As vantagens e desvantagens de fazer negócios imobiliários com amigos
Como muitos de vós que me seguem por aqui saberão, não faço, por opção, mercado residencial. Mas, tal não implica que não possa ajudar profissionais do imobiliário que recorrem até mim à procura de determinado ativo, que meta uns e outros em contacto entre si ou que até, no limite, ajude um amigo ou uma pessoa conhecida na compra e venda de um imóvel - recomendando alguns profissionais do ramo ou aconselhando-os a tomar o que, no meu entender, são as melhores opções em face do que me é solicitado como opinião supostamente profissional.
Nem sempre as minhas ideias e recomendações são tomadas em linha de conta (e mal seria se assim fossem, porque queria dizer que estaria já ao nível da infabilidade divina). E, quando tal acontece, restam-me duas soluções: ou ajudo a pessoa com base no que esta me pede – mesmo que vá contra o que aconselhei – ou então não o faço de todo. Por norma, acabo sempre por fazer a primeira opção (a não ser que a pessoa em causa tome caminhos e escolhas que por algum motivo violem a minha consciência) e deixo o tempo e o banho de realidade fazer o trabalho por mim, mostrando às pessoas que aquilo que aconselhei em primeiro lugar era, tendencialmente, o mais correto (e eficaz) a ser feito.
Claro está que também o faço tendo o conforto de saber que, no final, a decisão caberá sempre à pessoa amiga que recorreu ao meu conselho e, no limite, ao consultor que a aceitou representar. Mas percebo que possa ser complicado para muitos profissionais trabalhar com pessoas amigas e/ou conhecidas. Até porque, como sabemos, quanto clientes e amigos têm ideias muito particulares sobre qual a melhor forma de vender o seu imóvel?
De igual modo, também sei que esse pressuposto, ou se quisermos, essa suposta recusa em vender as casas de amigos vai contra o princípio básico de recorrermos ao nosso Círculo de Influência (CDI) para angariarmos ativos e/ou fazermos negócio. E, sinceramente, acho que qualquer uma das posições que se tomem em relação a esta matéria são válidas e legítimas. Senão vejamos:
Fazer negócios imobiliários com amigos ou conhecidos pode ser uma decisão financeira e de negócios interessante. No entanto, é fundamental considerar tudo o que pode estar em causa antes de se embarcar nessa empreitada para que, se algo correr mal no final, não se perca apenas o negócio, como corramos o risco de perder a amizade.
Entre as vantagens mais comuns podemos, por exemplo, considerar a possibilidade de termos, à partida, a confiança entre as partes. Sabemos que o nosso amigo confia em nós e no nosso trabalho e, nós, da mesma forma, confiamos que este deposita em nós o mesmo sentimento e não nos vai enganar na primeira oportunidade, denunciando o contrato só porque sim ou porque, de repente, encontrou outra suposta vantagem em falar com outra(s) pessoa(s). Por outro lado, e porque confiamos, este tipo de parceria acaba por proporcionar um ambiente de trabalho mais descontraído e amigável, o que pode contribuir, no limite, para um clima de confiança e cooperação que pode facilitar o negócio.
Mas convém igualmente ter presente que questões financeiras e legais podem surgir, afetando a amizade e o negócio. E tudo pode começar, por exemplo por diferenças de opinião sobre decisões importantes a tomar. Sendo certo que o cliente é em teoria soberano nas suas decisões, quem lida com este deverá ter, por isso, em linha de conta o que é pretendido. Mas, como também sabemos, este princípio acaba por ficar relativamente esbatido quando estamos a lidar com um cliente que é, ao mesmo tempo, amigo.
Considero, por isso, que não há ideias feitas nem respostas certas em relação à decisão de fazer ou não negócios com pessoas amigas. Cada caso é um caso e este deve ser avaliado em função das circunstâncias e do momento. Por norma, antes de decidir fazer negócios imobiliários com amigos, eu diria que é essencial ponderar todas as variáveis e estar preparado para lidar com desafios que possam surgir ao longo do caminho. Amigos, amigos, negócios à parte? Sim ou talvez não. No final, diria eu, será tudo uma questão de bom senso.
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)