Como mudou o nosso mundo... e a nossa forma de projectar – arquitectura à distância vale?
A pandemia veio mudar o mundo em geral, tendo obviamente repercussões ao nível do nosso mercado da arquitectura e construção, mas dado que é uma área que funciona a médio-longo prazo não temos o “embate” imediato de outros sectores e estamos agora a começar a sentir os efeitos destes últimos dois anos. A juntar à pandemia temos a situação da guerra russo-ucraniana que acentuará as dificuldades já sentidas, sobretudo no sector da construção onde a escalada de preços é inevitável.
Contudo o que pretendo reflectir neste artigo prende-se com a forma como projectamos e a relação cliente-arquitecto. É possível esta relação ser feita à distância nas primeiras etapas de projecto (embora uma reunião presencial seja muito mais produtiva em termos comunicativos e criativos), mas a gestão de uma obra dificilmente se consegue desse modo pelo que na nossa profissão nunca se chegou a fazer uma paragem completa do trabalho em curso, apesar de todos os confinamentos. Foi necessário garantir o apoio a quem continuou a construir e auxiliar com respostas à obra, para além de documentar e preparar todos os processos em curso do mesmo modo que fazíamos anteriormente.
Acabámos por criar um serviço online mais interativo que vem complementar, ou substituir se necessário, a nossa habitual presença nas fases iniciais de projecto (no nosso caso era um serviço de que já dispúnhamos mas promovido apenas junto do mercado estrangeiro) mas o que notámos no escritório foi que a presença da equipa no atelier é necessária para a boa qualidade dos projectos – trabalha-se bem em equipa e discutir ideias ou alguém lembrar-se de uma ideia a meio de uma análise de projecto é algo que não se consegue em teletrabalho.
A pandemia trouxe o teletrabalho, uma realidade cujos meios tecnológicos que temos ao nosso dispor permite, mas que até agora nos tem dado algumas dores de cabeça na forma de conseguir adaptar ao trabalho colectivo de uma equipa de projecto de arquitectura que está normalmente trabalha em grande proximidade. Ou seja, o teletrabalho é uma possibilidade muito viável, mas a partilha de ideias e criatividade, o “encontrar soluções” num projecto é algo que se torna muito mais difícil, e por esse motivo não é, no nosso entendimento a forma melhor de trabalhar em arquitectura. Muitas vezes, as ideias para resolver um layout, ou a escolha de uma combinação de acabamentos numa casa, surge da constante passagem de informação entre colegas de uma equipa de projecto, e essa naturalidade e fluidez de processo perde-se por completo com cada um fechado em sua casa, e sentimos que por mais softwares e tecnologias de comunicação à distância, ainda estamos longe de obter a mesma capacidade de relacionamento interpessoal, que a presença física em gabinete proporciona, e consequentemente as boas ideias que daí surgem.
Para nós a arquitectura não é um gesto de uma mão apenas, mas de um trocar de ideias entre os arquitectos de uma equipa e logo vemos uma maior valia no contacto diário para que os projectos sejam mais aprofundados e as soluções passem por várias pessoas até chegarmos a uma ideia bem cimentada.
Espero que a tecnologia continue a evoluir constantemente para conseguirmos tirar partido de melhores ferramentas de partilha que nos aproxime uns dos outros e permita uma comunicação intuitiva e natural, algo que não existe ainda no meu ver com capacidade para gerar a partilha criativa de ideias – embora estejamos claramente muito mais apetrechados de meios que nos permite comunicar em qualquer situação (e que bom que isso é) os actuais meios de vídeo-conferencia não permitem o diálogo eficaz, acaba sempre por ser uma situação de “fala um/ fala outro” para não se perder o fio à meada, e logo torna as conversas muito mais mecânicas do que na vida real, para além que uma folha com desenhos na mesa de reuniões é muitas vezes um bom meio de “riscar” novas ideias com uma caneta ou lápis, e nas vídeo-conferências não todos dominam as ferramentas para riscar no ecrã o que se quer explicar.
Um caminho hibrido entre o presencial e o “a distância” será o nosso futuro a médio prazo.
Mariana Morgado Pedroso
Directora Geral Architect Your Home Portugal