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Opinião

Isabel Simões Correia, RETHINKING Portugal Lead, Head of Business Development da Cushman & Wakefield

Repensar os Escritórios até 2030: Desafios e Oportunidades

7 de janeiro de 2025

Se na última década os setores de retalho e industrial sofreram mudanças estruturais, agora chegou a vez dos escritórios. A transformação dos espaços de trabalho está a acelerar, impulsionada não só por mudanças estruturais, mas também cíclicas. Esta transformação exige uma nova abordagem e uma nova visão para o setor dos escritórios, que os proprietários não podem ignorar.

As alterações cíclicas, como inflação, taxas de juro e a desaceleração económica, afetam-nos a curto prazo e sabemos que ocorrem periodicamente. No entanto, o trabalho remoto, as políticas de ESG (Environmental, Social and Governance), o bem-estar dos colaboradores e a retenção de talento são apenas alguns dos fatores que transformaram radicalmente o setor.

No relatório "Rethinking European Offices", foi analisada a idade do stock de escritórios e identificados os riscos e oportunidades que os proprietários e investidores enfrentam à medida que nos aproximamos de 2030.

Na Grande Lisboa, estima-se que 64% (cerca de 2,86 milhões de metros quadrados) do total de stock de escritórios fique obsoleto até ao final da presente década. Uma percentagem significativa, mas ainda assim menos expressiva do que em cidades como Amesterdão, Barcelona, Londres, Madrid, Milão, Paris e Estocolmo, onde o peso do parque mais antigo ronda os 80%.

Por outro lado, também na Grande Lisboa, a oferta futura em construção é atualmente de 234.400 m², estando ainda prevista a conclusão de mais 195.000 m² até 2028. Isto significa que, nos próximos quatro anos, haverá um total de 429.000 m² de novos espaços de escritórios a entrar no mercado e que darão resposta ao movimento a que temos vindo a assistir por parte das empresas: a mudança para espaços de qualidade, eficientes e com preocupações a nível de sustentabilidade e de bem-estar dos seus colaboradores.

Contudo, o risco de obsolescência pode representar para os proprietários e investidores uma oportunidade. A oportunidade de regenerar, de reabilitar, de reconverter e de ajustar os seus edifícios à realidade e ao contexto presente e futuro, antecipando a transformação em curso.

Reposicionar ou reconverter?

Neste exercício que a Cushman & Wakefield designa de “Rethinking”, o objetivo é ajudar os proprietários a desenhar uma estratégia, em que os ativos são alvo de uma análise profunda para perceber se o seu património conseguirá adaptar-se às novas exigências da procura, bem como assegurar o cumprimento das metas ambientais impostas pela legislação e pelas políticas corporativas dos ocupantes. Ou se, por outro lado, deve ser equacionada uma alteração de uso para que os seus ativos ganhem uma nova vida e, dessa forma, tragam uma nova dinâmica à comunidade em que se inserem, associada, naturalmente, ao aumento da rentabilidade potencial.

A localização, a configuração do edifício, o contexto urbanístico e a procura dos diferentes setores de mercado naquela zona específica, são alguns dos fatores a considerar quando chega o momento de refletir sobre um ativo ou portefólio.

A prática - comprovada não só pela experiência local, mas também noutras geografias - demonstra que, no centro da cidade, o reposicionamento é provavelmente a melhor solução e que os usos alternativos predominantes nestas zonas serão a hotelaria e a habitação. Nas zonas periféricas cresce o leque de usos alternativos, que podem ir desde os cuidados de saúde, life sciencesou data centers, até ao setor residencial. As rendas mais baixas dos escritórios nestas localizações quando comparadas com estas opções, combinadas com yields menos competitivas e taxas de desocupação mais elevadas, podem fazer com que a reconversão dos ativos nestas zonas seja a estratégia vencedora.

Acreditamos que o maior problema é aquele que ainda está por resolver e que a mudança é cada vez mais uma constante, impulsionando um mundo que está sempre em construção e aspira a um futuro melhor e mais sustentável.

Isabel Simões Correia

RETHINKING Portugal Lead, Head of Business Development da Cushman & Wakefield

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico