Reler em caso de emergência – as primeiras escolhas
Nas últimas semanas, decorrente de artigos que tenho escrito, tenho sido abordado por vários consultores imobiliários que se iniciaram há relativamente pouco na profissão. E, pese embora as experiências de cada uma destas pessoas seja curta, já se conseguem notar diferenças na forma como encaram o seu futuro. Dir-me-ão que a escolha da marca é o primeiro passo que pode determinar o sucesso na profissão e tenderei a concordar: seja no imobiliário (ou fora deste), uma boa opção poderá ser a chave de sucesso para o nosso futuro.
Mas, dizia eu, tenho sido abordado por vários rookies que me instam a escrever mais sobre os desafios e as dificuldades que se podem esperar para quem está a começar. Longe de querer fazer doutrina ou sequer em assumir-me como um suposto paladino da verdade universal, tenho, porém, a veleidade de reunir nas próximas linhas algumas dicas e conselhos. Alguns aprendidos à minha custa, quando nestas vidas imobiliárias estava mais ligado à vertente residencial. Outros partilhados por dezenas de consultores que tenho tido a oportunidade de ouvir e conhecer, desde que comecei a escrever sobre o imobiliário, há já três anos.
A partir dos próximos parágrafos, tomo a liberdade de vos escrever em discurso directo para que todos e cada um de vós que me lê possa também sentir pessoalmente estas palavras e, com sorte, até se rever nelas.
Hoje chegou aquele dia em que finalmente decidiste que vais tentar ser consultor imobiliário. Já ultrapassaste as tuas próprias resistências, isto é, já resolveste o problema da vergonha que sentiste quando percebeste que ias seguir por esse caminho. E até já tens o discurso feito para a tua família e amigos que, já sabes, vão estranhar esta tua opção. No limite, até já fizeste as pesquisas necessárias para que, já que vais entrar neste mundo, começares com uma marca que te identificas e não com uns quaisquer espertalhões de vão de escada que, no limite, só querem aproveitar-se de ti - se foi esse o caso, lastimo que assim seja, mas não desanimes, nem desistas da profissão. Porque, se tens talento e dedicação, terás seguramente sucesso numa marca que te respeite pelo que tu és e pelo que tu podes trazer.
Vais entrar na agência e vais ser recebido pelos teus colegas consultores, pelo teu director comercial e, quem sabe, até pelo(s) broker(s). Nos primeiros dias vai ser uma avalanche de informações a reter, dados a fixar e formações a atender. Se escolheste a marca bem, prepara-te para dias muito intensos de formação. Ninguém nasce comercial ou consultor imobiliário e um primeiro sinal de que fizeste uma boa escolha será o tempo que a marca está a apostar em ti, ou seja, em dar-te as ferramentas para que, uma vez lançado(a) às feras, possas fazer um bom trabalho. Para ti e para a marca que representas.
Por isso, nos primeiros dias, presta bem atenção às dinâmicas da marca e como é que te vais relacionar com os teus colegas e as tuas chefias. E, tão importante como isso, como é que estes se relacionam contigo. Não tenhas pressa em assinar contratos com a agência que escolheste e estuda bem o ambiente à tua volta.
E, se vires que há uma preocupação excessiva da marca em fidelizar-te e impor-te os primeiros pagamentos, (que, mais cedo ou mais tarde, vão aparecer), este será talvez um indício forte que o melhor que tens a fazer é mesmo apressar-te a sair porta fora e procurar outra marca ou agência onde possas ter a sorte que mereces.
Não é vergonha nenhuma procurar alternativas e, se perceberes que o teu caminho não passa pela tua primeira opção, deves corrigir o tiro. Afinal lembra-te: basta abrires os jornais, veres a televisão e andares na rua para perceberes que não só o imobiliário está na moda (e move imenso dinheiro), como também tem milhares de pessoas talentosas que, todos os dias, se levantam da cama com o propósito de arranjar clientes para o imóvel que estão a arrendar ou a vender ou para arranjarem uma casa para o cliente comprador que têm.
Porque já me estendi mais do que devia, na próxima semana continuo onde parei, nomeadamente na questão de te ajudar a escolher o que é melhor para ti: trabalhares as angariações (e, como tal, trabalhares clientes vendedores) ou não te preocupares com teres imóveis para venda porque o teu foco vai ser trabalhar com quem procurar um imóvel para comprar. Até para a semana!
Francisco Mota Ferreira
Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)