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“Reabilitação e construção em Portugal _1998_ 2008_ 2018”

19 de fevereiro de 2018

Artigos recentes falam no fenómeno da reabilitação urbana em Portugal e do investimento imobiliário que tem sido feito neste sector. A reabilitação de edifícios antigos é uma tendência que se espera que tenha vindo para ficar, com todas as consequências que daí advêm, sendo que devemos olhar para este movimento como algo positivo e que há muito era necessário no país.

Há vinte anos, estávamos em 1998 e construía-se de raiz - quem não se lembra de construção em torno da Expo 98? Ligava-se pouco aos prédios antigos, no fundo eram um incómodo e mais valia nem lhes tocar. Há 10 anos, em 2008, começou a crise imobiliária e passado um tempo o sector da construção quase parou e a maioria dos arquitectos e empresas de construção tiveram que repensar o seu funcionamento para sobreviver a uma crise que perduraria e obrigaria a drásticas mudanças de paradigma na forma como olhamos o património edificado...por esta altura já tínhamos centros históricos desqualificados, autênticos desertos urbanos e quarteirões inteiros em ruínas em plena Baixa Pombalina, sem contar com fileiras de prédios suburbanos de má qualidade a gravitar em torno do principias cidades portuguesas . 

Aos poucos foi-se “regrando” de novo a construção, embora demasiado tarde em alguns casos (algumas zonas do Algarve são um bom exemplo) ensinando e legislando para que não se pode construir tudo o que se quer e sobretudo que não se pode abandonar o velho e fazer novo ao lado sem pensar nas consequências. 

Em 2018 vivemos de novo um “boom” construtivo no nosso país, mas desta vez focado no nosso património, reconhecendo o valor dos edifícios antigos e localizações únicas...e com isso transformámo-nos no destino da moda da Europa. Lisboa é a cidade mais cool, o Porto está taco-a-taco, a Comporta é em grande parte um resort de luxo, há quem comece a explorar as maravilhas do interior, e aos poucos o país transforma-se e renova-se, atrai investimento, gera trabalho e fica mais atractivo.

Sim, grandes negócios estão a ser feitos em torno da reabilitação em Portugal nestes últimos anos, tal como há 20 anos grandes negócios se faziam em torno de gigantescos centros comerciais, empreendimentos e infraestruturas por todo o país, por isso este espanto generalizado em torno do assunto investimento imobiliário. Neste momento o que falta é a sensibilização dos promotores, dos investidores e dos proprietários para que entendam o valor da manutenção de uma moldura de uma janela em pedra antiga em detrimento de a substituir por uma nova. Esse ainda é o desafio, sem ser necessário cair em fundamentalismos.

O investimento focado para uma gama de luxo que tem acontecido em Portugal, origina obras de reabilitação que têm de acomodar características construtivas e tecnológicas pouco compatíveis com as construções antigas, e que muitas vezes acabam por utilizar o “fachadismo” como atalho.

No entanto, se pensarmos na dinâmica das cidades, terá mais qualidade estética um ambiente urbano com edifícios recuperados e habitados, do que, em contrapartida, estarmos confrontados com edifícios intactos, na sua traça original, mas degradados e/ou abandonados.

A preocupação dos departamentos de urbanismo dos municípios, em particular com os centros históricos, tem permitido que as intervenções sejam balizadas no seu grau de intervenção, factor que contribui para tornar o balanço positivo.

O processo de reabilitação urbana está bem encaminhado, era urgente a requalificação dos nossos centros históricos e o próximo passo será com certeza o compromisso entre a manutenção das principais características dos edifícios e a sua modernização de modo a que se consiga um balanço entre modernidade e património.

Mariana Morgado Pedroso

Arquitecta e Directora Geral do Architect Your Home Portugal

* Texto publicado no Jornal Económico no âmbito da parceria com o Diário Imobiliário