Vai existir uma selecção natural na mediação e só os mais estruturados vão sobreviver
Rentrée 2020: Rafael Ascenso, Rafael Ascenso, director geral da Porta da Frente Christie’s, acredita que é possível que se venham a verificar algumas descidas de preços pontuais nos mercados médio e médio-baixo, mas os últimos meses têm mostrado que o mercado está sólido.
Admite ainda que o período como o que estamos a viver, é fundamental para fazer uma selecção natural entre os que estão estruturados e preparados para uma nova abordagem na prestação de um bom serviço aos seus clientes e aqueles que chegaram ao mercado por “oportunismo” e irão sair por não terem essa capacidade.
Num ano atípico o que podemos esperar do mercado imobiliário na Rentrée?
Tem sido um ano com muitos desafios para o sector imobiliário, que obrigaram as empresas a reinventarem a sua forma de trabalhar e de se relacionar com o cliente. Após uns primeiros dois meses de uma travagem muito acentuada no volume de transacções, acreditamos que a rentrée vai manter a tendência que temos sentido nos últimos dois meses pós-confinamento: considerável aumento de uma procura muito focada que se tem traduzido num crescimento gradual do número de negócios concretizados.
Nos últimos meses temos assistido ao crescimento da procura por parte do mercado nacional. Por um lado temos verificado que o imobiliário se tornou o “porto seguro” para a aplicação de poupanças que saem dos mercados financeiros e outras aplicações muito conturbadas nestes tempos. Por outro lado, verificamos que as pessoas e famílias passaram a dar muito mais importância ao seu espaço, à sua casa, e as que têm possibilidade, nomeadamente no segmento médio alto e alto, têm estado a fazer up-grades. Procuram casas maiores, com espaços exteriores, e nalguns casos afastadas dos grandes centros urbanos. É natural que esta tendência se mantenha.
Sobre preços, pensamos que o primeiro semestre de 2020 tenha acentuado uma tendência que já vinha de 2019, ou seja, um ajustamento dos preços que já estavam fora de mercado. Depois de seis anos consecutivos de crescimento, 2019 foi um ano de consolidação que se estendeu para 2020. Não consideramos que exista ou venha a existir uma queda de mercado, mas sim um ajustamento natural e que era necessário para o equilíbrio e maturidade de um sector cujos preços cresceram durante seis anos consecutivos. É possível que se venham a verificar algumas descidas de preços pontuais nos mercados médio e médio-baixo, mas os últimos meses têm mostrado que o mercado está sólido e que os fundamentos sobre os quais foi construído nos últimos anos se mantêm inalterados.
Quais os desafios que o sector tem pela frente?
Essencialmente de adaptação a uma nova realidade que irá exigir uma solidez e resiliência muito forte a todos os agentes imobiliários, sejam mediadores ou promotores. É evidente que a tendência de estabilização iniciada em 2019 foi agora muito acelerada, e só os promotores com modelos de negócio que contemplem o ajustamento de preços e não o seu crescimento poderão ter sucesso nos seus empreendimentos. Cabe-nos a nós mediadores esse papel de consciencialização de promotores e vendedores individuais para esta nova realidade.
Temos também de nos reinventar ao nível tecnológico, quer na organização interna quer nas ferramentas de comunicação com os nossos clientes. A pandemia continua e é preciso continuarmos a apostar em soluções não só presenciais, como também remotas e digitais para chegar aos nossos clientes e continuar a prestar um serviço de excelência. Mesmo após a pandemia, iremos manter muitos desses comportamentos e é fundamental estarmos adaptados a uma realidade que se transformou e não voltará atrás.
Consideramos que estes dois factores irão beneficiar as empresas mais preparadas, e são uma excelente oportunidade para fazer uma “limpeza” no mercado imobiliário que será muito benéfica. Nos últimos seis anos, com o acentuado crescimento do mercado, assistimos a uma entrada massiva de novos agentes, nomeadamente na mediação.
Um período como o que estamos a viver, é fundamental para fazer uma selecção natural entre os que estão estruturados e preparados para uma nova abordagem na prestação de um bom serviço aos seus clientes e aqueles que chegaram ao mercado por “oportunismo” e irão sair por não terem essa capacidade.
Quais as previsões para o mercado até ao final do ano?
Vai depender em grande parte do levantamento ou não às restrições de viagens internacionais. Mais de 60% das nossas vendas são para o mercado estrangeiro. Apesar de todas as restrições vigentes, no primeiro semestre de 2020, incluindo o período de confinamento, vendemos a 20 diferentes nacionalidades, o que mostra que o interesse internacional não se perdeu. Estamos confiantes que após a reabertura das fronteiras, o mercado irá recuperar o dinamismo do ano passado.
E não será excesso de optimismo esperar um grande fluxo de procura de novos mercados, mas essencialmente de compradores oriundos dos países que que nos últimos anos têm eleito Portugal para residir e investir. É que os fundamentos do mercado imobiliário continuam válidos e inalterados: Portugal continua a ser uma das melhores opções para viver e investir, com uma qualidade de vida única no mundo e um índice de segurança que o posiciona como o 3º país mais pacífico do globo. Se nos sairmos bem desta situação de pandemia, este apelo pode ainda ser reforçado.
Acreditamos que o sector irá sair ainda mais fortalecido, como destino de investimento não só para nacionais como para estrangeiros. É importante referir, claro, que este é um processo que poderá ainda levar alguns meses, pois ainda temos uma pandemia a nível mundial e há uma série de consequências a impactar financeiramente as famílias. Contudo, reforçamos a nossa perspectiva de que o mercado retomará a sua força em breve.