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Avenida Paulista, São Paulo, Brasil. Foto DI

BIM é o futuro para projectar edifícios e cidades. O Brasil já se adiantou a Portugal

14 de junho de 2024

O futuro da construção e do imobiliário passa pela inovação e pela ajuda das novas tecnologias. É imprescindível aprofundar e utilizar novas ferramentas que surgem no mercado que ajudam e apoiam todo o processo de um projecto imobiliário, desde o planeamento, à arquitectura, à construção, à manutenção e até ao final de vida de um imóvel. As metas da sustentabilidade exigem respostas assertivas para o sucesso de um empreendimento.

Uma das ferramentas que pretende revolucionar este processo é o BIM – Building Information Modeling, que significa Modelagem/Modelação da Informação da Construção ou Modelo da Informação da Construção, que corresponde a um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de um edifício.

O Diário Imobiliário esteve em São Paulo, no Brasil, para participar no BIM Internacional AsBEA, organizado pela AsBEA - Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, através do seu programa de internacionalização, Built by Brazil, mantido pela regional de São Paulo, AsBEA-SP, com apoio da ApexBrasil, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos que decorreu entre 27 e 29 de Maio. O BIM Internacional AsBEA decorreu em paralelo ao BIM Fórum Conference, que ocorreu no World Trade Center, o maior encontro sobre BIM da América Latina.

Se em Portugal, esta ferramenta é cada vez mais utilizada pelos arquitectos, no Brasil, a aposta no BIM já arrebatou por completo o universo institucional e governamental.

Durante o BIM Fórum Conference, Rodrigo Koerich, presidente do BIM Fórum Brasil, celebrou e assinou vários acordos com diversos ministérios e instituições oficiais brasileiros, como por exemplo o acordo com o CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil para levar o BIM através da formação a todos os profissionais da arquitectura do Brasil.

Também foi assinado um acordo com os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Crea) do Brasil, para cooperação técnica e até com o Ministério da Educação para que formação do BIM chegue de forma mais abrangente a todo o país.

Na sua intervenção, Rodrigo Koerich, referiu que este ano, “o BIM passa a ser utilizado em novas etapas da obra, no âmbito das exigências do Roadmap da Estratégia BIM BR”. Para o responsável, trata-se de uma realidade que representa novos impactos para o sector e uma ampliação dos rumos do BIM no país.


Bruno Matos (Engexpor) , Miriam Addor (Addor & Associados), Carla Estrella (Königsberguer Vannucchi) e Fernanda Pedro (DI)

Governo brasileiro aposta numa política de implementação do BIM

De facto, o Governo do Brasil está empenhado na qualificação do processo construtivo e na implementação do BIM em todo o território e para isso, promoveu uma política unificada de disseminação do BIM por meio da “Estratégia Nacional de Disseminação do BIM” (Estratégia BIM BR), promulgada em 17 de Maio de 2018 e relançada em 2019 com ajustes nos órgãos componentes do Comité Gestor.

Em 2024, com o intuito de retomar as directrizes e objectivos da Estratégia, o Presidente da República, Lula da Silva, assina o decreto 11.888/24, que ajusta metas e fortalece este plano de acção com a inclusão de novos ministérios.

Em linha com essa Estratégia - e como resultado de ação conjunta entre o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – a Plataforma BIMBR é lançada. Sendo um dos objectivos expressos da Estratégia BIM BR, o portal, além de possuir conteúdo dinâmico sobre a Modelagem da Informação da Construção, integra a Biblioteca Nacional BIM (BNBIM), com o objectivo de se tornar um repositório de bibliotecas virtuais BIM no Brasil.

Neste momento, a Plataforma BIMBR já tem 27.904 registos, 2.733 objectos e já foram realizados 406.634 downloads.

Danilo Silva Batista, presidente da AsBEA, revela que efectivamente, “houve uma grande evolução no BIM e, caso haja formas de financiamento dessa tecnologia, poderemos ter um crescimento significativo nos próximos anos”.

Esclarece ainda ainda que o “BIM ainda não é uma realidade da maioria dos arquitectos, pois mais de 60% dos profissionais trabalham com projectos pequenos e têm uma estrutura mais pequena nos escritórios, com pouco investimento em tecnologia. Em contrapartida, os escritórios maiores já trabalham em BIM há anos e alguns possuem formas de organização bem interessantes”.

Atelier Königsberguer Vannucchi

A evolução do BIM em Portugal

Em Portugal, o BIM começou a dar os primeiros passos em 2015, quando o Instituto Português da Qualidade instituiu a comissão técnica CT 197 - Bulding Information Modelling (BIM), com coordenação da Builtcolab.

Esta entidade é responsável pelo desenvolvimento da "normalização no âmbito dos sistemas de classificação, modelação da informação e processos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos de construção".

No final de 2017, foi lançado o "Guia de Contratação BIM", elaborado pela CT 197, que pretendeu "ser um contributo para a promoção de boas práticas e disseminação do BIM".

A 27 de Abril de 2023, o Governo português aprovou um diploma para criar uma plataforma única de licenciamento, com desmaterialização de procedimentos e obrigatoriedade do BIM, a partir de 2026.

Este ano, foi publicado no Diário da República, o Decreto-Lei n.º 10/2024, onde além de reformar e simplificar os licenciamentos no âmbito do urbanismo, ordenamento do território e indústria, também promove a implementação do BIM em projectos de construção pública.


Gustavo Garrido, Bruno de Carvalho Matos, Miriam Addor e Carla Estrella

“Claramente a mobilização do sector público no Brasil é superior à de Portugal, já tendo inclusive uma estratégia definida para a disseminação do BIM ao nível nacional, denominada de Estratégia BIM BR. Esta mensagem foi clara na BIM Fórum Conference em São Paulo este ano, onde a presença de vários organismos públicos se fez sentir, desde os mais directamente ligados à área da construção até ao Ministério da Educação, que também assinou um protocolo de colaboração com o BIM Fórum Brasil, ao ser reconhecida a importância do desenvolvimento de competências nesta área”, refere Bruno de Carvalho Matos, engenheiro civil português e um dos oradores no BIM Internacional AsBEA e no BIM Fórum Conference.

A envolvência do Governo na implementação da ferramenta é claramente a maior diferença entre os dois países. Na prática, as dificuldades na aplicação são muito semelhantes no Brasil e em Portugal.

Fabrizio Rastelli, arquitecto do Königsberguer Vannucchi, um atelier de arquitectura paulista com a experiência de 52 anos de projectos no Brasil e em mais cinco países, explica que desde 2017 que utilizam a metodologia BIM. “Actualmente todos os projectos são 100% BIM, ao longo de todo ciclo de vida do design. Com essa tecnologia é possível antecipar interferências, simular iluminação natural e extração de quantitativos para custo de obra”, explica.

Quanto às dificuldades verificadas na aplicação do BIM, Fabrizio Rastelli, refere que o custo da tecnologia ainda é uma barreira de aplicação do BIM. “Além das licenças do software, é necessária alta capacidade computacional e treino dos colaboradores”, avança. A Königsberguer Vannucchi tem mais de 200 projectos em BIM desde 2017 e actualmente com 51 projectos em desenvolvimento todos são em BIM, no total são já 1 milhão de horas trabalhadas em Building Information Modeling.


Visita à obra HY Pinheiros, em Rebouças, SP, com projecto BIM de Königsberguer Vannucchi Arquitetos


Visita à obra HY Pinheiros, em Rebouças, SP, com projecto BIM de Königsberguer Vannucchi Arquitetos

Dificuldades na implementação do BIM quando chega à obra

Bruno de Carvalho Matos, admite que entre as maiores dificuldades na aplicação do BIM, em Portugal, é o facto de existir “uma fragmentação significativa de competências e capacidades no ciclo de vida da construção (desde projectistas a empreiteiros, fiscalização e actores públicos) e uma maior concentração na fase de concepção, sem garantia de continuidade para a fase de obra e transição para o ciclo de operação”.

Acrescenta mesmo que a maturidade da implementação BIM e o tipo de aplicações ao nível das organizações e dos projectos não é, muito diferente, entre Portugal e o Brasil.

Uma ideia corroborada por Miriam Addor, Vice-Presidente da AsBEA e fundadora do Escritório Addor e Associados Projetos e Consultoria e uma das oradoras no BIM Internacional AsBEA e no BIM Fórum Conference. Para a responsável, com a experiência de grandes projectos de arquitectura no Brasil e em outros países, nomeadamente em Portugal, os níveis de aplicação do BIM nos dois países, são semelhantes, apesar de o Brasil levar alguma vantagem, sobretudo na integração da aplicação nos gabinetes de arquitectura. E tal como em Portugal, quando o projecto entra em obra, é que se iniciam as maiores dificuldades de implementação.


BIM como vetor de internacionalização: Bruno Mtos, Miriam Addor e Pedro Ichimaru na Casa Somauma, SP

Bruno de Carvalho Matos, que tem ainda a experiência de trabalhar na Engexpor, explica como se processa, “o tipo de aplicações também é sobretudo ao nível da visualização e coordenação 3D, em fase de pré-construção e construção, não havendo casos significativos e recorrentes com usos BIM como o 4D (planeamento) e 5D (orçamentação), ou mesmo 6D (sustentabilidade) e 7D (gestão da operação). Podem ainda ser encontrados bons exemplos relacionados com renderização 3D e com a utilização de inteligência artificial para automaticamente converter ideias (indicações desenhadas ou escritas) em modelos 3D. De facto, a evolução para dimensões BIM acima do 3D requer uma maturidade bastante superior no que diz respeito à organização e classificação da informação (parte não geométrica) e à colaboração numa perspetiva de integração vertical (diferentes fases do empreendimento) e horizontal (diferentes equipas)”.

E através da troca de experiências entre os dois países, o responsável considera que no Brasil, a gestão de contratos é tendencialmente tradicional, tal como acontece em Portugal, “sem a adopção frequente de modelos colaborativos ou de performance-based requirements que favoreçam a implementação BIM, e por vezes sem a adequada incorporação de requisitos BIM nas peças concursais e sem uma apropriada avaliação de propostas considerando as necessárias habilitações dos concorrentes para a implementação desta metodologia”.


Visita ao edifício Pátio Rebouças, com coordenação e compatibilização BIM de Addor & Associados e projecto arquitetónico de aflalo / Gasperini arquitetos


Pedro Coelho (AsBEA), Fernanda Pedro (DI), Bruno Matos e Gustavo Garrido (AsBEA-SP), no Pátio Rebouças

Uma história com mais 50 anos

O BIM começou a dar os primeiros passos na década de 70 do século passado com a criação de conceito bastante similar ao BIM, porém, na época tinha a designação de Building Product Model (BPM) dado pelo Professor Charles M. Eastman do Instituto de Tecnologia da Georgia, EUA. No entanto, o termo foi popularizado pelo arquitecto norte-americano Jerry Laiserin como nome comum para uma representação digital do processo de construção para facilitar o intercâmbio e a interoperabilidade de informação em formato digital. Eastman iniciou uma organização chamada de International Alliance for Interoperability (actual BuildingSmart) que tinha como objetivo melhorar o intercâmbio de informações entre os softwares. De acordo com o próprio, a primeira aplicação do BIM nasceu com o conceito de Edifício Virtual do ARCHICAD Graphisoft da Nemetschek, na sua estreia em 1987.

(O Diário Imobiliário esteve em São Paulo, Brasil, no BIM Internacional AsBEA e no BIM Fórum Conference a convite da AsBEA - Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura)