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Francisco Mota Ferreira

Recursos Humanos no Imobiliário: uma boa aposta ou apenas uma perda de tempo?

23 de setembro de 2024

Sim, é verdade, o título está feito de propósito para provocar e despertar a curiosidade naquilo que vou partilhar convosco nas próximas linhas. No outro dia, em tertúlia com vários profissionais, a conversa recaiu na questão da contratação dos consultores e de que forma é que o sector pode captar os melhores para o negócio. A conversa é antiga e as conclusões são muitas e variadas. Porque cada marca é uma marca e o que pode servir a uns não tem, necessariamente, que ser usado por todos.

Mas o facto é que andamos há demasiados anos com a piada do “respirou, entrou” para definir a contratação de consultores. Em Portugal existe a perceção (e a realidade) que qualquer pessoa pode entrar e (tentar) prosperar, sem que existam grandes barreiras à sua admissão. Esta facilidade, associada à ideia de que não há uma triagem rigorosa, levanta por isso, uma questão importante: qual o papel e importância dos Recursos Humanos (RH) na contratação de profissionais para o sector? Será que ter uma boa equipa de RH numa marca imobiliária pode realmente fazer a diferença?

Da conversa que mantivemos, confesso-vos que não houve consenso, mas houve uma unanimidade quase total ao admitir-se a importância e a relevância dos RH para a profissão e para o sector. Talvez porque os Recursos Humanos são a porta de entrada para qualquer organização.

E, no Imobiliário, mesmo com algumas variantes, o mesmo se passa. As entrevistas aos futuros consultores deveriam ter, para além do diretor comercial, do master ou do team leader, alguém dos RH a acompanhar estas entrevistas. Porquê? Porque um profissional de Recursos Humanos saberá identificar um conjunto de competências e aptidões que não são adquiridas de forma automática e que podem fazer a diferença no que ao Imobiliário diz respeito. Uma equipa de RH forte e competente numa agência imobiliária saberá fazer uma triagem mais rigorosa, identificando candidatos com o perfil certo para a função.

E isso, convenhamos, vai muito além de apenas encontrar pessoas ou de aplicar a regra do “respirou, entrou”. Trata-se da oportunidade de selecionar profissionais com habilidades de comunicação, capacidade de negociação, resiliência e conhecimento do mercado, fatores essenciais para um desempenho eficaz no ramo imobiliário. Como costumo dizer várias vezes, não entra quem quer, deveria entrar apenas quem pode.

Os RH são também essenciais para se começar a criar lastro positivo em relação à profissão e ao sector. É preciso, de uma vez por todas, desmistificar a ideia de que qualquer pessoa pode trabalhar no ramo. E, muito embora seja verdadeira a frase de que o imobiliário oferece muitas oportunidades, o facto é que uma seleção criteriosa pode evitar a entrada de pessoas sem o perfil adequado, reduzindo a rotatividade e melhorando a eficiência da agência.

E isso, felizmente, já se começa a ver no mercado. Quando uma marca ou uma agência aposta nos RH e estes dedicam-se à contratação de consultores, estas acabam por conseguir distinguir-se, atraindo talentos que, embora possam não ter experiência direta, apresentam potencial e aptidão para crescer. E isto não tem segredo nenhum: bons processos de seleção atraem bons consultores, que, por sua vez, aumentam o sucesso da marca.

Por outro lado, aos RH não deve apenas caber a responsabilidade na contratação dos futuros consultores. A estes profissionais deve, igualmente, ser acometida a responsabilidade de retenção e desenvolvimento de talentos. Vem nos livros: ter consultores motivados e bem formados (aqui no seu duplo significado de honestos e com boa “escola”) é uma mais-valia para qualquer marca, empresa ou sector. E, obviamente, o mesmo também deveria ocorrer no Imobiliário.

Acredito que ter uma equipa de RH competente numa marca imobiliária pode, de facto, fazer toda a diferença.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio).

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico