiva muralha antes de outras intervenções previstas para o edifício.
Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o imóvel do distrito de Aveiro é apontado pela Direcção Regional de Cultura do Norte como “obra emblemática da arquitectura medieval portuguesa de tipo militar” devido à forma “como espelha a diversidade de recursos defensivos utilizados entre os séculos XI e XVI” – e a sua muralha é precisamente um dos elementos que tanto exibe seteiras para armas accionadas por impulso manual como bombardeiras para mecanismos mais tardios activados por pólvora.
A intervenção é comparticipada em 85% por fundos comunitários e deverá demorar 12 meses, mas o presidente da Câmara Municipal da Feira diz que esse é “o prazo de execução mínimo”, pelo que o edifício não estará visitável na próxima “Viagem Medieval” – recriação histórica cuja edição de 2022 está a decorrer até domingo à noite – e poderá manter-se parcialmente encerrado mesmo nos anos seguintes.
“Tratando-se de obras num monumento como este, todos os procedimentos estão sujeitos a um rigoroso controlo e envolvem arqueólogos que, em certas zonas, estarão a trabalhar literalmente com pincéis, tal é o nível de detalhe exigido para garantir a preservação da estrutura”, explica Emídio Sousa.
Em certas áreas, a equipa que supervisiona a intervenção terá, inclusivamente, que assegurar a “identificação e desmontagem de paredes pedra a pedra”, para que essas possam mais tarde ser repostas no ponto exacto da sua localização original.
“Além disso, os trabalhos ainda podem pôr a descoberto coisas novas, pelo que a qualquer altura o calendário da intervenção poderá ter que ser alargado”, realça o autarca.
Na presente empreitada, a prioridade é, por um lado, consolidar a muralha do castelo, “que em determinadas áreas está em risco de cair”, sobretudo devido a anomalias decorrentes da humidade e de irregularidades nas fundações”, e, por outro, reabilitar a ruína do paço ainda visível na praça de armas, em concreto da residência senhorial que aí foi construída no século XVII e que pouco depois seria destruída por um incêndio.
Essa etapa da obra integra, contudo, um projecto mais amplo de conservação, preservação e valorização do castelo, que também abrange a reabilitação de elementos como os coruchéus cónicos das torres e a recuperação do poço e respectiva escadaria em espiral.
No mesmo espírito, também está planeada a criação de réplicas de “mobiliário medieval e artefactos complementares”, para que os espaços interiores do imóvel possam ser decorados no estilo próprio o seu período de maior actividade.
“O objectivo é que mais áreas do castelo se tornem visitáveis pelo público, que o seu interior seja dotado de mobiliário medieval e que assim se possa aumentar a atractividade geral do edifício – que teve um papel fundamental na criação de Portugal, já que foi daqui que saíram as tropas que ajudaram D. Afonso Henriques a vencer a mãe na batalha de São Mamede, quando o amante dela, galego, se queria apoderar do Condado Portucalense”, conclui Emídio Sousa.
Lusa/DI