Reabilitem-nos, reconstruam-nos..., porra!
O título é propositadamente provocatório mas visa chamar a atenção para um dos escândalos urbanísticos da cidade de Lisboa. Um conjunto de três edifícios, que ocupa um quarteirão, com fachadas para a uma das mais icónicas e movimentadas artérias da cidade - a avenida Fontes Pereira de Melo -, está entaipado há muitos, muitos anos. Serviu inclusive de suporte para ‘graffities’ gigantes, mas os anos passados foram tantos que até a cor e o brilho das imagens graffitadas são já fugazes e quase desapareceram...
Haverá alguma capital ou grande cidade europeia onde isto seja possível? Seguramente que não, mas em Lisboa é. Os projectos arrastam-se nos serviços camarários na vã esperança de uma aprovação um «pouquinho» mais célere que seja, os proprietários e investidores acabam por desistir e preferem transaccionar os terrenos ou imóveis com mais-valias especulativas; a autarquia também nada faz para impedir que espaços devolutos, em «pousio» especulativo, sejam impositivamente construídos ou reabilitados. Os proprietários desses espaços vivem entre o Inferno ou o Éden: desesperam, imobilizam e gastam avultadas somas de dinheiro na longa tardança; ou vão, paulatinamente, esperando que eles se valorizem, ainda mais e mais, na ‘bolsa especulativa’ em que se tornou o espaço urbanizável na capital.
O conjunto de três imóveis constituem um dos últimos exemplos de arquitectura de finais do século XIX e princípios do XX naquela zona da cidade, que cresceu por iniciativa de Ressano Garcia. Dois outros edifícios da mesma época que existiam no terreno e que “fechavam” o quarteirão , acabaram por ser demolidos em 2004.
Ontem domingo, dia 23 de abril, o interior de um desses prédios ruiu, veio abaixo... Os serviços da Câmara Municipal de Lisboa fizeram hoje uma vistoria ao edifício devoluto na Avenida Fontes Pereira de Melo, cujo interior desmoronou na tarde de domingo.
“Agora resta esperar pelo auto de vistoria cuja intimação será entregue ao urbanismo para saber se decorrerá o processo de licenciamento que se encontra em curso ou se será para demolir”, acrescentava hoje a directora do Serviço Municipal de Protecção Civil.
Ou, então, até que outro colapse, desmorone, desabe ou venha abaixo! - dizemos nós.
Crónica de António Baptista da Silva
Partner “Diário Imobiliário”