O desenvolvimento sustentável como criador de valor
Enquanto partes ativas deste mundo em crescente desgaste de recursos, quer pela via pessoal, quer envolvidos na nossa atividade profissional, torna-se urgente pensarmos em formas de promover e aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável. Os números urgem a que as ações que tomamos sejam cada vez mais assertivas. Não é possível continuar a adiar. O setor da construção, ao qual a nossa atividade como engenheiros e arquitetos está diretamente ligada, é responsável por 40% das emissões de gases com efeito de estufa.
Hoje, o clima de urgência é visível por todo o setor e a parte positiva é que esta consciencialização generalizada tem resultado na otimização e simplificação dos processos. Nos últimos anos, tem havido um incremento notório dos requisitos que pretendem a implementação de opções de projeto que vão de encontro aos valores do desenvolvimento sustentável. A nível nacional, verificamos a implementação da certificação energética, cada vez mais exigente. Já a nível europeu, contamos agora com diretrizes claras com vista a promover a construção e renovação de edifícios NZEB (Near Zero Emission Buildings). Quer num caso, quer noutro, o cumprimento destes requisitos já não é uma opção.
No Fragmentos, este caminho começou há seis anos e coincidiu com a decisão de juntar à equipa de Arquitetura, uma equipa autónoma de Engenharia. Uma sinergia que não tardou a trazer estas questões para a ordem do dia, com ganhos efetivos a todos os níveis (em projeto, na construção e no desempenho energético). Este é um caminho sem retorno, o de incorporar e engrossar a lista de empresas que promovem o desenvolvimento dos negócios “verdes” e assumir de forma clara a nossa responsabilidade na redução dos impactos negativos inerentes à nossa prática e, ainda, influenciar positivamente os nossos clientes, cada vez também mais conscientes.
Esta forma de trabalhar e de pensar os projetos em conjunto – Arquitetura, Engenharia e Cliente – rapidamente revelou que não basta cumprir objetivamente os parâmetros e estratégias do desenvolvimento sustentável, hoje isto é já um dado quase adquirido, e ainda bem. Um produto final verdadeiramente sustentável vai muito para além da check-list da eficiência hídrica, da eficiência energética e do impacto ambiental, mas é um produto que tem a capacidade de conciliar estes fatores com objetivos económicos e sociais.
Por isso acredito que o conhecimento é uma peça essencial, se não a peça principal em todo este processo. E nesse sentido temos vindo a implementar ações de formação específicas, tendo já nos nossos quadros técnicos formados na área da certificação BREEAM, na certificação AQUA+ Residencial e de Empreendimentos Turísticos, Eficiência Energética em Edifícios, Sistemas Fotovoltaicos, entre outros. Para além destas ações de formação especializadas, é importante reconhecer igualmente o poder de uma democratização destes princípios ao nível do próprio dia-a-dia da empresa. Quer seja pela promoção de hábitos mais conscientes, quer pela participação em iniciativas externas, que permitem a aquisição e partilha de conhecimento que será transportado para o interior do nosso atelier, contribuindo para que o universo Fragmentos responda de forma única a estas questões.
Todo este processo tornou muito claro para nós que a adoção destas práticas tem a capacidade inegável de criar valor em várias frentes que ultrapassam em muito a abordagem mais óbvia da proteção do ambiente e gestão responsável dos recursos naturais. Falamos de uma sustentabilidade em relação à vida das próprias empresas.
Assistimos hoje a uma crescente procura por empreendimentos de elevada eficiência energética, verificando-se que os consumidores estão cada vez mais preocupados com as questões ambientais, e mesmo dispostos a pagar mais por produtos que sejam sustentáveis. Desta forma, ao proporcionarem soluções que atendam a essas demandas, as empresas tornam-se mais atrativas, potenciando o aumento da cota de mercado. Ao nível das decisões de negócio, a incorporação de critérios ambientais e sociais é muitas vezes a chave da redução de riscos e custos a longo prazo, através, por exemplo, da adoção medidas de eficiência energética que permitem reduzir consumos de energia.
E não podemos negar que há aqui um potencial ao nível do marketing e posicionamento estratégico das empresas, sendo que a adoção de práticas sustentáveis conduz a uma melhoria na imagem e reputação. Neste momento, as empresas que não têm estes temas no topo das suas prioridades estão automaticamente fora do campeonato. Os clientes valorizam empresas que são social e ambientalmente responsáveis, e essa perceção positiva tem efeitos diretos na confiança e lealdade dos clientes existentes como também na angariação de novos clientes e investidores.
O desenvolvimento sustentável já deixou há muito de ser uma opção: é um imperativo incontestável para as empresas que desejam permanecer relevantes num mundo cada vez mais consciente das questões ambientais e sociais. Hoje, uma empresa que negligencia a sustentabilidade está automaticamente fora do jogo.
João Paulo Branco
Sócio Engenharia Fragmentos
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico