Winter is coming
Inspirei-me no lema da Casa Stark, da série “Game of Thrones”, que nos lembra que, por detrás deste mote, está um aviso e um apelo à vigilância constante. Na série, os Stark, como senhores do Norte, tinham de estar sempre prontos para a chegada do inverno, que atingia suas terras com mais força.
Aqui em Portugal, a estação mais fria do ano aproxima-se e, infelizmente, estamos longe de estarmos preparados. E, à semelhança do inverno em Westeros, temo que vamos ser atingidos forte e feio.
Os sinais para a tragédia iminente têm vindo a ser anunciados paulatinamente ao longo dos últimos meses. Centenas de empresas de imobiliário fecharam as portas nas últimas semanas – o Jornal de Negócios escrevia recentemente que, em final de Setembro, desapareceram 373 mediadoras imobiliárias (depois de terem sido criadas 420 desde a chegada da pandemia a Portugal, numa média de 80 novas mediadoras por mês). Mas não só.
Apesar de todos os alertas, o Governo retomou a ideia de acabar com os vistos gold em Lisboa e no Porto, uma medida que poderá custar 700 milhões de euros à economia nacional, depois de, desde 2014, ter trazido para o País investimentos que ascenderam a 25.000 milhões de euros, de acordo com a Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários.
Em paralelo, muitas famílias vivem na artificialidade do adiamento das moratórias, o desemprego está a subir, o país vai progressivamente tentando sobreviver a um lockdown que, a cada dia que passa, está a deixar de ser uma eventualidade para ser uma fatalidade.
No caso do sector imobiliário, mesmo que involuntária, a paralisação pode ser quase total: com o preço dos imóveis inalterados - os proprietários ainda acham que os estrangeiros vão continuar a comprar como antigamente – e com a paragem nos grandes negócios e nos investimentos, particulares e investidores esperam, colocando milhares de profissionais e de empresas novamente em stand by. Porque as famílias não estão a comprar nem a vender e os grandes players observam para ver como é que o mercado vai reagir e se, eventualmente, ainda podem comprar mais baixo.
Diz-se que o sector imobiliário é um dos motores da economia, que representa cerca de 15% do PIB nacional, e é responsável por, directa ou indiirectamente, influir noutros sectores da nossa sociedade, como a construção, o turismo, a restauração, o comércio, etc. Tendo por base esta premissa, deixo-vos a pergunta: se nós profissionais do sector pararmos, o que acham, genuinamente, que vai acontecer ao País?
Evocando John Steinbeck, temo que este seja, lamentavelmente, o Inverno do nosso descontentamento.
Francisco Mota Ferreira
Consultor imobiliário