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Opinião
Os profissionais satélite

 

Os profissionais satélite

12 de julho de 2021

Quem anda no imobiliário há uns tempos percebe que este é um sector que acaba por despertar ódios e paixões e atrair todo o tipo de pessoas. Há os consultores imobiliários e as agências, os que têm as licenças AMI próprias e os que criam a sua própria marca. E depois há todos aqueles profissionais que, não estando directamente ligados ao imobiliário, gravitam à sua volta, aproveitando os negócios e as oportunidades. São os profissionais satélite.

Ao contrário da maioria dos fundamentalistas do imobiliário, não me choca nada a existência dos profissionais satélite. E explico porquê. Estes profissionais não estão com os dois pés no imobiliário porque, em primeiro lugar, nem sequer precisam. Embora gostem, naturalmente, do sector, acompanhem as suas notícias e acabem por fazer negócios à conta disso.

Os profissionais satélite são todas aquelas pessoas que têm contacto com o imobiliário, que lucram com este, mas que, em rigor, não fazem negócios imobiliários. São os escritórios de advogados que ajudam o cliente estrangeiro a instalar-se em Portugal e que não têm problemas a recorrer ao sector para verem as necessidades dos seus clientes resolvidas; são as empresas de construção que entregam os empreendimentos para venda; são os Bancos que vendem a fundos imobiliários os imóveis que retiraram a famílias ou a empresas falidas ao desbarato, são os fundos imobiliários que trabalham esta actividade; são todos e quaisquer negócios promovidos por particulares que são feitos à mesa de um restaurante de luxo, num escritório de advogados ou num hotel da capital.

Volto a repetir. Não me choca que este tipo de pessoas, empresas ou entidades acabe também por realizar negócios imobiliários, mesmo que estes sejam, naturalmente, feitos sob a capa de negócios empresariais ou a coberto de fees de serviços prestados. Desde que os impostos sejam pagos e que a legalidade do negócio não esteja em causa, estes profissionais satélite são livres de explorar o mercado tanto como a agência ou o consultor que está só preocupado em vender o apartamento em Almada por 150 mil euros. Como já escrevi no passado, são campeonatos diferentes e dão para todos os players, desde que, reforço, a legalidade não seja posta em causa.

O problema, infelizmente, nestas coisas, é que em muitos casos a legalidade tem dias – todos nós ouvimos notícias de fundos imobiliários de bancos que são vendidos ao preço da chuva e comprados pelo amigo do amigo do administrador do Banco que soube da oportunidade na conversa que teve à mesa do restaurante. E, com sorte, ainda compra estes mesmos activos com dinheiro que o próprio Banco que os tem lhe empresta, sem aval ou quaisquer garantias, porque afinal é o amigo do amigo e é preciso dar esse jeitinho.

À semelhança do T2 em Almada, que pode ser disputado por vários consultores imobiliários e ser alvo de cobiça e de canalhice entre consultores e ou agências, acredito que as notícias de esquemas dos profissionais satélite lançam também a suspeita sobre um sector onde pode-se ganhar muito dinheiro. E isso, como todos sabemos, atrai o melhor e o pior dos dois mundos.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário